"Ninguém pode observar e conceituar todas as facetas do ofício de professor, conceber com a mesma precisão e a mesma pertinência todas as competências correspondentes"...

        Sempre que se propõe uma pedagogia nova visando informar novas tendências na abordagem do ensino efetivo, percebe-se que o debate decorre sobre um único referencial, obrigando a cada professor formalizar suas idéias.

        As dez novas competências para ensinar de Philippe Perrenoud mostra que para se ter uma unidade ou um consenso, na instituição escolar, muito antes de se trabalhar num referencial teórico, é necessário avaliar uma lista ou uma linguagem de competências tanto para os alunos quanto para os professores.

        Neste trabalho, o autor expõe sucessivamente as 10 famílias de competências, cujo título relembro:
        Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
        Administrar a progressão das aprendizagens.
        Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
        Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.
        Trabalhar em equipe.
        Participar da administração da escola.
        Informar e envolver os pais.
        Utilizar novas tecnologias.
        Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
        Administrar sua própria formação contínua.

        O seu trabalho baseia-se num referencial genebrino, mas por si só, este ilustra um procedimento que poderá ser utilizado na construção de um plano de formação inicial de professores, extraindo-se os elementos associados à realidade de cada escola. Este trabalho sugere também uma inovação ao aprofundar a abordagem em uma pedagogia diferenciada, na qual, retrata as situações problema e a gestão das progressões nos ciclos de aprendizagens.

        Ele ressalta a importância do debate e de se trazer à tona uma prática reflexiva, na qual o ofício de mestre torna-se cada vez mais integral, simultaneamente autônoma e responsável mudando-se as práticas tradicionais.

        Ele coloca de forma clara que existem diferenças entre as práticas tradicionais e a prática reflexiva através de um artigo em que discute-se a avaliação do ponto de vista da especialização tradicional e a especialização nova.

        O seu trabalho concentra-se no personagem principal do processo. Dentre todos os personagens que integram uma instituição educacional, o professor fica com o papel principal. Cabe-lhe a tarefa crucial de se apresentar várias horas por dia perante uma ou mais platéias heterogêneas e nada fácil de cativar. Por isto, ele encerra seus comentários colocando a questão da profissionalização para enfrentar o oficio de mestre, ressaltando que a profissionalização é uma transformação estrutural que ninguém pode dominar sozinho, tratando-se de uma aventura coletiva, com a participação de cada professor envolvido no processo educacional. A profissionalização não avançará se não for deliberadamente estimulada por políticas concertadas que digam respeito à formação dos professores e investimentos em projetos.

        Para finalizar ele lista alguns ítens que contribuirão na evolução do ofício no sentido da profissionalização:
        - centrar-se nas competências a serem desenvolvidas nos alunos e nas mais fecundas situações de aprendizagem;
        - diferenciar seu ensino e praticar uma avaliação formativa para lutar ativamente contra a reprovação;
        - desenvolver uma pedagogia ativa e cooperativa fundamentada em projetos;
        - entregar-se a uma ética explícita da relação pedagógica e ater-se a ela;
        - continuar sua formação, continuar a ler e a participar das manifestações e reflexões pedagógicas;
        - questionar-se, refletindo sobre sua prática, individualmente ou em grupo;
        - participar na formação inicial dos futuros professores;
        - trabalhar em equipe,
        - relatar o que se faz, cooperar com os colegas;
        - inserir-se em um projeto de instituição ou uma rede;
        - engajar-se nos procedimentos de inovação individuais ou coletivos.

Sandro Lima