O desafio da avaliação

        Esta semana, quando iniciamos esta coletânea de textos produzidos na disciplina de prática de ensino, gostaria de falar um pouco sobre a minha experiência no Programa de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos Trabalhadores – PEFJAT, desta universidade.

        O PEFJAT é um programa que pretende ser um espaço de discussão de práticas pedagógicas e foi onde, como bolsista há 2 anos, tive que rever meus conceitos em relação à avaliação de alunos.

        As turmas com que trabalhei, no máximo 2 por semestre, tinham, em média 25 alunos, entre 20 e 60 anos, com até a 5a série do ensino fundamental e uma enorme diversidade de experiências de vida.

        No PEFJAT, não nos valemos de provas e atribuições de notas ou conceitos como únicos meios avaliativos. Também não temos um currículo fixo pré-definido mas buscamos a consciência de que o ensino não deve ter um caráter enciclopédico e sim a finalidade de ajudar na construção de cidadania de cada aluno. Era, portanto, um desafio pensar fora da lógica categorizadora em que tive toda minha formação.

        A questão era, que física iria eu trabalhar com eles e que seria relevante para aquela maioria de adultos. E de que forma seriam feitas as avaliações.

        Outro desafio era, e ainda é, o de aceitar a não linearidade do conhecimento e estar sempre pronta para mudar o rumo dos trabalhos em sala de aula e de estabelecer relações entre eles. Mais do que isto, fazer com que os alunos percebam as relações existentes, mesmo que não sejam trabalhados da forma tradicionalmente linear da escola e ainda sem prejuízo para a aprendizagem.

        Mas para isto é preciso ter claro quais são nossos critérios, ou seja, saber quais são os objetivos em cada aula e no projeto de aulas como um todo. É com base nestes critérios, construídos e discutidos com os alunos, que é possível definir instrumentos de avaliação, que são mediadores e não finalidade do processo de ensino-aprendizagem.

        Um instrumento que utilizei para observar as relações feitas pelos alunos foi a construção de mapas conceituais juntamente com eles. Este recurso era também utilizado como instrumento de avaliação porque uma das coisas que considerava importante era a capacidade do aluno de estabelecer relações, conectar os assuntos trabalhados em aula e ampliar seus conceitos para outras situações.

        O que aprendi, e venho aprendendo, ao longo destes semestres é que a escolha inicial dos assuntos abordados, a forma de trabalhá-los e a avaliação da aprendizagem estão íntima e indissociavelmente relacionadas.

        Penso que a avaliação começa no primeiro dia de aula e estende-se ao longo do período letivo, em todas as aulas, através das conversas individuais que temos com os alunos, do que percebemos de suas interações com os demais, de suas produções textuais, dos questionamentos feitos em aula, ou fora dela, e levando em conta sempre os aspectos individuais de cada aluno. E, até, com provas tradicionais, se for o caso.

        No PEFJAT não somos contra provas, de forma alguma, mas que este não seja o único e mais importante instrumento de avaliação, deve apenas fazer parte do processo, afinal, é papel da escola prepará-los para isto também. O erro é fazer da prova um momento único e de simples verificação de conteúdos isolados.

        A avaliação, portanto, deve ser para além da verificação dos conteúdos estudados em aula, deve ter um caráter mais global e levar em conta o histórico de cada aluno. É preciso que o professor conheça seu aluno se pretende avaliá-lo.

        Reconheço que conhecer cada aluno é uma tarefa difícil na realidade da maioria das escolas brasileiras, devido ao número de alunos atendidos por professor, mas não podemos deixar de tentar conhecê-los por causa disto. Este é mais um dos desafios diários do professor e não podemos ser omissos.

        Devemos também fugir da ilusão de que uma avaliação "justa" é aquela onde não há interferência subjetiva do professor, pois é impossível avaliar de outra forma. A avaliação faz parte do processo de educação, que é uma atividade humana, portanto subjetiva.

        A avaliação não é um tópico a ser trabalhado, discutido no final do período letivo, ou em épocas pré-definidas do mesmo, mas um assunto que deve estar presente desde o início dos trabalhos e seus critérios devem ser construídos juntamente com os alunos.

Katemari Rosa


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