No circo do ensino quem é palhaço?

Diálogo em sala de aula

        Muitas vezes a sala de aula acaba se tornando um verdadeiro palco. Isso exige que o professor tenha claro em sua mente seus objetivos para que o ato de ensinar não se torne um simples teatro. Pode ser que o fato tenha emergido devido ao rumo que tomou a educação no Brasil. Como condenar alguns professores que se transformam em verdadeiros atores se o ensino em nosso país muitas vezes é uma comédia, outras vezes é um drama ou uma tragédia, sendo sobretudo uma aventura.

        É importante que quem almeje atuar na "protagonização" do ensino tenha claro em sua mente que o ensino está sobretudo fundamentado na palavra. Assim sendo, é fundamental que o diálogo em sala de aula se faça sempre presente. Podemos notar o grande empobrecimento dos livros didáticos que, com o passar dos anos, que cada vez mais apelam para figuras e procuram abandonar os textos. Essa atitude, além empobrecer o material, acaba tornando os alunos "ociosos" e de certa forma prepotentes ao passo que quando tenta-se explicar algo com algum artifício mais elaborado eles protestam imediatamente exigindo uma explicação pobre e simplória.

        Gostaria de expor nesta reflexão como a maneira pela qual o professor se expressa pode criar situações completamente ridículas tanto para o professor quanto para o aluno. Em uma certa escola passou a ser discutido um problema. A escola gostaria que os alunos desde a quarta série começassem a escrever. A direção solicitou então à professora de língua portuguesa que desse início ao trabalho. A professora explicou à direção que não sabia como fazer isso. Foi dito então à professora que encontrasse qualquer forma de fazer isso, aquela que ela considerasse mais conveniente. A professora então entrou em sua sala de aula e disse a seus alunos : - Façam uma redação para a próxima aula com o seguinte título, "Mãe só tem uma". Imediatamente Hugo levantou de sua carteira e disse: - Não entendi. A professora então explicou: - É simples você tem de contar uma história e o título da história tem de ser "Mãe só tem uma". A professora escolhera este tema pois se aproximava a data do dia das mães e achou que teria textos muito bons.

        Na outra aula os alunos trouxeram seus textos. E ela foi ao café da escola para corrigí-los. O primeiro texto era de Ana Beatriz e falava de como sua mãe viúva a criara com bravura frente a falta do pai. A professora adorou o texto apesar de alguns erros gramaticais e Ana tirou nota 8. O segundo texto era de Felipe e falava de como, apesar da rigidez de sua mãe, ela o amava. E assim a professora passava texto por texto e lia história sobre a mãe de cada aluno. Até que de repente encontrou a redação de Hugo que começava assim: Mãe só tem uma (título). "Estavamos num xurrasco na caza do meu tio. O xurrasco esta muito bom. Toda a minha família estava lá...". E assim ele falou de tudo que aconteceu naquele dia, naquele churrasco. A professora estava apavorada, o texto nada tinha a ver com o tema que ela deu. Quando se aproximou do final do texto deu uma grande risada e esse texto lhe fez refletir muito sobre o diálogo em sala de aula. O texto acabou assim: O dia foi muito legal. Brinquei com meus primos e comi muita torta. Quando serviram a torta minha mãe disse para mim ir na geladeira e buscar duas Cocas. E eu disse: - Mãe só tem uma.

        Apesar de parecer meio simplória considero que esta historinha mostra bem como as vezes as coisas parecem absurdas para os dois lados. Tão "absurdo" para a professora quanto o texto que Hugo escreveu foi o fato de ela não poder dar nota zero ao seu texto por ter fugido do tema. Pois Hugo tinha feito exatamente o que ela pediu contado uma história cujo o título era o que ela deu. Só então a professora se deu conta que não tinha explicado aos seus alunos como devia ser a redação, que o texto tinha que ser desenvolvido de acordo com o tema. Quantas vezes não vivemos isso em sala de aula por tentarmos ser simplórios e economizar palavras, ou mesmo por usarmos as palavras erradas? Quem será que merecia zero nesta história? A diretora que não orientou como a professora devia fazer o trabalho. A professora que não explicou direito como o trabalho devia ser feito. Ou Hugo que no fim de todo um processo imperfeito fez exatamente o que lhe fora pedido. Em nossas escolas centenas de Hugos tiram muitos zeros por diálogos e processos imperfeitos. VALE A PENA PENSAR NISSO!!!!

Diego Boschetti


Índice        Anterior        Próximo