Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 2763 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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9 de maio de 2005

Morize, Rosinha e o eclipse de 1919 em Sobral

Um capítulo da história da ciência que vale a pena conhecer

Marcomede Rangel, do Observatório Nacional/MCT, escreve para o 'JC e-mail':

A cidade de Sobral, no Ceará, foi privilegiada com três expedições científicas, que em 29 de maio de 1919 observaram um eclipse total do Sol por mais de cinco minutos

Ingleses, americanos e brasileiros compartilharam da observação científica. A faixa de totalidade cortou o Brasil no sentido Nordeste, cruzando no sul do Amazonas e Pará, no norte do hoje estado do Tocantins, cortou o Maranhão ao meio e chegou ao Ceará.

Mas a escolha de Sobral, para a vinda das expedições coube ao astrônomo Henrique Morize (1860-1930) diretor do Observatório Nacional. Ele havia criado em 1909 a Diretoria de Meteorologia e Astronomia, no Observatório Nacional. Unificou a meteorologia com a astronomia, que durou 11 anos.

Dessa maneira, implantou duzentas estações meteorológicas no Brasil, uniformizando a coleta de informações sobre as condições meteorológicas.

Atualmente, o Instituto Nacional de Meteorologia possui 400 estações. Isso iria culminar em 1917, através do meteorologista Joaquim de Sampaio Ferraz, do Observatório, na entrada em serviço da Previsão do Tempo para a agricultura e a população, de uma maneira geral, sendo publicado nos jornais, como conhecemos hoje.

Entre outros fatores que Morize apontou Sobral para a observação do eclipse era que a faixa central da sombra da Lua na Terra (ela tem em torno de 200 km de km) passava em cima da cidade e ele conhecia o lugar.

Tinha estado lá e acima de tudo era casado com uma sobralense, Rosa Ribeiro dos Santos. Tudo lhe era familiar e isso facilitou bastante as expedições. E o mais interessante é que no dia 26 de maio de 1919, dois dias antes do eclipse total do Sol, Morize e Rosinha, comemoraram Bodas de Prata, com missa na Igreja do Patrocínio. Todos os membros das expedições participaram.

Para colher mais dados sobre o fenômeno, Morize esteve meses antes em Sobral, para os preparativos e a montagem de uma estação meteorológica classe A, a mais completa, com tanque de evaporação, heliógrafo (registra as horas de Sol), termômetros de solo etc.

Os ingleses obtiveram placas fotográficas das estrelas no fundo do céu, que permitiram seis meses depois comprovar a o 'desvio da luz' ao passar por um forte campo gravitacional, conforme previsto na Teoria da Relatividade.

Outra equipe de ingleses foram a Ilha Príncipe, no golfo da Guiné, com o mesmo objetivo. Só que em Sobral o tempo foi melhor e obtiveram um maior número de placas fotográficas.

Foi a primeira comprovação da teoria de Einstein, que seis anos depois chegaria ao Brasil. Os americanos estudaram a influencia do campo magnético terrestre durante o eclipse e os brasileiros, chefiados por Henrique Morize, estudaram a corôa solar.

Pensar na comemoração dos 80 anos da visita de Einstein ao Brasil, é lembrar também de Henrique Morize, que soube preparar a estadia das expedições científicas a Sobral, em 1919, conhecendo bem o lugar, no Ceará, facilitando o trabalho de todos e também porque na ocasião era o presidente na Academia Brasileira de Ciências (primeiro como Sociedade Brasileira de Ciências), criada por ele em 1916.