6. Considerações Finais

A declaração de HAL idealiza que "hardware de código aberto utiliza componentes e materiais facilmente acessíveis, processos padrões, infraestrutura aberta, conteúdo irrestrito, e ferramentas de desenho livres para maximizar a possibilidade dos indivíduos fazerem e utilizarem o hardware". Porém a carência de infraestrutura aberta e ferramentas de desenho livres limitam as possibilidades de criação de hardware de acordo com os princípios de abertura e liberdade. Esta é uma deficiência que reduz o alcance e o impacto de iniciativas que buscam popularizar a fabricação digital e que podem até prejudicar o entendimento do que efetivamente é HAL.

Um exemplo de popularização dos meios de fabricação digital e distribuída são os chamados FabLabs, laboratórios de fabricação, que contam com máquinas de fabricação digital tais como fresadoras de controle numérico computadorizado, impressoras 3D entre outras máquinas para execução de projetos. É uma iniciativa interessante que, por um lado, visa a aproximação entre instrumentos de prototipagem e produção e as pessoas interessadas, aumentando e difundindo a cultura da produção de hardware ou cultura maker, por outro, conta com equipamentos de elevado custo financeiro, que também perpetua a necessidade de uso dos softwares proprietários que os acompanham, dificultando a criação hardware e sua documentação que esteja alinhado com a definição de HAL. Este modelo colabora (negativamente) para a carência de padrões de arquivos e programas livres para desenho e modificação de projetos uma vez que propagam e disseminam ferramentas proprietárias e infraestrutura fechada em meio à cultura maker. Além disso, não é garantido que um projeto desenvolvido em um determinado software/hardware proprietário poderá ser adaptado ou construído em outro equivalente. É aqui que os pontos de infraestrutura aberta, padrões abertos e software livre, presentes nas definições do hardware aberto e livre, se fazem importantes, pois é com eles que qualquer projeto poderá, em princípio, ser replicado sem maiores dificuldades. São os pontos que estimulam/viabilizam a criação de comunidades de usuários e desenvolvedores de HAL.

O Centro de Tecnologia Acadêmica do IF/UFRGS tem atuado no desenvolvimento da infraestrutura aberta que eventualmente viabilizará a construção de FabLabs realmente livres. Faz isso pela promoção do conceito da bancada dos hiperobjetos e o desenvolvimento de máquinas de fabricação digital que a compõe, a exemplo da Fresadora PCI João-de-barro.

Para atingir os objetivos de organização e documentação de projetos, os participantes do CTA se empoderaram das ferramentas utilizadas por projetos colaborativos e distribuidos bem sucedidos. Destacamos projetos de infraestrutura, como a Fresadora PCI João-de-Barro, projetos de ensino de engenharia, programação e aquisição de dados através dos Shields Amplificador de Instrumentação e Arduino básico e projetos de ciência cidadã através do projeto das Estações Meteorológicas Modulares.

O CTA alia-se ao Colégio de Aplicação da UFRGS para atuar além do ambiente universitário, alcançando também o ensino básico através do CTA Jr, onde também são aplicados os conceitos de liberdade e abertura do conhecimento e são promovidas as ferramentas e práticas para potencializar a expansão do conhecimento acadêmico.

Por fim, também promovemos empreendedorismo aberto através de projetos que são livres para serem distribuidos sem discriminação, inclusive comercializados. Isto abre novas possibilidades para os estudantes utilizarem os materiais e métodos com os quais tem contato durante os cursos. Mais do que isso, através de projetos e práticas de pesquisa e desenvolvimento que estão de acordo com os princípios de abertura, e do desenvolvimento de infraestrutura e de práticas organizacionais/institucionais alinhados, esperamos estar semeandos no ambiente acadêmico a cultura da abertura e da liberdade na expansão do conhecimento, que consideramos essenciais para atualizar a academia nos modos de produção e circulação do conhecimento e da cultura.

Agradecimentos

O Centro de Tecnologia Acadêmica é parcialmente financiado pelo CNPq.

Manifestamos nossa gratidão aos integrantes do CTA, Béuren Bechlin, Flávio Depaoli, Paulo Müller, Diogo Friggo Panda, Germano Postal, Alisson Claudino, Nelso Jost, Guilherme Weihmann, Leonardo Brunnet, Sebastian Gonçalves, Gabriel Krieger, Lucas Leal, Gilberto Fetzner Filho, aos colaboradores do setor de eletrônica do IF/UFRGS Mauro Fin, Elton De Brum e Bruno Nabinger, assim como as outras pessoas que participaram e colaboraram desde a fundação do CTA, que são muitos para serem listados aqui, motivo pelo qual somos ainda mais gratos.


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