Organizar e Dirigir Situações de Aprendizagem

        Por que apresentar como uma nova competência a capacidade de organizar e de dirigir situações de aprendizagem? Ela não estaria no próprio cerne do professor? Na visão clássica do professor, todas as situações vividas na escola são consideradas situações de aprendizagem. No ensino tradicional, como na universidade, o mestre se vê diante de centenas de rostos anônimos e adota, na maioria dos casos, uma pedagogia do compreenda e aprenda quem puder. Em sua visão, poderia estar criando diferentes situações de aprendizagem, já que cada aluno é diferente do outro e cada um vivencia a aula em função do seu humor e de sua disponibilidade, do que ouve e compreende, conforme seus recursos intelectuais, sua capacidade de concentração, o que interessa, faz sentido para ele, relaciona-se com outros saberes ou com realidades que lhe são familiares ou que consegue imaginar. Nesse estágio de reflexão, o professor terá a sabedoria de suspendê-la, sob pena de avaliar que, na verdade, não sabe grande coisa a respeito das situações de aprendizagem que cria... Ver-se como conceptor e dirigente de situações de aprendizagem não deixa de ter riscos: pode levar ao questionamento de sua pertinência e eficácia!

        Na perspectiva de uma escola mais eficaz para todos, organizar e dirigir situações de aprendizagem deixou de ser uma maneira ao mesmo tempo banal e complicada de designar o que fazem espontaneamente todos os professores. Essa linguagem acentua a vontade de conceber situações didáticas ótimas inclusive, e principalmente, para os alunos que não aprendem ouvindo lições. As situações assim concebidas dis-tanciam-se dos exercícios clássicos, que apenas exigem a operacionalização de um procedimento conhecido. Permanecem úteis, mas não são mais o início e o fim do trabalho em aula, como tampouco a aula magistral, limitada a funções precisas. Organizar e dirigir situações de aprendizagem é manter um espaço justo para tais procedimentos. É, sobretudo, despender energia e tempo e dispor das competências profissionais necessárias para imaginar e criar outros tipos de situações de aprendizagem, que as didáticas contemporâneas encaram como situações amplas, abertas, carregadas de sentido e de regulação, as quais requerem um método de pesquisa, de identificação e de resolução de problemas.

        Essa competência global mobiliza várias competências mais específicas:

        - conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem;
        - trabalhar a partir das representações dos alunos;
        - trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem;
        - construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas;
        - envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento.

Gustavo Andrade


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