É a radiação emitida por um corpo devido à sua temperatura.
Todo corpo emite esse tipo de radiação para o meio que o cerca, e dele a absorve.
Quando o equilíbrio térmico é atingido, as taxas de emissão e de absorção
de energia são iguais.
A matéria em um estado condensado (sólido ou líquido)
emite um espectro contínuo de radiação o qual praticamente independe do material
do qual o corpo é composto, mas depende bastante da temperatura. A temperaturas
usuais, a maioria dos corpos é visível pela luz que reflete. A temperaturas
muito altas, os corpos têm luminosidade própria, ou seja, os corpos são muito
quentes e bem mais de 90% da radiação emitida é invisível para nós, estando
na região do infravermelho do espectro eletromagnético.
Considerando, por exemplo, o aquecimento de um atiçador
de ferro no fogo, verificamos que quando este está a uma temperatura relativamente
baixa, ele irradia calor, mas esta radiação não é visível. Com o aumento da
temperatura a quantidade de radiação aumenta muito rapidamente, e notamos
efeitos visíveis. O atiçador adquira uma cor vermelha apagada, depois uma
cor vermelha brilhante, e, a temperaturas muito altas, uma cor branco-azulada
intensa. Isto é, com o aumento da temperatura, o corpo emite mais radiação
térmica e a freqüência na qual a radiação é mais intensa, aumenta.
De maneira mais geral, a forma detalhada do espectro
da radiação térmica emitida por um corpo quente depende de algum modo da composição
desse corpo. No entanto, a experiência nos mostra que há um tipo de corpo
quente que emite espectros térmicos de caráter universal. Esses corpos são
chamados corpos negros, isto é,
corpos cujas superfícies absorvem toda a radiação térmica incidente sobre
eles. O nome é apropriado porque esses corpos não refletem luz e são negros.
Um exemplo de um (quase) corpo negro, seria qualquer objeto coberto com uma
camada difusa de pigmento preto, tal como o negro de fuligem. Independentemente
dos detalhes de sua composição, verifica-se que todos os corpos negros à mesma
temperatura emitem radiação térmica com o mesmo espectro.
A distribuição espectral da radiação de corpo negro
é especificada pela quantidade RT(v)
chamada radiância espectral, que é definida de forma
que RT(v)dv seja igual à energia emitida por unidade de
tempo em radiação de freqüência compreendida no intervalo de v a
v+dv por unidade de área de uma superfície à
temperatura absoluta T. As primeiras medidas precisas dessa grandeza foram
feitas por Lummer e Pringsheim
em 1899. A dependência observada experimentalmente de RT(ν) em v
e T é mostrada na figura 1.
A integral da radiância espectral
RT(ν) sobre todas
as freqüências v é a energia total
emitida por unidade de tempo por unidade de área por um corpo negro a temperatura
T. É dita a radiância RT. Isto é,
RT(ν)= 0∫∞ RT(ν) dv
Como pudemos ver na figura 1, RT cresce rapidamente
com o aumento da temperatura. De fato esse resultado é chamado lei de Stefan,
e foi enunciado pela primeira vez em 1879 sob a forma de uma equação empírica.
RT = σT4, onde
σ = 5,67.10-8 W/m2
°K4 é chamada a constante de Stefan-Boltzmann.
A figura 1 também mostra que o espectro se desloca para maiores freqüências
à medida que T aumenta. Este resultado é chamado lei do deslocamento de Wien.
vmax α T
onde
vmax é a freqüência v na qual RT(ν)
tem seu valor máximo para uma dada temperatura. Quando T cresce, νmax
se desloca para freqüências mais altas.
Um outro exemplo de corpo negro pode
ser obtido ao considerarmos um objeto que contém uma cavidade ligada ao exterior
por um pequeno orifício, como na figura 2. A radiação
térmica que incide sobre o orifício, vinda do exterior, entra na cavidade
e é refletida, repetidas vezes, pelas suas paredes, sendo eventualmente por
elas absorvida. Se a área do orifício for muito pequena comparada com área
da superfície interna da cavidade, uma quantidade desprezível da radiação
incidente será refletida para fora da cavidade. Essencialmente toda a radiação
incidente sobre o orifício é absorvida; portando, o orifício deve ter propriedades
da superfície de um corpo negro.
Suponhamos que as paredes das cavidades
estejam uniformemente aquecidas a uma temperatura T. Então as paredes emitirão
radiação térmica que vai encher a cavidade. A pequena fração dessa radiação
vinda do interior que incide sobre o orifício, vai atravessá-lo, portanto,
este atua como um emissor de radiação térmica. Como ele deve ter as propriedades
de um corpo negro, a radiação por ele emitida deve ter um espectro de corpo
negro. De fato, ela terá um espectro de corpo negro característico da temperatura
T das paredes, já que esta é a única temperatura definida para o sistema.
O espectro emitido pelo buraco na cavidade é especificado em termos do fluxo
de energia RT(ν).
É mais útil, entretanto, especificar o espectro da radiação dentro da cavidade,
dita radiação de cavidade, em termos de uma densidade de energia, ρT(ν), que é definida
como a energia contida em um volume unitário da cavidade à temperatura T no
intervalo de freqüência de v a v+dv. É evidente
que essas quantidades são proporcionais entre si, isto é,
ρT(v) α RT(v)
Portanto, a radiação dentro de uma
cavidade cujas paredes estão a uma temperatura T tem o mesmo caráter que a
radiação emitida pela superfície de um corpo negro a temperatura T.