Boletim [016/2005]

O que é o nível IA do CNPq? (por Marcia Barbosa e Jeferson Arenzon)

Prezado Prof. Camargo

Recentemente o CNPq lançou o Programa Institutos do Milênio, o qual destina-se, segundo palavras do próprio CNPq, a "promover a formação de redes de pesquisa em todo o território nacional em busca da excelência científica e tecnológica em qualquer área do conhecimento, assim como em áreas priorizadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia".

Como forma de garantir que um programa de tamanha excelência contasse com uma coordenação compatível com excelência, ou seja, pesquisa de ponta, o CNPq requer que o coordenador tenha "perfil de 1A".

Mas, qual é o perfil de um pesquisador 1A? Para responder a esta pergunta, em março deste ano reunimos dados de pesquisadores da área de física com bolsa de produtividade em pesquisa. Utilizamos como padrão de medida o mesmo usado pelo CA da física em sua última reunião e o usado pelo CA de economia (vide página http://www.cnpq.br/sobrecnpq/instanciasdecisorias/ca/ca-ce.htm ) qual seja o número de artigos e número de estudantes orientados.

O estudo estatístico detalhado encontra-se na página ( http://www.if.ufrgs.br/~arenzon/bolsa/ ) e a distribuição do número de artigos para os diferentes níveis encontra-se em anexo. Cabe ressaltar que este estudo baseia-se em dados de março, portanto pequenas alterações podem ter ocorrido. Além disso, somente fizemos uma análise quantitativa dos artigos.

De qualquer forma, o resultado mais surpreendente é que se levarmos em conta publicações e orientações, não existe um perfil definido de 1A na área de física. Ainda mais chocante é o fato da produtividade feminina no nível 1B ser altíssima o que caracteriza o efeito internacionalmente conhecido como "glass ceiling".

Outro resultado interessante é o aumento da produtividade do nordeste o que significa que a política de ação afirmativa com relação à região tem surtido efeitos.

Por fim, gostaríamos também de destacar a alta produtividade dos pesquisadores no nível 2, levemente inferior no número total de artigos, mas bastante acima na média de publicações anuais. Este resultado demonstra a alta qualidade destes pesquisadores, o que justificaria a extensão da grant para todos os níveis.

Em resumo, esta carta tem por objetivo chamar a atenção de que para o bom desenvolvimento e avaliação de políticas científicas é imprenscindível termos disponíveis estatísticas. Obviamente as estatísticas não substituem os comitês acessores ou as diretorias, mas dão subsídios preciosos para determinar o que fazer e avaliar os resultados positivos de políticas públicas.

Neste sentido, solicitamos que o CNPq passe a realizar e publicar estatísticas nos moldes das que realizamos para todas as áreas. Elas serão um instrumento importante de auto avaliação para o CNPq, para as instituições e para os pesquisadores.


cordialmente


Marcia Barbosa e Jeferson Arenzon
Instituto de Física, UFRGS

PS: Obviamente não se define um pesquisador 1A somente pelos critérios de números de artigos e doutores formados, mas esses são critários importantes e devem ser concomitantes com qualquer outro. Alám disso, se estes não são suficientes, o que mais é? O comitê sabe? Se sabe, quais são?