APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA: IDÉIAS DE ESTUDANTES CONCLUINTES DE CURSO SUPERIOR*
Bernardo Buchweitz
Faculdade de Educação
Universidade Federal de Pelotas
Rua Alberto Rosa, 154
96010-770
Resumo
Aprendizagem significativa sempre é um dos grandes objetivos que está
presente em um processo de ensino e aprendizagem. Foi realizada uma investigação
com 40 estudantes concluintes dos cursos de Licenciatura em Física e em Ciências
Biológicas. Solicitou-se que selecionassem e descrevessem uma aprendizagem que
foi significativa, ficou marcada e bem caracterizada ao longo da sua vida. As
respostas mostraram que as aprendizagens consideradas significativas não foram
apenas cognitivas, mas também de atitudes e de habilidades e caracterizaram-se
predominantemente por envolverem a participação ativa de cada um. Elas
ocorreram em diferentes momentos e situações do dia a dia, a maioria fora da
sala de aula. Quando os estudantes foram solicitados a comentar esse resultado,
numa segunda fase da investigação, as suas respostas evidenciaram em parte que
isso se deve ao ensino pouco adequado, mas há fortes e freqüentes destaques a
aspectos relacionados com a importância da participação ativa em termos de
vivenciar, sentir, interagir, aplicar, praticar e fazer. Também são citados o
prazer, o interesse, o estímulo e o gosto maior pelas atividades em situações
fora da sala de aula como motivos para ocorrer a aprendizagem significativa.
Essas são idéias sobre aprendizagem significativa trazidas por estudantes,
semelhantes ou não às de psicólogos e educadores.
Palavras-chave:
Educação, Aprendizagem, Teorias de aprendizagem
Abstract
Meaningful learning is always one of the main aims to be reached in a teaching
and learning process. A research with 40 undergraduate students of the last term
of Physics and Biological Science Education was carried out. Students were asked
to choose and describe a learning situation that involved a meaningful learning,
which remained well known and characterized along their lives. The answers
showed that the learning that they considered meaningful (that the so considered
meaningful learning) was not only cognitive learning, but also attitude and
skill learning, and they were basically characterized by involving active
participation of each student. Meaningful learning happened at different daily
time and situations, and mostly outside classes. On a second moment, when asked
about these results, the students answered that to some extent teaching has been
inadequate, but there are frequent and strong reasons related with the
importance of a real and active participation in terms of experiencing, feeling,
interacting, applying, practicing, and doing. They also mentioned their pleasure,
interest, stimulation (excitement), and enjoyment in having activities outside
classes as reasons for happening meaningful learning. These are ideas about
meaningful learning brought by students that may be similar or not to the ones
of psychologists and professors.
Key
words: Education, Learning, Learning theories
Aprendizagem
significativa sempre é um dos grandes objetivos que está presente em um
processo de ensino e aprendizagem. A classificação e caracterização dessa
aprendizagem em geral está relacionada com a mudança ou evolução da
estrutura cognitiva do indivíduo, ou seja, a aprendizagem cognitiva. Moreira
(1999) mostra que se pode falar em aprendizagem significativa em distintos
referenciais teóricos construtivistas. Para Ausubel (1978) é essencial que
haja uma interação entre a nova informação (conceitos, idéias) e os
conhecimentos prévios, existentes na estrutura cognitiva do estudante,
definidos como conceitos subsunçores ou simplesmente subsunçores. Havendo essa
interação, e a nova informação adquirindo significado para o aprendiz, sendo
assimilada e contribuindo para a sua diferenciação, reconciliação e retenção,
a aprendizagem é dita significativa, podendo ser classificada em subordinada,
superordenada e combinatória. Portanto, a aprendizagem
significativa caracteriza-se por uma interação entre a estrutura
conceitual (conceitos e relações) existentes na mente do indivíduo e as novas
informações ou conceitos que estão sendo objetos de atenção em atividades
de ensino e aprendizagem ou outro processo educativo qualquer. Para que a
aprendizagem seja significativa é essencial que nessa interação as novas
informações adquiram significado e sejam integradas à estrutura cognitiva de
maneira não arbitrária e não literal, contribuindo para a diferenciação,
elaboração e estabilidade dos conhecimentos ou subsunçores existentes. Quando
há dificuldades em estabelecer essa interação por falta de subsunçores aos
quais a nova informação pode ser relacionada, Ausubel (1978) recomenda o uso
de organizadores prévios (materiais introdutórios) que sirvam para ancorar a
nova informação, levando ao desenvolvimento de conceitos subsunçores que
facilitem a aprendizagem.
Ausubel
considera a estrutura do conhecimento no cérebro humano como sendo organizada,
formando uma hierarquia conceitual em que os elementos mais específicos são
ligados e tendem a ser assimilados pelos conceitos mais gerais ou inclusivos.
Quando a nova informação adquire significado por meio da interação com
subsunçores, reflete uma relação de subordinação dessa nova informação à
estrutura já existente no aprendiz, ocorre a aprendizagem denominada
aprendizagem subordinada, que ainda pode ser classificada em derivativa e
correlativa. Por outro lado, quando ocorre a aprendizagem de uma nova informação
que envolve um conceito ou proposição mais geral e inclusiva do que os
conceitos e as relações existentes na mente do indivíduo, ela é chamada de
aprendizagem superordenada. Ausubel ainda sugere dois processos que ocorrem
durante a aprendizagem significativa: a diferenciação progressiva e a
reconciliação integrativa, mais relacionadas à aprendizagem subordinada e
superordenada, respectivamente. Moreira e Buchweitz (1993) descrevem estes e
outros aspectos da aprendizagem significativa e os ilustram por meio de mapas
conceituais. A figura 1 é um mapa conceitual, adaptado do livro desses autores,
que apresenta os aspectos aqui discutidos sobre aprendizagem significativa.
Figura 1. Conceitos básicos da teoria de Ausubel.
Não
havendo interação entre a nova informação e a estrutura conceitual já
existente, a aprendizagem não é significativa, ou seja, a nova informação,
se armazenada, o é de maneira arbitrária, sendo conhecida como aprendizagem
mecânica ou memorística. A
figura 2 ilustra um mapa conceitual construído para representar a
aprendizagem mecânica.
Figura 2. Uma representação da aprendizagem mecânica
Embora
tenha sido feita uma distinção entre aprendizagem significativa e
aprendizagem mecânica, elas não formam uma dicotomia, podendo ambas estar
presentes em muitas situações de aprendizagem. Essa possibilidade e o fato
de existirem situações ou tipos de aprendizagem mais próximas da
significativa e outras mais próximas da aprendizagem mecânica, nos dá a idéia
de que elas estão localizadas ao longo de um continuum, conforme Ausubel et al. (1978). Sobre essa localização
de diferentes tipos ou situações de aprendizagem, Novak e Gowin (1999, p. 24
e 183) ou Moreira (1999, p. 18 e 19) propõem uma dessas classificações.
Nela “a maior parte da aprendizagem escolar” aparece mais próxima da
aprendizagem mecânica do que da significativa. Tentando saber mais sobre
situações em que ocorrem aprendizagens consideradas significativas,
decidimos investigar como estudantes com uma longa trajetória escolar se
posicionam a esse respeito.
A investigação
A pesquisa foi realizada com 40 alunos do último
ano de dois cursos de graduação, sendo 19 do curso de Licenciatura em Física
e 21 do de Ciências Biológicas. Isso significa que eles já tiveram no mínimo
15 anos de estudos escolares, a maioria com idade entre 20 e 25 anos.
Numa aula normal de Didática, solicitamos que selecionassem e descrevessem uma aprendizagem que foi significativa, ficou marcada e bem caracterizada ao longo da sua vida. A descrição foi por escrito numa folha que vinha com as seguintes orientações: “Muitas aprendizagens ocorrem ao longo da nossa vida. Umas mais significativas do que outras. Você certamente consegue lembrar-se de muitas delas, como e quando ocorreram e suas características.
Selecione uma que foi significativa, ficou marcada e bem caracterizada até hoje.
Descreva:
- qual foi a aprendizagem, - em que situação ela ocorreu, - como ela
ocorreu, - as suas características - e porque você a considera
significativa.”
Eles tinham a frente e o verso da folha para apresentar a situação considerada. A maioria usou apenas uma página.
Reunidas
as respostas, fizemos uma leitura inicial de todos os textos, o que permitiu
identificar alguns aspectos relacionados com a aprendizagem, que foram em
seguida analisados.
Um dos aspectos imediatamente identificados foi o de as aprendizagens relatadas envolveram tanto aprendizagens cognitivas, como de atitudes e de habilidades, como mostra o gráfico da figura 3.
Embora esses tipos de aprendizagem normalmente andaram juntas nas situações relatadas pelos estudantes, procuramos fazer essa classificação de acordo com o tipo considerado mais evidente ou predominante em cada situação. Eis alguns exemplos que apareceram nas respostas:
Aprendizagens cognitivas: realizar
operações matemáticas, descobrir e compreender os cinco reinos da natureza,
realizar e entender o experimento de acasalamento, aprender sobre a evolução
humana, aprender sozinha, ler uma partitura, aprender realizando o experimento
de empuxo, adquirir conceitos de mecânica, usar a crase.
Aprendizagens de habilidades: tocar violão, dar aula, andar de bicicleta, aprender a dirigir, aprender a nadar, usar as mãos, estudar, aprender o código morse, realizar cálculos.
Aprendizagens de atitudes, envolvendo basicamente mudança de valores,
atitudes e sentimentos: amadurecer e ser
responsável, gostar de música, desenvolver disciplina, cooperação e dedicação,
aquisição de novos valores, respeito, ouvir e respeitar, conversar e
conviver mais, organizar, melhorar o relacionamento com os outros, adquirir
confiança e tranqüilidade, evitar supérfluos.
Em relação ao local em que ocorreram as aprendizagens relatadas, obviamente houve uma diversidade muito grande, cada caso ocorrendo em seu lugar específico. Nesse caso, julgamos de interesse verificar o número de ocorrências em sala de aula e fora dela. A comparação apontou que número de casos ocorrido fora da sala de aula foi praticamente o dobro daquele ocorrido em sala de aula, numa situação de ensino formal, conforme mostram os números da tabela 1.
Tabela
1. Local de ocorrência das aprendizagens
Local em que ocorreram as situações de aprendizagem significativa | |||
em aula |
fora |
ambos |
sem resposta |
11 | 20 | 5 | 4 |
Por outro lado, a tabela 2 mostra o destaque que foi dado para a participação ativa dos 40 respondentes nas situações por eles relatadas. Apenas dois deles descreveram situações por eles consideradas de aprendizagem significativa em que a sua participação não foi ativa.
Tabela
2. Tipo de participação dos
estudantes nas situações de aprendizagem
Número de participações ativas e passivas dos 40 estudantes na situação em que ocorreu a aprendizagem significativa relatada | |||
ativa |
passiva |
ambas | sem resposta |
29 | 2 | 5 | 4 |
Na análise dos relatos feitos também foi possível fazer uma classificação aproximada do período em que ocorreram as aprendizagens descritas pelos estudantes. Observou-se, conforme mostram os dados da tabela 3, que houve uma certa dispersão do tempo de duração em anos, meses, dias e horas, mas a concentração de casos ficou para aqueles com duração inferior a uma hora.
Tabela
3. Duração
da situação em que ocorreu a aprendizagem significativa
anos | meses | dias | horas | menos de 1 h | sem resposta |
7 | 4 | 2 | 5 | 18 | 4 |
Por que os estudantes consideraram significativa a aprendizagem que relataram? A tabela 4 mostra uma classificação feita a partir dos relatos dos estudantes com a finalidade de tentar agrupar os motivos por eles apresentados em algumas categorias.
Tabela 4. Classificação das indicações feitas pelos 40 estudantes ao responderem porque consideraram significativa a aprendizagem relatada.
CATEGORIA |
INDICAÇÕES |
FREQÜÊNCIA |
1
Aprendizagem de valores, ou reflexos na mudança de comportamentos e/ou procedimentos |
-
... contribuiu para o início de uma nova etapa social, cultural,
pessoal e profissional de minha vida -
cresci muito como pessoa -
aprendi a ouvir e respeitar outras pessoas mais experientes -
ouvir recomendações dos mais experientes -
reeducação, mudança de hábitos -
significou a superação de medos e expectativas, uma vitória -
passei a me preocupar com os outros -
criei coragem -
iniciou meu direcionamento profissional (professor) -
porque me fez enxergar o mundo com outros olhos -
aprendi a superar dificuldades sozinha -
aprendi a me sustentar, a ser independente -
pensar e analisar antes de decidir - não julgar antecipadamente o aluno subestimando ou superestimando seu conhecimento
|
16
|
2 Aplicação do conhecimento
|
-
...permitiu a aplicação dos conhecimentos numa situação prática -
útil para aplicações em situações novas -
aplicação dos princípios físicos numa situação prática, nova -
as atividades seguintes foram mais tranqüilas -
teve reflexos em diversas situações que já enfrentei -
aprendi a lidar com diversos tipos de situações -
abriu novos caminhos e horizontes para estudos mais complexos e outros
métodos -
inter-relação de conteúdos é útil -
aprendi a sair de situações adversas -
agora sei visualizar fenômenos -
aprendi procedimentos - redigir textos corretamente
|
11 |
3 Retenção
|
-
... não esqueci depois de muitos anos -
não esquecerei -
permaneceu -
houve retenção - não ficou dúvida sobre a informação até hoje
|
5 |
4 Satisfação
|
-
... é bom descobrir algo inesperado -
gostei de aprender -
gostei de música e admiro quem toca - foi estimulante
|
4
|
5 Não
responderam
|
4
|
Pode-se observar uma alta incidência de respostas (16) que julgamos representar aquisição de valores ou reflexos na mudança de comportamento e/ou procedimentos a partir da aprendizagem que cada um descreveu. Também merece destaque o número de estudantes (11) que consideraram significativa a aprendizagem relatada porque ela representou uma ou outra forma de aplicação do conhecimento em novas situações enfrentadas. Além dessas, a retenção do conhecimento (5) e a satisfação causada pela aprendizagem (4) foram razões para considerar a aprendizagem descrita como significativa.
De posse desses
resultados obtidos em um primeiro momento, nos interessamos em obter mais
informações dos mesmos estudantes a esse respeito. Com isso, decidimos levar
adiante a investigação em um segundo momento, cerca de um mês após o
primeiro. Queríamos saber deles, por meio de comentários, algo a respeito
dos resultados das tabelas 1 e 2. A solicitação foi feita nos seguintes
termos: “Numa pesquisa realizada com estudantes de nível superior dos
cursos de Física e Ciências Biológicas da UFPel, foi solicitada a indicação
de uma aprendizagem significativa, a situação em que ela ocorreu e as suas
características. A partir das respostas, verificou-se que a maioria indicou
situações em que participaram ativamente, ocorridas em diferentes momentos e
em diversas situações do dia a dia, fora da sala de aula. Comente
esse resultado.”
As respostas obtidas dos estudantes neste segundo momento, permitiram
identificar uma série de motivos ou aspectos apontados para explicar os
resultados anteriormente obtidos sobre as suas considerações feitas no
relato de uma aprendizagem que consideraram significativa. O grande destaque
coube à participação ativa como fator decisivo na aprendizagem e na retenção
do conhecimento. No entendimento dos estudantes, além de ter essa influência
determinante, ela está mais presente nas atividades do quotidiano, sendo este
um dos aspectos que teria contribuído para o relato de um número de situações
de aprendizagem significativa que ocorreram fora da sala de aula maior do que
em aula. Como modos de participação ativa aparecem ações como vivenciar,
sentir, aplicar, fazer, praticar, interagir. Dezenove estudantes
entenderam que as aulas, na forma com que normalmente têm sido desenvolvidas,
pouco contribuem para uma aprendizagem significativa. Sobre essas aulas foram
mencionados aspectos como: são monótonas
e sem novidades, produzem preguiça mental, pouco contribuem para
aprendizagem, são inibidoras, forçam a passividade, não fazem a gente se
sentir responsável. A tabela 5 resume o número de indicações feitas
pelos estudantes. Pode-se ainda observar que houve referências ao interesse,
ao prazer ou gosto, ao estímulo ou motivação, além de outros motivos
apontados como fatores que contribuíram para a ocorrência dos resultados
estabelecidos a partir das informações e dos dados obtidos no primeiro
momento do trabalho.
Tabela 5. Número de indicações feitas pelos estudantes sobre os
motivos ou aspectos que explicam os resultados obtidos no primeiro momento
Ensino aulas |
Participação ativa |
Prazer gosto |
Interesse |
Estímulo motivação |
outros |
19 | 28 | 6 | 9 | 15 | 18* |
*A
soma dos números excede ao total de 40 estudantes porque a maioria fez mais
de uma indicação.
Conclusões e comentários
As respostas
mostraram que as aprendizagens consideradas significativas não foram apenas
cognitivas, mas também de atitudes e de habilidades e caracterizaram-se
predominantemente por envolverem a participação ativa do aprendiz. As situações
em que elas ocorreram foram diversas, mas merece destaque o fato de que a
maioria ocorreu em diferentes momentos e situações do dia a dia, fora da
sala de aula. Os estudantes consideraram a aprendizagem relatada como
significativa principalmente porque ela representou aquisição de valores ou
reflexos na mudança de comportamentos, ou porque serviu para a aplicação
dos conhecimentos em novas situações. A retenção do conhecimento e a
satisfação em aprender também foram mencionadas como motivos para
considerar significativa a aprendizagem descrita.
Quando os estudantes
foram solicitados a comentar esse resultado, numa segunda fase da investigação,
as respostas evidenciaram em parte que isso se deve ao ensino pouco adequado,
mas há fortes e freqüentes destaques a aspectos relacionados com a importância
da participação prática e ativa em termos de vivenciar, sentir, aplicar,
fazer, praticar e interagir. Também são citados o prazer, o interesse, o estímulo
e o gosto maior pelas atividades em situações fora da sala de aula como
motivos para ocorrer a aprendizagem significativa.
Os resultados aqui
relatados são idéias sobre aprendizagem significativa trazidas por
estudantes, semelhantes ou não às de psicólogos e educadores. Os estudantes
que participaram desta investigação apresentaram informações de
aprendizagens que consideraram mais significativas ao longo de suas vidas sem
nunca terem estudado a teoria de Ausubel ou de outros referenciais teóricos.
Assim, realmente não era de se esperar que tivessem trazido indicações da
importância de organizadores prévios, nem processos de diferenciação
progressiva e reconciliação integrativa sugeridos por Ausubel o que, no
entanto, não significa a sua ausência nas situações de aprendizagem
relatadas. Mas, por outro lado, os estudantes enfatizaram a importância da
participação ativa no processo ensino e aprendizagem e, quando foram
solicitados a indicar porque consideraram significativa a aprendizagem
relatada, indicaram categorias como a retenção do conhecimento e sua aplicação
em situações novas, características relacionadas com teorias de
aprendizagem significativa como a de Ausubel. Moreira (1999) mostra que se
pode falar em aprendizagem significativa em distintos referenciais teóricos
construtivistas, ou seja, a aprendizagem significativa é um conceito
subjacente às teorias construtivistas de aprendizagem. Assim também todos nós
temos uma idéia sobre os significados que acompanham o conceito de
aprendizagem significativa. Certamente vários desses significados são
compartilhados por muitas pessoas, mesmo que elas não tenham tido a
oportunidade de familiarizar-se a esse respeito por meio de leituras.
Alguns autores como Novak e Gowin (1999) propõem a idéia de que a
maioria das aprendizagens escolares está mais próxima de ser mecânica do
que significativa. Moreira (1999) também destaca que a facilitação da
aprendizagem significativa em sala de aula não tem nada de trivial. Se não
é trivial aos professores organizarem suas aulas visando esse objetivo, então
a ocorrência dessas aulas deve ser pouco comum e, com isso, a tendência é
de haver possibilidades pouco freqüentes de ocorrer a aprendizagem
significativa. A esse respeito ainda parece pertinente acrescentar que a ocorrência
pouco freqüente da aprendizagem significativa em sala de aula também pode
ser prevista a partir das idéias de Gowin (1981) ao considerar que num episódio
de ensino em que ocorre a interação entre o estudante, o professor e o
material educativo, o estudante capta os significados (compartilhados com o
professor) do conhecimento contido no material educativo. Mas captar o
significado é um passo anterior à aprendizagem significativa. O estudante não
só tem que compreender os significados mas seguir para o duro trabalho de
aprender o assunto de fato por meio de estudos, aplicações e trabalhos
adicionais. Em suas palavras, “O
estudante tem uma grande responsabilidade em selecionar, julgar, revisar,
testar, e reorganizar os muitos significados confusos e conflitantes que
emergem em um episódio de ensino”.
Se por um lado a
aprendizagem é responsabilidade do aprendiz, por outro essas idéias de
ensino e os resultados desta investigação trazem à tona a importância e
necessidade do professor refletir a esse respeito e agir no sentido de tentar
criar condições adequadas para encaminhar a ocorrência da aprendizagem
significativa, mesmo que isso não seja trivial. Esse é um passo que vai além
do seu papel de participar da interação com o estudante e o material
educativo para estabelecer um evento de ensino.
Embora os resultados
deste trabalho mostrem que a maioria das aprendizagens lembradas e mencionadas
pelos estudantes tenha ocorrido fora da sala de aula, não cabe aqui inferir
que aquilo que os estudantes têm aprendido nas escolas geralmente não
representa uma aprendizagem significativa, ou esteja mais próximo da
aprendizagem mecânica do que da significativa. Mas, certamente cabe refletir
sobre o tema, bem como tentar analisar se os processos de ensino e
aprendizagem que estão ocorrendo na educação formal se encontram próximos
ou distantes daqueles sugeridos pelas teorias educacionais e, com isso, tentar
projetar outras investigações, com outros delineamentos e a ampliação dos
referenciais teóricos, levando em conta aspectos sociais que vão além da
educação formal.
A experiência e vivência
educacional nos tem mostrado que as teorias de aprendizagem não são
conhecidas pela grande maioria dos professores das escolas e universidades
brasileiras. E, entre aqueles que as conhecem, nem sempre ou poucas vezes são
utilizadas nas atividades de ensino e aprendizagem. Por que? As teorias são
inadequadas ou complexas demais para serem utilizadas na realidade escolar? Não
pode esta situação estar contribuindo de forma relevante para que a
aprendizagem significativa esteja ocorrendo nesses meios com uma freqüência
menor do que a almejada? Essas e muitas outras questões trazem dúvidas e
motivos suficientes para deixar evidente a necessidade de serem realizadas
novas pesquisas e trabalhos que tentem respondê-las.
AUSUBEL,
D. P. NOVAK, J. D. e HANESIAN, H. (1978), Educational
psychology: a cognitive view. (2a ed.), New York, Holt,
Rinehart e Winston.
GOWIN,
D. Bob (1981). Educating. Ithaca -
NY: Cornell University Press.
MOREIRA,
M. A. e BUCHWEITZ, B. (1993). Novas
estratégias de ensino e aprendizagem: os mapas conceptuais e o vê epistemológico.
Lisboa: Plátano Edições Técnicas.
MOREIRA,
M. A. (1999). Aprendizagem
significativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
NOVAK,
J. D. e GOWIN, D. Bob. (1999). Aprender
a aprender. (2a ed.), Lisboa: Plátano Edições Técnicas.
* Trabalho apresentado no III Encontro Internacional sobre Aprendizagem Significativa, Peniche, Portugal, 2000. Apoio CNPq e FAPERGS.
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