A Difícil Arte de Ensinar

        Aquele professor não tem didática! Esta frase é constante entre os alunos secundaristas e também universitários quando comentam sobre a aula de algum professor que pode até ser um excelente pesquisador e que com certeza tem domínio de alguma disciplina mas que não consegue fazer uma ponte entre o que sabe e o aluno. Isto é comum e mostra realmente que para ser um bom professor não basta apenas saber, tem que saber ensinar, o que envolve outros requisitos além de um conhecimento profundo do conteúdo.

        O ensinar não envolve apenas as práticas que o professor possui, mas também as maneiras pelas quais ele irá dispor desses conhecimentos em sala de aula. A tão comentada didática, já vem desde os tempos imemoriais dos gregos1 e significa um modo de facilitar o ensino e a aprendizagem do aluno de modos e de condutas desejáveis. Isso requer um determinado esforço por parte do educador, uma prática pedagógica bem construída, planejamento de suas aulas levando em consideração as necessidades do aluno e seus conhecimentos prévios. A preparação de quem deseja ensinar envolve conhecimentos teóricos, não apenas de física, mas também de teorias de aprendizagem, epistemologia, história e filosofia da ciência que contribuem claramente para desenvolver uma capacidade mais profunda e crítica2. Além disso, o professor não deve fazer de sua prática educacional um ato burocrático, que apenas ensina o que está nos livros, ou no currículo por ele desenvolvido, simplesmente despejando conteúdo na cabeça dos alunos, tratando-os como baldes mentais (teoria do balde mental de Popper), sem ter uma preocupação real se de fato a aprendizagem está sendo construída.

        Como pode-se perceber, são muitos os requisitos que fazem a diferença entre o professor que sabe e o que sabe ensinar. Infelizmente, hoje criou-se a imagem de que qualquer um pode ensinar, basta se munir de um Bonjorno e a aula de física está garantida, o que vem banalizar muito o ensino de física nas escolas. Há pouco tempo (2 ou 3 meses atrás), a região do Vale dos Sinos abriu inscrições para contrato emergencial onde, devido à grande dificuldade de se encontrar professores de física, estavam requisitando até mesmo alunos de primeiro semestre, isso quando não são contratados profissionais de outras áreas como engenharia e biologia.

        Reafirmando o que disse anteriormente, a formação de um educador não requer somente as aprendizagens cognitivas sobre os diversos campos do conhecimento, que sem dúvida é importante (porque deve-se saber para ensinar), mas também deve haver uma preparação filosófica, científica, técnica e até afetiva para o ofício de ensinar. Conhecer a história da ciência torna o ensino de física mais rico e fascinante, apresentando-a como uma ciência viva, como construção humana; conhecer um pouco mais sobre a história dos grandes cientistas ajuda a motivar os alunos para o aprendizado, aguçando o seu interesse e a sua curiosidade, mostrando-lhes que os conhecimentos não são definitivos e que ainda há muito o que se fazer e descobrir.

        Os conhecimentos epistemológicos auxiliam o professor a detectar dificuldades e obstáculos que estejam impedindo a aprendizagem do aluno. As dificuldades são diferentes de obstáculo, enquanto a primeira é técnica (não saber usar alguma ferramenta matemática, por exemplo), a segunda por sua vez já se trata daquelas concepções que os alunos trazem (as chamadas concepções alternativas), que não lhes permitem apreender o significado correto de alguma teoria física. Neste sentido, conhecer os filósofos da ciência contemporâneos3 pode ajudar e inspirar o professor a encontrar estratégias didáticas que auxiliem o aluno a fazer a mudança conceitual, o que não se consegue apenas com aulas expositivas no quadro-negro e simples deduções de fórmulas.

        E, apesar de tudo isso que tenho colocado, é importante salientar que um educador nunca estará definitivamente pronto, formado, pois a sua preparação e maturação se fará no dia-a-dia, na reflexão constante da sua prática.

Elisandra Souza de Oliveira


Índice        Anterior        Próximo

Referências:

1- Luckesi, Cipriano C. –O papel da didática na formação do educador - UFBa (extraído do livro A didática em questão, 1986

2- Matheus, Michael R. – Caderno Catarinense de Ensino de Física, 1995

3- Ostermann, Fernanda – História e Filosofia da Ciência no Ensino de Física, UFRGS