Um homem considerado parte da história da Física no Brasil,
Roberto Salmeron dispensa apresentações. Há mais de 40 anos, destacou-se
como o primeiro pesquisador brasileiro a estudar raios cósmicos, em uma
época em que raros representantes da vanguarda científica mundial
concentrava suas atenções para fora do planeta. Hoje, aos 82 anos, diz-se
"aposentado" na École Polytechnique da França, mas, na verdade, parece
trabalhar mais do que nunca: ministra cursos, escreve artigos, livros,
colabora com o Brasil em pesquisa e em ensino e, claro, mantém-se atento
ao desenvolvimento da Física de Partículas e da Astrofísica. De Paris,
onde mora, Roberto Salmeron falou com exclusividade para o UnB
Notícias e aproveitou para lembrar com saudade do tempo que
dedicou à construção do conhecimento na UnB. Confira os principais
trechos:
UnB Notícias - Qual é a sua avaliação do
desenvolvimento científico brasileiro nas pesquisas em Física?
Roberto Salmeron - O Brasil progrediu
muito, especialmente, nos últimos 30 anos, e continua progredindo, em
todas as ciências, as humanas e as exatas e da natureza. Em todas as áreas
de atividades, temos bom número de pessoas extremamente competentes, com
capacidade para serem líderes em qualquer país. A Física em particular
teve desenvolvimento notável. Ainda não temos, no entanto, o número de
pessoas altamente competentes quantas necessárias.
UnB - Sobre a UnB, quais são as suas
lembranças da formação do Instituto de Física?
Salmeron - Fui o primeiro físico a
trabalhar na UnB e o primeiro diretor do Instituto de Física. No início,
utilizávamos o título "coordenador" em vez de "diretor", por sugestão de
Anísio Teixeira, que foi o pai intelectual da UnB, o homem que concebeu a
estrutura da Universidade muito antes de ela existir. Comecei a trabalhar
na UnB em 2 de janeiro de 1964. Ele sugeriu ao Conselho Diretor da
Fundação Universidade de Brasília que me nomeasse também Coordenador-Geral
dos Institutos Centrais de Ciências. Acumulei as duas funções, durante um
ano. Em fevereiro de 1965 começou a trabalhar na UnB meu amigo Jayme
Tiomno. Queríamos fazer ensino e pesquisa ao mesmo tempo, em todos os
setores da universidade. Na parte científica, eu queria desenvolver a
Física de Partículas Elementares e Física Nuclear, que naquela época
estava no apogeu de seu desenvolvimento. Para a Física de Partículas
Elementares, já tinha material para uma colaboração com dois laboratórios
importantes: o CERN, de Genebra (Suíça), no qual eu tinha trabalhado oito
anos e meio antes de ir para a UnB, e a École Polytechnique da França.
Para a Física Nuclear, esperávamos um ciclotron para prótons, oferecido
como presente pelo General Charles De Gaulle, Presidente da França, quando
visitou o Brasil e a UnB em 1964. Depois de nossa demissão em outubro de
1965 o presente não foi efetivado. Éramos procurados por eminentes colegas
que desejavam trabalhar na UnB, mas tínhamos que esperar que a UnB se
consolidasse, para evitar dispersão de atividades e dos poucos recursos.
Fui um dos 223 docentes que pediram demissão em outubro de 1965, por
recusarem a pressão exercida pelo governo militar sobre a UnB. Mas, uma
das melhores lembranças que guardo da UnB daqueles tempos é a dos
estudantes. Tinham consciência de que participavam de algo novo, e apesar
das condições precárias, sem conforto e material exíguo, trabalhavam com
entusiasmo e dedicação longas horas por dia, e nunca se queixavam. Eles
nos pediam salas para estudarem e nelas trabalhavam até altas horas da
noite, incluindo sábados e domingos. Uma atmosfera inesquecível.
UnB - Que perspectivas o senhor tem para a
Física brasileira e qual a sua opinião sobre as atuais pesquisas na
UnB?
Salmeron - Temos em vários centros no
Brasil, pessoas muito competentes e pesquisa em Física de bom nível. Não
tenho conhecimento exaustivo das pesquisas realizadas em Física na UnB,
mas sei que está produzindo em áreas, como Física da Matéria Condensada,
Plasma, Fotônica, Nanoestruturas Semicondutoras e Magnéticas,
Espectroscopia Ótica, Relatividade, Física Matemática, e tem o Centro
Internacional de Física da Matéria Condensada. O progresso da Física e de
outras ciências no Brasil, no entanto, poderia ser maior. O financiamento
pelas agências de fomento não é suficiente, as atividades em colaborações
internacionais são restritas, e há necessidade de mais postos para acolher
a nova geração com emprego.
LIVROS SOBRE FÍSICA
1
Como vejo o mundo, de Albert Einstein. Nova Fronteira,
1981
2
Notas autobiográficas, de Albert Einstein. Nova
Fronteira, 1982
3
Einstein viveu aqui, de Abraham Pais. Nova Fronteira,
1997
4
O plágio de Einstein, de Carlos Alberto dos
Santos
5
Einstein, o viajante da Relatividade, de Alfredo
Tolmasquim
6
Einstein, a ciência da vida, de Denis Brian. Editora
Ática
7
Einstein estava certo?, de Clifford Will. Editora UnB,
1996