A Física das demonstrações

        Neste artigo faço um relato do primeiro encontro com o coordenador pedagógico da escola onde termino meu estágio. No primeiro diálogo com o professor Murici (coordenador dos estagiários), tive uma boa impressão, pois ele havia pedido para que as minhas aulas tivessem ênfase experimental.

        Isso me agradou muito, pois minhas aulas estavam preparadas em cima de demonstrações e outras atividades que citarei no próximo artigo.

        Um relato que gostaria de fazer é sobre a aplicação de um teste de concepções de termologia, que de certa forma provocou um certo clima na turma, pois eles, como de hábito, pensam quase que exclusivamente na nota e, no momento que perceberam que o teste era sobre algo que ainda não haviam aprendido, a reação foi mais intensa!

        Curioso, mas previsível, pois o pensamento dos alunos nas escolas é sempre o mesmo: a preocupação com a NOTA. Mas consegui contornar a situação, solicitando que, durante o período em que estaria com eles, não perguntassem sobre notas e pontos de cada avaliação feita. O interessante é que parece que funcionou!

        Todo professor de física sabe que na maioria das vezes não se dispõe de um laboratório ou equipamento para experiências ou demonstrações, mas, no meu caso, tive a sorte de encontrar um laboratório muito rico, embora estivesse em fase de organização.

        Usando em parte equipamentos do laboratório e materiais do dia-a-dia do aluno, demonstrei os três processos de propagação do calor. O que ficou marcante foi uma das demonstrações, a convecção térmica, que descreverei mais abaixo.

1a DEMOSTRAÇÃO: CONDUÇÃO TÉRMICA

        Em uma barra de metal (Fig.1), colei nela, com cera de vela,alguns pequenos botões (Fig. 2), como nas imagens abaixo.

Fig.1                                Fig.2

        À medida que o tempo passa e o calor se propaga no metal, cai um botão por vez (Fig 3, 4, 5), mostrando que o calor se propaga da extremidade onde a temperatura é mais alta para a extremidade de temperatura mais baixa.

Fig.3                                        Fig.4                                        Fig.5

2a DEMOSTRAÇÃO: CONVECÇÃO TÉRMICA

        Recorta-se o fundo de uma garrafa pet. Coloca-se uma vela em um prato e um pouco de água para evitar a entrada de ar por baixo durante as experiências (Fig. 6).

Fig.6

        Esta demonstração é importante porque, no momento em que o professor pergunta aos seus alunos, se a vela acesa nas condições mostradas na figura, fica acesa ou se apaga, os alunos são unânimes em responder que a vela permanece acesa, pois a parte superior está aberta. Mas, decorrido um certo tempo, a vela se apaga, o que causa um choque para os alunos que pensavam que ela só apagaria se a parte superior estivesse fechada, alegando que o oxigênio teria sido consumido.

        Então, o professor recorta um papel em forma de "T" (Fig. 7) e insere na boca da garrafa e repete a demonstração, perguntando se isso muda o resultado anterior (Fig. 8).

Fig.7                                        Fig.8

        O que impressiona é que a vela não apaga, e o professor pode chamar os alunos para observar que no momento em que ele coloca seu dedo em um dos lados, parece estar muito quente e do outro frio. Para mostrar a resposta, o professor pode usar uma segunda vela, que é aproximada de uma das saídas logo depois de apagadas. Os alunos notarão que, em uma das saídas, a fumaça será puxada para dentro enquanto que do outro lado ela não entra.

        A partir deste instante o professor pode introduzir o conceito de correntes de convecção.

3a DEMOSTRAÇÃO: RADIAÇÃO TÉRMICA

        Usando uma lâmpada incandescente ligada a uma fonte variável, o professor pode mostrar a radiação térmica emitida pela lâmpada, mesmo sem brilho, aproximando a mão. Se o professor dispor de uma câmera que capta radiação infravermelha ele pode ajustar a fonte para que a corrente que passe pelo filamento provoque aquecimento emitindo infravermelho, mas sem brilho, e com a câmera ele pode mostrar que esta radiação não é visível ao olho humano.

        Na minha opinião a física pode ser muito mais atraente se o professor tiver vontade de fazer demonstrações simples e que facilitem a compreensão do conteúdo pois, na maioria das vezes, o aluno é obrigado a acreditar nos fenômenos sem enxergá-los.

Giovane Irribarem de Mello


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