Mapas conceituais como instrumentos de avaliação
Outra
possibilidade de uso dos mapas conceituais está na avaliação da aprendizagem.
Avaliação não com o objetivo de testar conhecimento e dar uma nota ao aluno,
a fim de classificá-lo de alguma maneira, mas no sentido de obter informações
sobre o tipo de estrutura que o aluno vê para um dado conjunto de conceitos.
para isso, se pode solicitar ao aluno que construa o mapa ou este pode ser
obtido indiretamente através de suas respostas a testes escritos entrevistas
orais. na figura A1 são representados exemplos de mapas conceituais
construídos a partir de entrevistas (Moreira e Novak, 1987).
Portanto, o
uso de mapas conceituais como instrumentos de avaliação implica uma postura
que, para muitos, difere da usual. Na avaliação através de mapas conceituais
a principal idéia é a de avaliar o que o aluno sabe em termos conceituais,
isto é, como ele estrutura, hierarquiza, diferencia, relaciona, discrimina,
integra, conceitos de uma determinada unidade de estudo, tópico, disciplina,
etc..
Aquilo que o
aluno já sabe, isto é, seu conhecimento prévio, parece ser o fator isolado
que mais influencia a aprendizagem subseqüente (Ausubel, 1978, 1980). Se assim
for, se torna extremamente importante para a instrução avaliar, da melhor
maneira possível, esse conhecimento. Os mapas conceituais se constituem em uma
visualização de conceitos e relações hierárquicas entre conceitos que pode
ser muito útil, para o professor e para o aluno, como uma maneira de
exteriorizar o que o aluno já sabe. Obviamente, não se trata de uma
representação precisa e completa do conhecimento prévio do aluno, mas sim,
provavelmente, de uma boa aproximação.
Se
entendermos a estrutura cognitiva de um indivíduo, em uma certa área de
conhecimento, como o conteúdo e organização conceitual de suas idéias nessa
área, mapas conceituais podem ser usados como instrumentos para representar a
estrutura cognitiva do aprendiz.
Assim sendo,
os mapas conceituais serão úteis não só como auxiliares na determinação do
conhecimento prévio do aluno (ou seja, antes da instrução), mas também para
investigar mudanças em sua estrutura cognitiva durante a instrução. Dessa
forma se obtém, inclusive, informações que podem servir de realimentação
para a instrução e para o currículo.
As figuras 7
a 13 são exemplos de mapas conceituais construídos por estudantes de
engenharia, em uma disciplina de Eletricidade e Magnetismo, com a finalidade de
proporcionar informações sobre a evolução da estrutura cognitiva desses
estudantes ao longo do curso.
As figuras 7
e 8, por exemplo, foram obtidas em um estudo (Moreira, 1977) no qual o mesmo
conteúdo foi abordado segundo diferentes enfoques, um baseado na teoria de
Ausubel 4 e o outro o tradicionalmente encontrado nos livros de texto, a
diferentes grupos de estudantes. A figura 7 mostra mapas de um aluno que estudou
o conteúdo de Eletricidade e Magnetismo de acordo com o enfoque ausubeliano,
enquanto a figura 8 apresenta os mapas de um aluno que estudos o mesmo conteúdo
segundo a organização convencional. Ambas figuras são representativas dos
tipos de mapas traçados por alunos que estudaram esse conteúdo segundo uma ou
outra abordagem:
"Comparando tais figuras, poder-se-ia argumentar que os mapas da figura 7 sugerem uma tendência gradual em direção a uma hierarquia vertical na qual os conceitos mais gerais estão no topo e os mais específicos na base. Esta tendência, que parece não haver na figura 8, pode ser explicada pelo fato de que mapas conceituais com o mesmo tipo de hierarquia foram usados como recursos instrucionais na abordagem ausubeliana e não o foram na abordagem convencional. Esta diferença, portanto, pode apenas refletir uma influência dos materiais instrucionais sobre a estrutura cognitiva dos alunos. Isso significa que tal diferença não implica que os mapas da figura 7 sejam necessariamente melhores que os da figura 8. Por outro lado,considerando as regras que os alunos deveriam seguir, se pode observar muitas diferenças entre as figuras 7 e 8. Por exemplo, no último mapa da figura 7 os conceitos mais gerais são campo eletromagnético e força eletromagnética, enquanto que no mapa correspondente na figura 8 força eletromagnética é considerado um conceito específico e os conceitos gerais são carga elétrica e corrente elétrica. também neste caso não se pode dizer que um aluno está certo e o outro errado, contudo, esse tipo de diferença pode estar sugerindo diferentes maneiras de organizar o conteúdo cognitivo em uma certa área, ou seja, diferentes estruturas cognitivas. É justamente isso o que se procura através deste tipo de instrumento de avaliação. " (Moreira, 1983)". |
As figuras 9, 10 e 11, por sua vez, foram obtidas em outra pesquisa (Ahumada,
1983; Moreira e Ahumada, 1983) na qual mapas conceituais foram usados como
instrumentos de avaliação em um curso de Física Geral. Nessa pesquisa, se
pediu aos alunos que construíssem mapas conceituais em três oportunidades ao
longo do curso (aproximadamente no começo, no meio e no fim), durante as quais
eles eram também entrevistados pelo professor a fim de explicar seus mapas.
Este tipo de estratégia (entrevistas) foi possível porque a pesquisa foi
conduzida em um curso individualizado. As figuras 9, 10 e 11 mostram os mapas de
um mesmo aluno nestas três ocasiões. Estes mapas sugerem uma organização
vertical que reflete claramente a ordem de apresentação dos conceitos no livro
de texto (Halliday & Resnick). os três mapas têm a mesma estrutura e
diferem apenas no número de conceitos que envolvem, refletindo uma forte
influência do material instrucional sobre a estrutura cognitiva do aluno.
Exemplos
adicionais são dados nas figuras 12 e 13. tais figuras ilustram os resultados
obtidos em um estudo no qual se utilizou mapas conceituais como instrumentos de
ensino e avaliação (Moreira e Gobara, 1983). Distintamente da pesquisa
referida anteriormente (Moreira e Ahumada, 1983), os alunos, antes de construir
seus próprios mapas, tiveram contato com mapas conceituais elaborados pelo
professor com fins instrucionais. o mapa da figura 6, por exemplo, foi um dos
mapas usados neste estudo como recurso instrucional. As figuras 12 e 13 são
mapas de um mesmo aluno traçados aproximadamente na metade e no final do curso
respectivamente. Estes mapas parecem apresentar uma organização hierárquica
do centro para as bordas. no primeiro, o conceito de carga elétrica ocupa uma
posição central e parece estar rodeado por outros conceitos a ele
subordinados. No segundo, além de carga elétrica, outros conceitos ocupam a
parte central do mapa e ficam rodeados por conceitos subordinados.
Todos estes
exemplos foram oferecidos nesta secção para ilustrar, da melhor maneira
possível, as potencialidade do uso de mapas conceituais como instrumentos de
avaliação.