Participar da Administração da Escola

        Hoje, solicita-se realmente aos professore que participem da administração da escola? Aliás, terão eles esse desejo? Poderia parecer "lógico" ter respostas claras a essas perguntas, antes de considerar como indispensáveis os quatro componentes escolhidos pelo referencial aqui adotado:
        - elaborar, negociar um projeto da instituição;
        - administrar os recursos da escola;
        - coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros (serviços paraescolares, bairro, associações de pais, professores de língua e de cultura de origem);
        - organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos alunos.

        1. Elaborar, negociar um projeto da instituição

        O desafio da educação escolar é, ao contrário, proporcionar a todos os meios para conceber e fazer projetos, sem fazer disso um pré-requisito.

        Certamente, os professores são adultos instruídos, muitas vezes oriundo da classe média ou alta. Em sua vida pessoal, familiar e profissional, um professor é capaz, em geral, de formar e de conduzir projetos.

        Por que as mesmas pessoas, que trabalham na mesma instituição, não poderiam, da mesma forma, envolver-se em um projeto comum?

        Fora do mundo do trabalho, formar e conduzir projetos é uma manifestação de liberdade. Os sistemas escolares propõem acrescentar uma "roupagem de projeto" a um funcionamento organizacional que poderia passar sem isto? Os defensores dos projetos da instituição justificam-nos, em geral, por meio de um triplo registro:
        - a gestão ótima dos serviços públicos exige uma autonomia crescente dos serviços e dos funcionários, principalmente das escolas e dos professores, para responder melhor à diversidade das situações e das dinâmicas locais, ao mesmo tempo faz economia;
        - a profissionalização do ofício de professor, o aumento desejável da autonomia individual e coletiva dos professores, em nome de sua dignidade, de sua competência e de sua responsabilidade;
        - a necessidade de dar mais sentido ao ofício e à mudança, de conciliar melhor valores pessoais e mandato.

        Imaginemos que o acaso repartisse os eleitores entre os partidos políticos. Como se poderia esperar que esses grupos díspares definissem um projeto coerente?

        Um projeto da instituição não é "político" da mesma maneira que o projeto de um partido. Entretanto, ele também exige uma certa proximidade dos pontos de vista. Ninguém pensaria em pedir às pessoas que partilham o trajeto em um elevador ou em um avião que tivessem um projeto comum. É preciso que ocorra uma catástrofe para que elas se constituam em ator coletivo.

        Favorecer o desenvolvimento e a sobrevivência de um projeto da instituição exige dos atores que tenham competências fora do comum:
        - perceber a ambigüidade desse procedimento, a tensão entre projeto e mandato, a realidade e os limites da autonomia, aceitá-los, mantendo o senso crítico, jogar com essas imposições sem se deixar cair na armadilha;
        - construir uma estratégia coletiva a partir de um conjunto de pessoas que não se escolheram e que só têm em comum, a priori, o que diz respeito ao exercício do mesmo trabalho na mesma organização, isto é, poucas coisas em um ofício do ser humano, em que é imensa a parcela dos valores, das crenças, das relações, da afetividade e, portanto, da subjetividade.

        Os projetos da instituição que perduram revelam, em geral, a presença dessas duas competências. Não há dúvida de que a gênese de um projeto se deve, em parte, à conjunturas ou à contextos favoráveis, por exemplo:
        - uma área de atividade que obrigue a se inserir em um projeto para enfrentar a realidade dos alunos, das famílias, do bairro;
        - uma política institucional que garanta uma certa homogeneidade do corpo docente em termos de visão pedagógica, de concepção do ofício, de relação com o trabalho, de tempo de cooperação, dos alunos, dos pais, da avaliação;
        - um diretor que aproveite as oportunidades para criar uma dinâmica coletiva e funcione como um líder cooperativo, um mediador, uma garantidor da lei e da eqüidade;
        - parceiros externos (associações de pais, empregadores, poderes locais) que esperem da instituição uma grande coerência e uma certa parceira.

        2. Administrar os recursos da escola.

        Atualmente, aceita-se com facilidade a idéia de um fundo escolar destinado a financiar certas despesas não-padronizadas: documentação, fotocópias, festas, excursões, equipamentos informáticos ou de vídeo.

        Quando uma escola não pode escolher sua disposição interna, sua decoração, seu mobiliário, seus equipamentos tecnológicos, os meios de trabalho oferecidos aos alunos (canetas, cadernos, livros, etc.), de que lhe adianta administrar um orçamento?

        Nas administrações escolares, ainda se vive freqüentemente na desconfiança, com a idéia de que, entregues a si mesmos, os professores "comprariam qualquer coisa", desperdiçariam o dinheiro público e voltariam-se para o Estado para cobrir seus déficits.

        Administrar os recursos de uma escola é fazer escolhas, ou seja, é tomar decisões coletivamente. Na ausência de projeto comum, uma coletividade utiliza os recursos que tem, esforçando-se, sobretudo, para preservar uma certa eqüidade na repartição dos recursos. Por essa razão, se não for posta a serviço de um projeto que proponha prioridades, a administração descentralizada dos recursos pode, sem benefício visível, criar tensões difíceis de vivenciar, com sentimentos de arbitrariedade ou de injustiça pouco propícios à cooperação.

        3. Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros.

        Muitos professores têm um grande senso de organização quando trabalham sozinhos ou com um ou dois colegas mais próximos. Em maior escala, uma verdadeira competência de organização passa a ser necessária, porque a cumplicidade implícita não basta mais, uma vez que é preciso discutir, ouvir diversas propostas e decidir. Reencontramos aqui as competências requeridas pelo trabalho em equipe, mas em um nível mais elementar, aquelas que se espera agora também do professor mais individualista. As novas tecnologias, os procedimentos de projeto, a compra coletiva de recursos de ensino ou de equipamentos, a gestão de percursos diversificados, de dispositivos de apoio ou de atividades abertas, a coerência mínima na interpretação do programa e na avaliação, o acordo com os pais e a autoridade escolar demandam formas de coordenação mais exigentes do que há 10 ou 20 anos, portanto, novas competências que, por não serem muito precisas, ultrapassam o mero bem senso.

        4. Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos alunos.

        A participação dos alunos justifica-se, com efeito, por um duplo ponto de vista:
        - é o exercício de um direito do ser humano, o direito de participar, assim que tiver condições para isso, das decisões que lhe dizem respeito, direito da criança e do adolescente, antes de ser direito do adulto;
        - é uma forma de educação para a cidadania, pela prática.

        Como os alunos poderiam compreender que lhes é oferecida uma divisão de poder sobre questões que concernem ao estabelecimento, se isso lhes é recusado na organização da vida cotidiana e do trabalho em aula?

        É por essa razão que a participação dos alunos remete a dois outros níveis sistêmicos:
        - a capacidade do sistema educacional de dar mais estabelecimentos e às equipes pedagógicas uma verdadeira autonomia de gestão;
        - a capacidade dos professores de não monopolizarem esse poder delegado e de partilhá-lo, por sua vez, com seus alunos.

        Com efeito, a existência de graus anuais e de classes estáveis limita muito a necessidade de participação da administração da escola. Em um imóvel, uma vez que cada morador se fecha dentro de seu apartamento, a administração coletiva pode limitar-se aos espaços comuns, marginais em relação ao "da sua casa" de cada um.

        Uma nova organização do trabalho, pela introdução, por exemplo, de ciclos de aprendizagem, modifica o equilíbrio entre responsabilidades individuais e responsabilidades coletivas e tornam necessários não somente um trabalho em equipe, mas também uma cooperação da totalidade do estabelecimento, de preferência baseada em um projeto.

Carolina Abs


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