Aula 02 - Estratégias de uso de Objetos de Aprendizagem


Na aula anterior, abordamos quatro dos cinco principais aspectos que julgamos relevante no trabalho com atividades computacionais em sala de aula (validade de conteúdo, alinhamento com metas de ensino-aprendizagem, design e interatividade). Nesta aula, discutiremos em maior detalhe o quinto aspecto: modos de aplicação.

Talvez a principal questão subjacente ao modo de aplicação dos recursos educacionais, diga respeito a como melhor aproveitar o tempo em sala de aula para promover a aprendizagem dos conteúdos.

Analisando o modo convencional como as aulas de Física costumam ser ministradas em muitas escolas, não é difícil perceber que gasta-se tempo demais, as vezes toda a aula, com o professor transcrevendo o texto de algum livro didático no quadro-negro, incluindo a transcrição de respostas para problemas exemplares que os alunos nem sequer tentam resolver, ou mesmo entendem o que se está perguntando.

Em parte, esse modus operandi se justificava até certo ponto antes da invenção e popularização do material impresso mecanicamente, em que livros e outros materiais escritos eram raros e os poucos existentes, reproduzidos a mão. Monges que passavam a vida inteira fazendo cópias manuscritas de versões da Bíblia católica na idade média, exemplificam esse sistema de reprodução. Em um cenário hipotético desses tempos idos, o professor, detentor dos inacessíveis livros, ditava ou copiava suas informações de modo que cada aluno pudesse ter uma cópia das principais informações contidas neles, garantindo que o tempo da aula era bem aproveitado com a disseminação das informações para posterior estudo.

Com o passar do tempo, impulsionado pela Ciência e tecnologia, o mundo ocidental mudou, e muito! Mesmo essa mudança não tendo sido uniforme e igualitária, as diferenças em termos sócio-econômico, ambiental e cultural se alteraram de forma significativa. Entretanto, o sistema escolar em si, que tem como uma de suas tarefas centrais preparar o cidadão para os desafios da vida em sociedade, não tem acompanhado essas evoluções com a velocidade necessária. Talvez a parte mais vísivel, a ponta do iceberg que melhor caracteriza a inércia do sistema, seja justamente a manutenção do modo tradicional de docência como transmissão de informações.

Nos tempos atuais, vivemos em uma sociedade imersa em uma super abundância informacional. Óbvio que isso não significa sabedoria, mas nunca foi tão fácil obter conhecimento sobre praticamente qualquer coisa. De modo geral, a quase totalidade das informações que o professor apresenta em sala de aula não são informações restritas. Elas podem ser localizadas em livros e outros materiais disponíveis, por exemplo, em bibliotecas ou na internet a qualquer hora, dependendo do interesse dos alunos. Desconsiderando situações de extrema carência em que os alunos não conseguem obter acesso aos matériais educacionais, por diversas razões, a manutenção do papel do professor como reprodutor de informações é claramente um desperdício e um despropósito.

Por todos estes fatores, aproveitar melhor o tempo em sala de aula hoje, passa pela tentativa de ressignificar o papel do professor como um facilitador da aprendizagem. Para isso, o uso de metodologias que incentivem a interação social em sala de aula e abram espaço para a reflexão crítica sobre os conteúdos ensinados  é fundamental. Na sequência apresentamos uma situação-problema relacionada ao uso de OAs no ensino de Física e, posteriormente, dois métodos úteis para o planejamento da dinâmica de sala de aula e de atividades voltadas para a aprendizagem significativa.

Situação-problema (Tarefa 2)

Suponha que você deseje criar atividades de apoio para que seus alunos trabalhem em casa, tendo em vista o aprendizado de um determinado conteúdo de Física. Mais especificamente, atividades envolvendo problemas do tipo conceitual que contenham pequenos vídeos (screencasts) em seu enunciado, mostrando alguma situação física de interesse para a qual o aluno deva fazer uma previsão do que acontecerá em seguida, ver o que de fato acontece e explicar as discrepâncias. Esses vídeos serão gerados a partir da gravação da tela do computador, apresentando alguma simulação computacional sobre o tema de Física escolhido (livre escolha).

Seu desafio consiste em criar pelo menos um screencast e um guia de atividades para o aluno, alinhado com a proposta do método P.O.E. (vide a próxima seção).

Novamente, relembramos que o papel desse guia é orientá-los na realização das atividades, não sendo adequado sua montagem na forma de um roteiro fechado, estilo "receita de bolo", e nem tampouco algo muito geral que facilite o aluno se perder na atividade. Procure o equilíbrio.

Modos de aplicação

Em relação aos modos de aplicação dos OAs, destacamos a importância do incentivo ao trabalho colaborativo entre os estudantes. Na medida do possível, é desejável que os alunos trabalhem em duplas, no máximo trios, por computador, mesmo havendo disponibilidade de uma máquina por aluno. A ideia é favorecer a interação e a discussão entre eles, ampliando as chances das atividades computacionais oportunizarem uma aprendizagem significativa dos conteúdos. Preferencialmente, as tarefas devem ser propostas de modo a motivar uma reflexão crítica sobre a situação física em estudo, evitando perguntas que possam ser respondidas mecanicamente. Uma abordagem que pode favorecer essa reflexão é a chamada P.O.E. (Predizer, Observar e Explicar).

O método P.O.E. tem como objetivo promover a aprendizagem através de conflitos cognitivos. O aprendiz é apresentado à situação-problema para a qual deve tentar predizer o que ocorrerá com um dado sistema quando determinadas condições forem satisfeitas. Em seguida ele observa o que acontece de fato com o sistema (através de uma experiência, simulação ou execução de um vídeo, etc.) e busca explicar qualquer discrepância entre suas predições e os resultados por ele observados.

Esse método pode ser também utilizado para mapear concepções alternativas dos estudantes a respeito de um determinado tema. Como exemplo de aplicação do método, imaginemos uma simulação computacional que mostre a queda dos corpos na lua. Pediríamos ao estudante, antes de executar a simulação, que predissesse qual dos dois corpos, uma pena ou um martelo, chegaria primeiro ao solo se ambos fossem largados de uma mesma altura. Após serem registradas suas predições, pediríamos que executassem a simulação e observassem o que ocorre, explicando quaisquer diferenças percebidas entre suas predições e as observações feitas. No screencast abaixo, mostramos o exemplo de uma tarefa que poderia ser passada aos alunos, para a discussão sobre gráficos da cinemática.

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Uma das maiores dificuldades no desenvolvimento de atividades P.O.E. está na ansiedade que os estudantes ficam em responder “corretamente” a situação, nem que para isso, burlem o método indo para a observação diretamente, sem tentarem predizer o que ocorrerá. Essa dificuldade deve ser levada em conta no planejamento da execução das atividades, sob o risco de torná-las praticamente inúteis.

Outra abordagem que pode ser utilizada como uma alternativa viável às tradicionais aulas expositivas, mesmo sem o uso de OAs digitais, é conhecida como método colaborativo presencial. De modo geral, esse método consiste em distribuir adequadamente o tempo da aula, encurtando a parte puramente expositiva e destinando tempo para o engajamento ativo do aluno em seu próprio aprendizado, promovido pela realização de tarefas avaliadas, desenvolvidas em pequenos grupos. Exemplificando com uma aula de dois períodos (em torno de 90 min), destina-se para a exposição inicial dos conteúdos de 25 a 30 min, cujo objetivo é permitir ao docente dar uma visão geral do conteúdo a ser trabalho e explicitar os conceitos-chave em pauta. Em seguida, os alunos recebem tarefas a serem desenvolvidas em sala de aula e recolhidas ao final dos períodos, constituindo parte da avaliação. Durante a realização destas tarefas o professor deve procurar interagir intensamente com os alunos e esses, por sua vez, devem ser estimulados a interagirem entre si.

Além da interação social entre professor-aluno, a interação entre os próprios alunos mostra-se vital para fins de aprendizagem. Muitas vezes durante um episódio de ensino, o professor pode encontrar dificuldades em expressar os conceitos de forma compreensível para os alunos e o diálogo entre eles pode permitir que, sob a supervisão do professor, aqueles que começaram a captar os significados socialmente aceitos, possam explicar para os colegas numa linguagem mais acessível, como eles compreenderam. Isso oportuniza também a verificação, por parte do professor, de como os alunos estão internalizando os conceitos.


Ferramentas

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Contruindo vídeo-tutoriais (Wink)

Capturando imagens e gerando vídeos a partir da tela do computador (Jing)


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