Jornal da Ciência (JC E-Mail)

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Edição 2740 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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5 de abril de 2005


Brasileiras conquistam espaço na ciência


O Brasil parece estar alcançando a igualdade entre os gêneros na ciência até o nível de doutorado, mas poucas ocupam posições mais altas

Marina Lemle escreve em reportagem para SciDev.Net:

A igualdade entre os gêneros na ciência brasileira está aumentando até o nível de doutorado, mas poucas mulheres ocupam postos sênior, segundo dados divulgados pelo CNPq e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

De acordo com um estudo do Inep divulgado em março, as mulheres obtiveram 51% dos diplomas de pós-graduação de 2003 e ocuparam 56% das vagas em cursos de graduação.

Enquanto o número de títulos de doutor conquistados por homens cresceu 69,2% entre 1996 e 2003, para as mulheres o aumento foi de 80,9%. No mesmo período, o aumento da aquisição de títulos de mestrado por mulheres também foi maior (119%) do que por homens (106%).

O estudo mostra que as mulheres optam mais por ciências humanas e da saúde, enquanto homens preferem as ciências sociais e as engenharias.

A pesquisa do Inep reporta ainda dados da Capes. Em 2005, as mulheres receberam 55% das 16.264 bolsas de mestrado e 54% das 9.858 bolsas de doutorado.

De acordo com os números observados por SciDev.Net, a proporção de bolsas para mestrado em ciência concedidos a mulheres pelo CNPq aumentou de 45 a 51% entre 1990 e 2005.

Nenhuma das agências instituiu uma política específica de incentivo à mulher na ciência. O cenário da graduação e da pós-graduação parece refletir uma melhora mais ampla no equilíbrio entre os gêneros nos últimos anos no Brasil.

Mas quanto mais se sobe na pirâmide acadêmica, menor é a participação das mulheres em todas as áreas da ciência, mesmo aquelas que atraem um maior número delas, como as ciências humanas e sociais.

O CNPq mostra que, em 2005, as mulheres concentravam apenas um terço das 8.500 bolsas de pesquisadores com doutorado ou experiência equivalente.

O maior contraste é no topo da pirâmide, entre os pesquisadores pós-doutores sênior, professores líderes de grupos, onde menos de um quarto dos bolsistas é mulher.

Em algumas disciplinas, o contraste é ainda maior. Em física, por exemplo, só 1% dos pesquisadores é mulher.

Um dos diretores do CNPq, José Roberto Drugowich de Felício, acredita não haver preconceito contra a mulher na alocação destas bolsas. Ele diz que o desequilíbrio entre os gêneros entre cientistas sênior reflete a predominância tradicional dos homens na pesquisa de alto nível.

Drugowich acredita que o aumento no número de mulheres em níveis mais baixos mostra que o ajuste nos níveis mais altos será inevitável, e o tempo que isso levará, está relacionado ao número total de novas bolsas oferecidas.

A bioquímica Jacqueline Leta, da Universidade Federal do RJ, discorda. Ela acredita que pode haver certo preconceito advindo da falta de representação feminina em muitos comitês do CNPq, o que significa que há poucas mulheres opinando sobre quem alcançará postos sênior na carreira.

Mas ela acrescenta que a razão pela qual mulheres não seguem carreira científica em longo prazo está ligado à ausência de modelos e à persistência de papéis estereotipados da mulher na sociedade.

Capes e Inep são instituições do Ministério da Educação.
(SciDev.Net - http://www.scidev.net )