Universidade de Brasília
segunda-feira, 14 março, 2005
 
ano 8 :: nº 65 :: março/abril de 2005

 

entrevista
Roberto
Salmeron


  Marcos Alves/Folha Imagem
 

Um homem considerado parte da história da Física no Brasil, Roberto Salmeron dispensa apresentações. Há mais de 40 anos, destacou-se como o primeiro pesquisador brasileiro a estudar raios cósmicos, em uma época em que raros representantes da vanguarda científica mundial concentrava suas atenções para fora do planeta. Hoje, aos 82 anos, diz-se "aposentado" na École Polytechnique da França, mas, na verdade, parece trabalhar mais do que nunca: ministra cursos, escreve artigos, livros, colabora com o Brasil em pesquisa e em ensino e, claro, mantém-se atento ao desenvolvimento da Física de Partículas e da Astrofísica. De Paris, onde mora, Roberto Salmeron falou com exclusividade para o UnB Notícias e aproveitou para lembrar com saudade do tempo que dedicou à construção do conhecimento na UnB. Confira os principais trechos:

UnB Notícias - Qual é a sua avaliação do desenvolvimento científico brasileiro nas pesquisas em Física?

Roberto Salmeron - O Brasil progrediu muito, especialmente, nos últimos 30 anos, e continua progredindo, em todas as ciências, as humanas e as exatas e da natureza. Em todas as áreas de atividades, temos bom número de pessoas extremamente competentes, com capacidade para serem líderes em qualquer país. A Física em particular teve desenvolvimento notável. Ainda não temos, no entanto, o número de pessoas altamente competentes quantas necessárias.

UnB - Sobre a UnB, quais são as suas lembranças da formação do Instituto de Física?

Salmeron - Fui o primeiro físico a trabalhar na UnB e o primeiro diretor do Instituto de Física. No início, utilizávamos o título "coordenador" em vez de "diretor", por sugestão de Anísio Teixeira, que foi o pai intelectual da UnB, o homem que concebeu a estrutura da Universidade muito antes de ela existir. Comecei a trabalhar na UnB em 2 de janeiro de 1964. Ele sugeriu ao Conselho Diretor da Fundação Universidade de Brasília que me nomeasse também Coordenador-Geral dos Institutos Centrais de Ciências. Acumulei as duas funções, durante um ano. Em fevereiro de 1965 começou a trabalhar na UnB meu amigo Jayme Tiomno. Queríamos fazer ensino e pesquisa ao mesmo tempo, em todos os setores da universidade. Na parte científica, eu queria desenvolver a Física de Partículas Elementares e Física Nuclear, que naquela época estava no apogeu de seu desenvolvimento. Para a Física de Partículas Elementares, já tinha material para uma colaboração com dois laboratórios importantes: o CERN, de Genebra (Suíça), no qual eu tinha trabalhado oito anos e meio antes de ir para a UnB, e a École Polytechnique da França. Para a Física Nuclear, esperávamos um ciclotron para prótons, oferecido como presente pelo General Charles De Gaulle, Presidente da França, quando visitou o Brasil e a UnB em 1964. Depois de nossa demissão em outubro de 1965 o presente não foi efetivado. Éramos procurados por eminentes colegas que desejavam trabalhar na UnB, mas tínhamos que esperar que a UnB se consolidasse, para evitar dispersão de atividades e dos poucos recursos. Fui um dos 223 docentes que pediram demissão em outubro de 1965, por recusarem a pressão exercida pelo governo militar sobre a UnB. Mas, uma das melhores lembranças que guardo da UnB daqueles tempos é a dos estudantes. Tinham consciência de que participavam de algo novo, e apesar das condições precárias, sem conforto e material exíguo, trabalhavam com entusiasmo e dedicação longas horas por dia, e nunca se queixavam. Eles nos pediam salas para estudarem e nelas trabalhavam até altas horas da noite, incluindo sábados e domingos. Uma atmosfera inesquecível.

UnB - Que perspectivas o senhor tem para a Física brasileira e qual a sua opinião sobre as atuais pesquisas na UnB?

Salmeron - Temos em vários centros no Brasil, pessoas muito competentes e pesquisa em Física de bom nível. Não tenho conhecimento exaustivo das pesquisas realizadas em Física na UnB, mas sei que está produzindo em áreas, como Física da Matéria Condensada, Plasma, Fotônica, Nanoestruturas Semicondutoras e Magnéticas, Espectroscopia Ótica, Relatividade, Física Matemática, e tem o Centro Internacional de Física da Matéria Condensada. O progresso da Física e de outras ciências no Brasil, no entanto, poderia ser maior. O financiamento pelas agências de fomento não é suficiente, as atividades em colaborações internacionais são restritas, e há necessidade de mais postos para acolher a nova geração com emprego.

 

 
 

LIVROS SOBRE FÍSICA

1 Como vejo o mundo, de Albert Einstein. Nova Fronteira, 1981
2 Notas autobiográficas, de Albert Einstein. Nova Fronteira, 1982
3 Einstein viveu aqui, de Abraham Pais. Nova Fronteira, 1997
4 O plágio de Einstein, de Carlos Alberto dos Santos
5 Einstein, o viajante da Relatividade, de Alfredo Tolmasquim
6 Einstein, a ciência da vida, de Denis Brian. Editora Ática
7 Einstein estava certo?, de Clifford Will. Editora UnB, 1996


 

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