Jornal da Ciência (JC E-Mail)

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Edição 2732 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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23 de março de 2005


Expansão do cosmos teria origem no Big Bang


Energia escura não existe, afirma grupo ítalo-americano de físicos

Cientistas italianos e americanos atacam o que vêem como o equivalente cosmológico do bicho-papão: uma força sombria de enormes proporções, que ninguém detectou diretamente até hoje, considerada responsável pela expansão acelerada do Universo conhecido.

Hoje, a maior parte dos cientistas acredita que essa força misteriosa, a chamada energia escura, corresponda a 70% da composição do cosmos.

Mas o grupo ítalo-americano oferece uma alternativa controversa para explicar a aceleração da expansão do Universo. Eles dizem que isso não está ocorrendo por causa da energia escura, mas graças a um efeito colateral do Big Bang, a explosão que deu origem a tudo que existe.

'Se a energia escura fosse tão potente quanto predizem as teorias, ela teria impedido a existência de tudo o que conhecemos no cosmos', afirma o italiano Antonio Riotto, do Instituto Nacional de Física Nuclear, em Pádua.

Desde o fim dos anos 1990, os cientistas têm usado a energia escura para explicar uma força aparentemente antigravitacional empurrando as galáxias para longe umas das outras em ritmo acelerado.

O físico alemão Albert Einstein chegou a propor uma 'constante cosmológica' que tinha um mecanismo parecido: ela entrava como fator antigravidade na sua teoria da relatividade geral, de forma a criar um Universo equilibrado e estático. Mais tarde, ele chamou a idéia de 'meu maior erro'.

Ondas no espaço-tempo

'Acreditamos que Einstein estava certo quando disse que estava errado', diz Edward W. Kolb, do Laboratório do Acelerador Nacional Fermi, nos EUA.

Kolb e seus colegas italianos argumentam que a expansão acelerada do Universo é o resultado de 'vincos' no tecido do espaço-tempo, criados pelo Big Bang durante a chamada fase inflacionária, quando o Universo se expandiu de forma rápida.

Segundo eles, esse fator não foi bem examinado porque tais 'vincos' ficam, em parte, fora do Universo observável. 'Essas marolas crescem com o tempo e dão uma expansão extra ao cosmos', afirma Kolb.

O trabalho da equipe que descreve o achado foi submetido à revista científica 'Physical Review Letters' e já está sofrendo críticas.

'O artigo deles vai passar por um escrutínio enorme, e a minha intuição é que, no fim das contas, vão mostrar que eles estão errados', avalia o cosmólogo Michael Turner, da Universidade de Chicago.

Ele cunhou o termo 'energia escura' e publicou um artigo com Kolb em 1990. 'Mas pode ser que eles riam por último. E, se isso acontecer, duvido que as marolas sejam o único efeito. Teremos de fazer outras mudanças.'

Essas alterações podem incluir novas idéias sobre o fim do Universo. Hoje, não se sabe se a expansão será revertida, esmagando o cosmos no chamado 'Big Crunch', ou se ela continuará indefinidamente.

A segunda hipótese é a mais provável de acordo com a nova proposta, diz Riotto. (Reuters)
(Folha de SP, 23/3)