Jornal da Ciência (JC E-Mail)

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Edição 2729 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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18 de março de 2005

Astrônomos amadores do Brasil descobrem duas supernovas

Observações foram feitas em BH; agora são 7 as explosões estelares detectadas no País

Herton Escobar escreve para "O Estado de SP":

Astrônomos amadores brasileiros descobriram mais duas supernovas no mês passado, elevando para sete o número de explosões estelares detectadas por brasileiros.

As observações foram feitas com um telescópio de 30 centímetros de diâmetro instalado em Belo Horizonte, em galáxias que estão a 13 milhões e 170 milhões de anos-luz da Terra.

As supernovas são estrelas que explodiram no fim da vida, quando todo seu combustível nuclear já se exauriu. Sua detecção é importante para estudos de cosmologia, como o mapeamento do universo.

O trabalho faz parte de um projeto montado por quatro astrônomos amadores de São Paulo e Belo Horizonte para a busca de supernovas em 1.200 galáxias, num raio de 250 milhões de anos-luz da Terra.

Cada galáxia foi selecionada por meio de critérios que indicam maior probabilidade da ocorrência de supernovas.

'O ponto crítico é saber como procurar', diz o engenheiro químico e astrônomo amador Tasso Napoleão. Dependendo das características de cada galáxia, segundo ele, a ocorrência de supernovas pode variar de dez por século até uma por milênio.

A expectativa do grupo é detectar uma média de oito supernovas por ano.

A partir de maio, o catálogo de observação será aumentado para 3 mil galáxias, após uma viagem de dez dias ao Observatório Cerro Mamalluca, no Chile, onde serão feitas imagens de referência.

Além de Napoleão, a equipe é formada por Carlos Colesanti, Eduardo Pimentel e Cristovão Jacques.

O observatório de Belo Horizonte, instalado no quintal da casa de um dos participantes, foi totalmente robotizado e pode ser programado e controlado por todos via internet.

Um segundo observatório instalado em Mairinque, no interior de São Paulo, também participa do projeto. Desde junho, o grupo, batizado de Ceamig-REA Supernovae Search, já descobriu cinco supernovas.

A busca de supernovas é uma das áreas mais atrativas da astronomia amadora, pois exige dedicação de tempo inviável para os astrônomos profissionais - que precisam aproveitar o escasso tempo de acesso aos grandes telescópios para observações mais complexas.

A detecção é feita por meio da comparação entre uma imagem de referência da galáxia (sem a supernova) e as novas imagens que são feitas dentro de um cronograma de observação daquela mesma região.

Se, de repente, aparece um pontinho luminoso a mais no espaço, pode ser uma estrela que explodiu.

Emoção

'Há uma grande emoção em pensar que você é a primeira pessoa na Terra a ver aquele objeto', conta o engenheiro Jacques, que participou da descoberta de todas as supernovas até agora.

'Ainda mais porque é algo que vai ser útil cientificamente.'

Quando uma supernova é detectada pela primeira vez, uma segunda observação é feita na noite seguinte e, no caso de uma confirmação, os dados são enviados para a União Astronômica Internacional, que valida a descoberta por meio de telescópios maiores.

Há dois tipos de supernovas, diz Napoleão: uma é a explosão de estrelas supermassivas, com pelos menos oito vezes a massa do Sol; a outra é a explosão de anãs brancas, o núcleo exaurido de estrelas menores.

Essas são especialmente importantes, pois ao explodir emitem uma quantidade fixa de luz, o que permite aos astrônomos mapear as distâncias do universo.
(O Estado de SP, 18/3)