Conceber e Fazer Evoluir os Dispositivos de Diferenciação

        Neste capítulo, Philippe Perrenoud fala sobre situações que devem ser propiciadas aos alunos de forma que eles progridam e que estas situações sejam "ótimas" para cada aluno. Entretanto isto não significa que cada aluno, individualmente, tenha que ter um tratamento personalizado, pois isto é impossível numa sala de aula, mas que estas situações propiciadas, além de terem sentido, envolvam e mobilizem o aluno, solicitando-o em sua zona de desenvolvimento próximo, ou seja, que façam parte da realidade daquele conjunto de alunos e que aproveitem os conhecimentos que estes já dominem.

        Diante de oito, três, ou até mesmo um só aluno, um professor não sabe necessariamente propor a cada um deles uma situação de aprendizagem ótima. Não basta mostrar-se totalmente disponível para um aluno: é preciso também compreender o motivo de suas dificuldades de aprendizagem e saber como superá-las. Todos os professores que tiveram a experiência do apoio pedagógico, ou que deram aulas particulares sabem a que ponto pode-se ficar despreparado em uma situação de atendimento individual, ainda que aparentemente, ela seja ideal.

        Perrenoud lembra que certas aprendizagens só ocorrem graças às interações sociais, seja porque se visa o desenvolvimento de competências de comunicação ou de coordenação, seja porque a interação é indispensável para provocar aprendizagens que passem por conflitos cognitivos ou por formas de cooperação.

        Portanto, deve-se diferenciar o ensino de aulas particulares. Deve-se organizar diferentemente o trabalho em aula, acabar com a estruturação em níveis anuais, ampliar e criar novos espaços tempos de formação, jogar, em uma escala maior, com os reagrupamentos, as tarefas, os dispositivos didáticos, as interações, as regulações, o ensino mútuo e as tecnologias da formação.

        Isto significa lembrar que os estudantes têm tempos diferentes de aprendizagem e que a estruturação em níveis anuais pode não ser, para alguns grupos, ideal para propiciar um ‘tempo ótimo’ para os alunos. Todas estas proposições acabam por mobilizar competências mais específicas:

        1. Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma (idade, níveis de desenvolvimento, socialização familiar).

        O sistema escolar tenta levar em conta a heterogeneidade ou pelo jogo das dispensas de idade (integrando alunos mais jovens, que demonstram uma certa precocidade) ou pelo jogo das reprovações, segundo o qual os alunos que não têm a maturidade ou o nível requerido não passam de ano e repetem o programa na companhia de alunos mais jovens.

        2. Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto.

        Perrenoud critica o modelo de escola ciclada adotada atualmente, lembrando que muitas escolas adotam este modelo, mas os professores, e todo o sistema, continuam atuando como se fosse uma escola seriada.

        É importante lembrar que o ensino em ciclos não se refere somente à "ampliação" do tempo escolar, mas de uma mudança do mesmo. "Uma coisa parece certa: entre as quatro paredes da aula e durante os oito a nove meses de um ano letivo, poucos professores são capazes de fazer milagres".

        3. Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de dificuldades.

        - Estar acostumado à idéia de supervisão;
        - Respeitar um código explícito de deontologia mais do que apelar para o amor pelas crianças e para o senso comum;
        - Estar convencido de que os indivíduos são diferentes;
        - Ter domínio teórico e prático dos aspectos afetivos e relacionais da aprendizagem e possuir cultura psicanalítica básica;
        - Tratar pais como pessoas complexas, mais do que responsáveis legais do aluno.

        4. Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples de ensino mútuo.

        - Os alunos podem formar-se mutuamente sem que um deles desempenhe o papel do professor;
        - Trabalhar em equipe não consiste em fazer juntos o que se poderia fazer separadamente;
        - Ninguém poderá "aprender, fazendo, a fazer o que não sabe fazer";
        - Toda pedagogia diferenciada exige a cooperação ativa dos alunos e pais.

        De uma forma geral, o autor indica caminhos que todo professor, bem como a comunidade escolar, deve seguir para atingir um objetivo maior que é o desenvolvimento global do aluno, levando em conta os aspectos sociais, afetivos, familiares e técnicos que envolvem o aluno em sala de aula como parâmetros para o trabalho de novas competências para ensinar.

Katemari Rosa


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