Dada a natureza eletromagnética da luz - estabelecida na mesma época, graças em especial aos trabalhos do próprio Hertz, não era em si surpreendente que ela possa levar à ejeção de elétrons. Um campo eletromagnético oscilante aplica uma força também oscilante sobre as partículas carregadas que constituem o material, e se a força for suficientemente intensa e atuar durante um tempo suficiente, ela poderá realizar sobre as cargas um trabalho suficiente para libertá-las do material.
Na base desta visão clássica, esperava-se que o efeito foto-elétrico possuisse as seguintes características:
Resultados típicos estão mostrados na figura abaixo.
Para um dado valor da intensidade luminosa L, observa-se que a corrente aumenta com a voltagem, alcançando um valor de saturação. Podemos interpretar este resultado como indicando que, se a voltagem for suficiente, todos os elétrons, até mesmo aqueles que saem do catodo com pouquíssima energia, conseguem chegar até o coletor.
Observa-se também que, para zerar a corrente, é necessário aplicar uma voltagem negativa
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Outro fato surpreendente é que não se observa nenhum atraso no estabelecimento da corrente em relação ao começo da exposição do material à luz, mesmo para luz de intensidade muito baixa. Não é difícil estimar, na base das ideias clássicas, que tal atraso deveria ser facilmente observável.
Em 1902, Lenard2 constatou que, para a maioria dos materiais, o efeito era muito diminuido caso a luz tivesse que atravessar uma janela de vidro antes de incidir sobre o catodo. Ou seja, era a componente ultravioleta (filtrada pelo vidro) da radiação que produzia o efeito. Este resultado também era surprendente, já que a teoria clássica não implicava em nenhuma restrição sobre o valor da freqüência da radiação. Lenard também observou que a energia cinética máxima dos elétrons emitidos aumentava com a freqüência da radiação utilizada. Porém, ele não foi capaz de estabelecer uma lei quantitativa que descrevesse esta dependência.
[1] Heinrich Rudolph Hertz, físico alemão, 1857-1894.
[2] Philipp Lenard, físico alemão, nascido na Tcheco-Eslováquia, 1862-1947.
Teoria de Einstein
No seu "ano maravilhoso" de 1905, Einstein1, motivado pelo trabalho de Planck e inspirado por sua nova visão da cinemática, introduziu a ideia da quantização da radiação, ressuscitando assim a visão corpuscular da mesma.
Para explicar o espectro de radiação do corpo negro, Planck tinha postulado que a energia de uma onda eletromagnética numa cavidade assumia valores quantizados. Porém, Planck acreditava que esta propriedade era essencialmente uma característica - até aí não explicada - das trocas de energia entre as cargas nas paredes da cavidade e a radiação nela contida.
Einstein deu um passo gigantesco para frente ao interpretar a hipótese de Planck como indicando que a radiação era composta de pacotes ou quanta de energia, propagando-se como partículas. A cada uma destas partículas - agora chamadas fótons, ele atribuiu uma energia relacionada com a freqüência n da radiação por
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As interações entre radiação e matéria passam a ser consideradas com processos de emissão e absorção de fótons. Em especial, o efeito fotoelétrico é interpretado como a absorção de um fóton pela matéria, levando à ejeção de um elétron. A energia é conservada neste processo, de maneira que se denotarmos por w o trabalho necessário para liberar o elétron do material, a energia cinética do elétron após ejeção é
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Vê se que a teoria de Einstein prevê uma simples dependência linear para a variação da energia cinética máxima com a freqüência. Como já mencionado, as observações de Lenard não tinham permitido a determinação desta função. Foi apenas em 1914 que Millikan2 conseguiu confirmar experimentalmente a teoria de Einstein. A figura abaixo ilustra o caso do efeito fotoelétrico sobre um catodo de sódio. Repare que a análise do gráfico da variação de Kmax em função de n permite a determinação da função trabalho do material considerado e fornece uma determinação da constante de Planck. A concordância, dentro das limitações experimentais, do valor obtido com aquele extraído da análise da radiação de corpo negro, constitui-se numa confirmação da teoria de Einstein.
Na teoria de Einstein, a energia cinética máxima dos elétrons, e portanto o potencial de corte V0, depende da freqüência da radiação, mas não da sua intensidade. Na visão corpuscular, aumentar a intensidade da radiação significa aumentar o número de fótons incidente por segundo. O número de elétrons liberados por segundo ou seja, a corrente elétrica, aumenta na mesma proporção, como observado experimentalmente.
A teoria de Einstein também permite entender porque não se observa qualquer atraso no estabelecimento da corrente em relação ao começo da iluminação. Mesmo se a intensidade da radiação for muito baixa, tão logo a iluminação for iniciada, haverá fótons alcançando o material. Já que apenas um fóton é necessário para produzir o efeito, a corrente será estabelecida imediatamente. Apenas, o seu valor será pequeno também.
[1] Albert Einstein, físico alemão, 1879-1955.
[2] Robert Andrews Millikan, físico americano, 1868-1953.