Júlio César Castilho Razera
Departamento de Ciências Biológicas
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
juliorazera@uesb.br
Roberto Nardi
Departamento de Educação, Faculdade de Ciências
Universidade Estadual Paulista
nardi@fc.unesp.br
Resumo
Levantamento realizado em amostras
de publicações recentes sobre o ensino de Ciências,
em periódicos científicos da área, revela que questões
sobre ética e desenvolvimento moral têm sido negligenciadas
nas pesquisas em Educação em Ciências. Valendo-se de
referenciais teóricos que abordam a temática e uma pesquisa
sobre o ensino de temas controvertidos, fazendo uso mais especificamente
do debate criacionismo versus evolucionismo, procuramos mostrar a necessidade
e possibilidades de inserção de questões dessa natureza
em sala de aula, visando ao desenvolvimento da moral no aluno.
Abstract
A review of recent research
outcomes presents in a sample of Science Education journals, shows that
ethics and moral development issues have been neglected in the Science
Education research. Based in theoretical referential directed toward this
theme, and in a research carried out on controversial issues in the Science
Teaching, such as those related to the debate creationism versus evolutionism,
this paper tries to show the necessity and possibilities to take into consideration
questions of this nature in classroom, in order to help developing the
moral in students.
1. Introdução
As pesquisas em ensino de Ciências
tendem cada vez mais a ampliar o foco dos problemas investigados, mas ainda
assim parecem limitadas a algumas temáticas, excluindo outras que
merecem um olhar mais atento dos pesquisadores da área. Pesquisas
que abordam problemas sobre aspectos cognitivos referentes à construção
e ao desenvolvimento do conhecimento, por exemplo, estão presentes
em número significativo nos trabalhos publicados. Por outro lado,
aspectos não menos importantes são negligenciados ou omitidos
no conjunto das investigações da área, como ocorre
com os problemas inerentes ou correlatos aos processos de construção
e evolução da moral no aluno: uma das questões básicas
da ética no ensino.
Estudos de Piaget (1994) e de
Kohlberg (1992), dentre outros, demonstram que o desenvolvimento da criança
ocorre na sua integralidade, ou seja, com a evolução da inteligência
ocorrem alterações ligadas à afetividade, à
socialização e também à moralidade. Portanto,
se existe uma interação entre desenvolvimento moral e evolução
intelectual na criança, “no qual um age na construção
do outro” (PIAGET, 1994, p.295), a ausência de investigações
sobre essa temática provoca inquietação; especialmente
porque o ensino de Ciências agrega temas de natureza polêmica
(atualmente em número cada vez maior) e que potencialmente geram
debates de caráter ético.
No caso do Brasil, a Lei 9.394/96
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e os Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999) sustentam uma perspectiva educacional
que inclui a ética no processo de formação escolar.
Aparece nos documentos uma proposta de instituir "o aprimoramento do educando
como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”
(BRASIL, 1999, p.46). Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam
a ética como tema transversal e reforçam que "o desenvolvimento
de atitudes e valores [é] tão essencial quanto o aprendizado
de conceitos e procedimentos" (BRASIL, 1998, p.62). Para La Taille (1997,
p.7), as propostas de formação ética pressupõem
"um trabalho pedagógico explícito, específico e sistemático
de análise de valores, de aprendizagem de conceitos e práticas
e de desenvolvimento de atitudes que favoreçam a vida democrática”,
justificando o papel institucional da escola nas questões sobre
ética. As discussões que incluem a moralidade na escola,
permeando os conteúdos de todas as disciplinas, no entanto, geram
algumas necessidades. Duas delas, por exemplo, são: i) que as formações
inicial e contínua de docentes contemplem e oportunizem tais experiências;
ii) que as pesquisas em ensino de Ciências também se voltem
para tais questões.
Tomando-se por base esses pressupostos
e os resultados de pesquisa (RAZERA, 2000; RAZERA; NARDI, 2001, 2003) sobre
o posicionamento docente no ensino de temas que podem gerar controvérsias,
como o debate entre criacionismo e evolucionismo, este artigo apresenta
uma reflexão teórico-empírica incidindo sobre algumas
das correlações e inerências entre ensino de Ciências
e desenvolvimento moral (na perspectiva das teorias de Piaget e Kohlberg).
Por efeito de um levantamento sistemático que demonstra ausência
de pesquisas referentes ao tema, também são apresentados
neste artigo a pertinência do problema, algumas questões teóricas
que podem embasar tais discussões e, ainda, as expectativas e necessidades
de um olhar mais atento de pesquisadores e educadores para os aspectos
éticos envolvidos no ensino de Ciências.
2. A ausência de discussões sobre ética e desenvolvimento
moral nas pesquisas em ensino de Ciências
Levantamento realizado em publicações
na área do ensino de Ciências nos últimos anos expõe
a ausência de abordagens e/ou discussões que incidem sobre
aspectos éticos no ensino de Ciências com foco no desenvolvimento
moral. Alguns dados são apresentados a seguir:
i) No conjunto dos títulos e das respectivas referências bibliográficas de 977 trabalhos (comunicações orais e painéis) apresentados nos quatro primeiros eventos do ENPEC (Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências), no Brasil, no período compreendido entre 1997 e 2003, não foi detectado nenhum trabalho com abordagens ou discussões sobre ética no ensino de Ciências. Nas referências bibliográficas desses trabalhos não foram encontradas registros das obras de Piaget (1994) e Kohlberg (1992), respectivamente “O juízo moral na criança” e “Psicologia do desenvolvimento moral”: as duas obras referenciais sobre desenvolvimento moral que dão base aos nossos propósitos.Nos trabalhos mencionados e amostras desses qualificados periódicos há uma ausência significativa de investigações ou ensaios teóricos sobre ética no ensino de Ciências. Em função da importância dessas publicações como fonte de divulgação científica e consulta por parte de pesquisadores e educadores, abre-se pelo menos um questionamento: O que essa ausência pode representar?
ii) A análise dos trabalhos submetidos ao III ENPEC (2001), realizada por Greca, Costa e Moreira (2002), demonstrou uma forte tendência de pesquisa em temas vinculados ao ensino, currículo e formação de professores, havendo poucos trabalhos de investigação na aprendizagem e na avaliação. Nessa análise, os autores detectaram e fizeram breve menção de algumas lacunas temáticas nas pesquisas apresentadas no evento, algumas delas subjacentes aos aspectos éticos, por exemplo, violência na escola, segregação e tratamento diferenciado entre homens e mulheres.
iii) Das 1.483 referências bibliográficas mencionadas nos 64 artigos da Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (RBPEC), desde o primeiro exemplar de 2001 até o volume 3, número 1, de 2003, nenhuma fez citação às obras de Piaget e Kohlberg. Por intermédio da ferramenta de localização automática do aplicativo Adobe® Acrobat Reader[1] versão 5.0, foram rastreados os nomes de Piaget e Kohlberg, além das palavras ética, moral, valor, liberdade, justiça, respeito e cooperação, em versões nas línguas portuguesa, inglesa e francesa. Em francês, nenhuma delas foi encontrada. Em inglês, apenas a palavra justiça foi encontrada uma vez. Em português, a palavra ética apareceu em duas oportunidades e as palavras moral e liberdade, uma. Em nenhum dos artigos, entretanto, essas palavras foram citadas ou utilizadas no contexto específico do ensino de Ciências.
iv) Nos 16 números distribuídos em 10 volumes, entre 1995 e 2004, os 155 artigos publicados na Revista Ciência & Educação apresentaram 585 palavras-chave (ou unitermos). A palavra ética apareceu uma vez, relacionando-se diretamente ao processo da ciência e não ao ensino de Ciências. As palavras valores, atitudes e educação moral também apareceram única vez cada uma. De todos os artigos da revista, nesse período, apenas em um deles houve referência aos trabalhos de Piaget sobre desenvolvimento moral associado ao ensino de Ciências, mas com discussões centradas nos aspectos sócio-emocionais. Esse artigo não fez menção aos estudos de Kohlberg.
v) A Revista Investigações em Ensino de Ciências, no período entre 1996 e 2005, nos seus 28 números distribuídos em 10 volumes, publicou 113 artigos com 321 palavras-chave. Em nenhum deles houve abordagem direta ou indireta sobre aspectos do desenvolvimento moral no ensino de Ciências. Nos artigos também não apareceram citações ou referências sobre Piaget ou Kohlberg. A ferramenta de localização automática do Microsoft Internet Explorer®, na versão 6.0, foi utilizada nesse rastreamento.
vi) Uma busca eletrônica (também com auxílio do web browser mencionado anteriormente) nos 612 títulos de artigos publicados entre 1983 e 1998 na Revista Enseñanza de las Ciências, disponibilizados na internet, não detectou a presença de nenhuma das seguintes palavras, nas versões em português, espanhol, inglês e francês: ética, moral, desenvolvimento moral, respeito, justiça e liberdade.
vii) Na Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, entre 2002 e 2005, em 61 artigos distribuídos nos 10 números, de 4 volumes, foram citadas 257 palavras-chave. Dessas, nenhuma relacionada à ética, à moral, ao desenvolvimento moral ou a outra qualquer inerente a essa temática.
viii) Duarte (2002), por intermédio de consulta às teses de mestrado e doutorado, além de atas de congressos e publicações em revistas nacionais e estrangeiras, identificou os seguintes problemas e/ou temas que têm marcado as pesquisas em ensino de Ciências, em Portugal, nessas duas últimas décadas: Concepções Alternativas; Mudança Conceitual; Trabalho Prático; Resolução de Problemas; Ciência, Tecnologia e Sociedade; Literatura Científica; Atitudes e Expectativas de Alunos; Formação de Professores; Linguagem e Comunicação; História da Ciência; Contextos Informais; Temas Transdisciplinares. Das 166 referências mencionadas por Duarte (2002), apenas uma delas incidiu em abordagem aos aspectos éticos no ensino de Ciências[2] .
ix) De 281 dissertações e teses brasileiras na área do ensino de Ciências (temas relacionados somente à Biologia), produzidas no período compreendido entre 1972 e 2004 e analisadas por Teixeira e Megid Neto (2005), um total de 27 foram alocadas na categoria de foco “Temas Interdisciplinares”. Dentre esses 27 trabalhos, de acordo com os autores[3] , aparecem cinco dissertações de mestrado com abordagens sobre questões éticas (uma da PUC/SP, uma da FE/USP e três da FC/UNESP), e apenas uma delas (apresentada mais adiante neste artigo) com foco no desenvolvimento moral dos alunos.
3. A moral e o ensino: moral também se aprende na escola
Nos labirintos da moral (CORTELLA;
LA TAILLE, 2005) também se faz presente a educação
escolar. Afinal, os valores morais não são inatos. Não
se nascecom valores e nem com receitas ou instruções de procedimentos
para seguir um ou outro caminho; construímos nossas próprias
respostas durante a vida. Não nascemos prontos, mas devemos ser
livres para escolher, agir, transformar e não simplesmente obedecer
cegamente às regras que são impostas (PONCE, 2000).
Em nossa sociedade “o que se costuma valorizar é o cumprimento
das regras”. No entanto, o ato moral "tem de ser composto não apenas
pela obediência às regras, mas também pela escolha
do indivíduo que o realiza" (PONCE, 2000, p.91). As regras são
estabelecidas pela própria sociedade e, portanto, são mutáveis.
Ponce (2000) utiliza-se do exemplo da desobediência de Galileu às
regras da época, não como uma apologia à transgressão,
mas um reforço da idéia de que as regras são construções
humanas passíveis de serem refeitas. Não se esquecendo, por
outro lado, que essas discussões repercutem no relativismo moral
e são cercadas de controvérsias nos muitos debates que envolvem
o multiculturalismo e o universalismo, como em Olivé e Villoro (1996),
Cobern e Loving (2001), Stanley e Brickhouse (2001), Demo (2005), entre
outros.
Diante dos aspectos polêmicos
e cuidados necessários ao tratamento dessa temática, menciona-se
a pertinente preocupação extraída de Demo (2005, p.10),
quando ele diz que “viver a relatividade da vida sem relativismo é
hoje um dos desafios éticos mais contundentes e urgentes, em particular
para práticas democráticas”. Idéias que reforçam
nossas inquietações sobre o tratamento das questões
éticas no ensino de Ciências, pois “ética não
implica permissividade, relativismo, mas tomada crítica de posição”
(DEMO, 2005, p.52). Nesse caso, se ao aluno for caracterizado um perfil
de aceitação inconsciente do discurso do professor, assim
como igualmente a humanidade aos conhecimentos “verdadeiros” da ciência
(como veremos mais adiante), viveríamos uma situação
estática e estendida (alunos e população) de heteronomia
moral, trazendo prejuízos para a construção das práticas
democráticas. Saber escolher, decidindo-se de maneira consciente
pela adesão ou transgressão às regras sociais, e as
respectivas responsabilidades derivadas dessa escolha, faz parte da aprendizagem.
É exercício de autonomia moral.
Formar alunos como pessoas capazes
de refletir sobre os valores existentes significa criar situações
nos conteúdos das disciplinas em que escolhas, reflexões
e críticas sejam solicitadas e possíveis de serem realizadas.
Toda essa formação prática para a moralidade, de acordo
com Menin (2002), entre outros, deve ser trabalhada nos espaços
escolares, na prática pedagógica, nas disciplinas, nos conteúdos
e em todas as situações "em que as relações
humanas e seus conflitos pudessem aparecer e onde se pudesse refletir sobre
as melhores situações para todos".
Por fim, uma atenção
é exigida nesse processo para não reduzir o trabalho da moral
em sala de aula em puro verbalismo ou moralismo, mas em uma prática
inserida no tratamento de conteúdos, em relações cooperativas
e justas com os alunos (MENIN, 2002).
4. O domínio do conhecimento científico e o ensino:
o que se ensina e se aprende de moralidade com a ciência?
Há muitas maneiras de
construir uma interpretação da realidade. Todavia, a científica
atualmente predomina. Assim como no século XIII a “ortodoxia dominante”
era o Cristianismo, hoje é a ciência que se apresenta como
uma “ortodoxia dominante” nas interpretações dos fenômenos
e na construção da realidade, apagando as contribuições
da filosofia, da arte e da religião nesse processo (HEGENBERG, 1969,
p.9). Apesar desse poder aparente dado à ciência, ela não
é capaz de apresentar uma verdade global e universal que seja infalível
(FOUREZ, 1995). A ciência propõe-nos enunciados verificáveis,
mas não verdades imutáveis. Por outro lado, a ciência
não se propõe a resolver questões de escolha de valor,
ainda que ela própria levante esses tipos de problemas (GRANGER,
1994). A própria razão do porquê de um privilégio
da ciência assenta-se em juízo de valor, além de ter
sua condição epistemológica repercutida na “condição
existencial dos cientistas” (SANTOS, 2005).
Sem a necessidade de mencionar
outras discussões derivadas do tema (são muitas e bastante
difundidas), observa-se que essa perspectiva do pensamento científico
delineado pela problemática “se acha distante do universo científico
escolar”, pois a exigência está mais em encontrar respostas
do que na capacidade de pensar sobre os problemas (OLIVEIRA, 2005, p.69).
Se todos esses aspectos não aparecem nas aulas de Ciências
ou “quando o conhecimento é utilizado como forma de submissão,
quando se obriga o aluno a aceitar como ato de fé aquilo que não
entende” (MORENO, 1998, p. 33), nesse caso estaria configurado um obstáculo
indesejável para o aprendiz, comprometendo seu desenvolvimento cognitivo
e moral, pois são nítidos os elementos de heteronomia moral
em tais situações.
Assim como devemos rejeitar
a visão arcaica de ciência entendida em critérios de
neutralidade e verdades absolutas acumuladas ao longo do tempo, também
hoje devemos rejeitar o ensino implícito e transmissivo de valores
que podem acompanhar essa idéia de ciência, como se houvesse
neutralidade ou como se os valores também seguissem prontos e acabados.
“Em ambos os campos não há verdades prontas, certezas absolutas,
dogmas perante os quais é necessário curvar-se” (OLIVEIRA,
2005, p.74). Integrar a ciência e o seu ensino por intermédio
dessa perspectiva é mais uma exigência que recai sobre os
professores. E ao aluno deve ser oferecido na educação escolar
um ambiente histórico mais real de construção humana,
no qual eles devem se sentir participantes e com capacidades para optar
diante das diferentes perspectivas à frente. Quando "os alunos aprendem
a elaborar razões que lhes permitem aceitar ou rejeitar as formas
de atuação que existem em seu meio, são capazes de
descobrir aspectos da realidade objetiva e subjetiva que antes lhes passavam
despercebidos" (SASTRE; FERNANDEZ, 1998, p.167). O processo formal do ensino
de Ciências não pode ficar alheio a esses pressupostos ou
“correrá o risco de preparar os estudantes para um futuro inexistente”,
de acordo com Moreno (1998, p. 23).
5. Desenvolvimento moral nas aulas de Ciências
Estudos de Piaget (1994) e Kohlberg
(1992) demonstram que ocorre ao longo do tempo na criança a construção
e a evolução da moral, ou seja, ela se desenvolve progressivamente
passando por várias fases e etapas, desde a heteronomia até
à autonomia moral[4]
. A teoria de Lawrence Kohlberg, em seqüência aos trabalhos
de Jean Piaget, considera três níveis hierárquicos
de desenvolvimento moral, cada qual com dois estágios. No nível
Pré-Convencional estão as noções simples de
bem e mal, certo e errado. No estágio um desse nível, as
ações são qualificadas como boas ou más, dependendo
do que tais ações vão acarretar para as pessoas. Respeita-se
a uma autoridade, que seria inquestionável. No estágio dois
do Nível Pré-Convencional, as ações denominadas
corretas satisfazem as necessidades próprias ou talvez as de outros.
O segundo nível é o Convencional, que consiste na moral voltada
para manter a ordem convencionada pela sociedade. O estágio três,
que faz parte desse nível, o moralmente bom liga-se à aprovação
dos outros. O estágio quatro é caracterizado pela manutenção
das normas. Respeitam-se as regras e as autoridades. O terceiro e último
nível é o Pós-Convencional, caracterizado por distinguir
valores e princípios válidos independentemente da autoridade.
No estágio cinco, as leis não são mais válidas
apenas por que são leis, entrando o consenso e a consciência
de relatividade entre os valores e as regras. No último estágio,
é moralmente correto seguir princípios fundamentados em critérios
universais de justiça.
Para garantir a evolução
intelectual e moral da criança, segundo Piaget (1994), não
se deve contar só com a natureza biológica, quando é
constatado que ambas as normas, moral e lógica, são produtos
da cooperação, ou seja, não ocorre no individualismo,
mas somente na interação social. Tal constatação,
inclusive, reforça o indicativo de que as estratégias de
trabalho em grupo sejam utilizadas em sala de aula, com as iniciativas
compartilhadas com as crianças na condução do trabalho.
E se a educação escolar visa à autonomia, não
é possível que haja coação, mas cooperação.
5.1 - Situações, limites e possibilidades:
Imaginemos uma sala de aula
qualquer. Convivem dentre os estudantes várias culturas, diferentes
valores; um verdadeiro microcosmo, segundo Vasconcelos (1996). Discussões
cada vez mais profundas sobre essa abordagem multicultural envolvendo questões
polêmicas aparecem em vários trabalhos na literatura, entre
outros, Southerland (2000), Cobern (2000), Cobern e Loving (2001), Stanley
e Brikhouse (2001), Siegel (2002), Demo (2005). Especificamente nas aulas
de Ciências, muitos são os temas que podem trazer polêmica:
eutanásia, aborto, alimentos transgênicos, clonagem, sexualidade,
origens e evolução das espécies (e do homem). Que
atitudes tomar? Como lidar com as controvérsias quando há
o envolvimento de diferentes tipos de valores? Sendo a moral também
aprendida por intermédio de gestos, atitudes e palavras, o que fazer?
Segundo Fourez (1995), numa situação dessas, na ânsia
de legitimar a ciência, os professores muitas vezes omitem os traços,
componentes ou vestígios históricos e situacionais da origem,
da fonte daquilo que não podemos chamar de verdade, mas somente
de válido para aquela situação, naquele momento e
para aquele grupo social. Devemos acreditar de modo incondicional na ciência?
Será que não é isso que tentamos, muitas vezes inconscientemente,
fazer nossos alunos acreditar, sem levar em consideração,
por exemplo, a sua cultura, os seus valores, a sua religião?
Para defensores do universalismo,
o conhecimento científico está além dos aspectos multiculturais,
porque a ciência teria caráter universal; enquanto os multiculturalistas
criticam e apontam para o fator restrito e exclusivo nessa linha de pensamento
dos universalistas. Há ainda, nesse intenso debate, um terceiro
posicionamento de ponderação entre os dois, como em Cobern
e Loving (2001), que se utiliza do argumento da demarcação
dos diferentes tipos de conhecimento, impedindo, assim, a sobreposição
ou superioridade de um sobre o outro.
Do ponto de vista pedagógico,
essa terceira posição se encontra com a proposta de Vincenti
(1994), na qual nenhuma verdade pode ser aceita ou admitida, mas que ela
seja construída e reconhecida. Para condução a ações
morais efetivamente livres, a educação formal não
pode trilhar por caminhos que aniquilam a vontade de escolha dos alunos,
agindo-se como se os estudantes não tivessem nenhum valor moral.
A escola deve ter como objetivo o estímulo que possa levar os alunos
à compreensão de quais são realmente os seus valores,
para se sentirem responsáveis e comprometidos com os mesmos (PUIG,
1998); evitando-se, portanto, todo e qualquer tipo de doutrinação
ou inculcação.
Na perspectiva de favorecimento
para o desenvolvimento moral, espera-se do professor um esforço
consciente e deliberado para não se mostrar tendencioso diante de
diferentes opiniões de um debate entre seus alunos, sendo educacionalmente
desejável, num tema evidenciado pela polêmica de extremismos,
que aos alunos seja permitido “fazer a mente deles próprios” à
luz de todas as evidências abordadas (LEWIS, 1986).
A moral da consciência
autônoma, de acordo com Piaget (1994, p.295), "não tende a
submeter as personalidades a regras comuns: limita-se a obrigar os indivíduos
a se situarem uns em relação aos outros", mas sem que nas
resultantes dessa reciprocidade sejam suprimidos os pontos de vista particulares.
Não cabe nas relações pedagógicas, portanto,
qualquer ato de violência que possa interceptar o desenvolvimento
moral do aluno. Violência, nesse caso, entendida na perspectiva de
Chauí (1997), ou seja, qualquer força física ou coação
psíquica que obrigue o indivíduo a fazer algo contrário
a si, aos seus interesses e desejos, à sua consciência.
5.2 - Discursos ideológicos no ensino de Ciências:
Ensinar Ciências a fim
de propiciar o desenvolvimento moral significa revelar as intenções,
os contextos de valores e ideologias que se fazem presentes em todas as
situações interpessoais e de conteúdo, incluindo a
sala de aula. Para Bicudo (1982), as diferentes ideologias não podem
ser ignoradas na perspectiva da moral, mas discutidas e sempre desveladas.
Fundamentado em tais propósitos,
o ensino de Ciências pode possibilitar aos estudantes a percepção
dos diferentes tipos de valores, individuais ou coletivos, tornando possível
que entendam como os valores são gerados e chegam até eles
por meio de diferentes discursos. Distinguem-se, segundo Fourez (1995)
dois tipos de véus ideológicos que revestem os discursos:
um denominado de normal e, portanto, inevitável, aceitável;
e outro que mereceria ser sempre, nas suas palavras, desmascarado. Ele
chama o discurso ideológico normal ou inevitável de um “discurso
ideológico de primeiro grau”, pelo qual as representações
de sua construção aparecem de forma mais nítida, são
detectadas. Seria nesse tipo de discurso que a prática científica
construiria os seus conceitos. Mas “quando os traços históricos
dessa construção quase desaparecem e se pretende, prática
ou teoricamente, implícita ou explicitamente, que a noção
seja objetiva e eterna”, Fourez chama de “uma ideologia do segundo grau”,
a ideologia cujos traços de sua construção não
aparecem, ou seja, “foram suprimidos”. Esse último tipo de discurso
é “profundamente manipulador”, pois apresenta como naturais as opções
que são particulares. Portanto, os discursos ideológicos
do primeiro grau tornam-se aceitáveis, visto que aparecem neles
a consciência da parcialidade de sua construção. Em
contrapartida, os de segundo grau são inaceitáveis “do ponto
de vista ético”, pois se apresentam omissos naquilo que seria discutível;
restringindo, assim, a liberdade das pessoas. Quando alguém diz
“A igreja católica é contra o aborto”, os elementos ideológicos
nitidamente estão expostos na proposição. Não
são, por isso, manipuladores. Mas se alguém diz “A teoria
da evolução é oposta à realidade, é
efetivamente uma mentira”, encontramos nessa afirmação a
omissão de sua construção, de sua parcialidade, dando
o entendimento de alguma lei geral. Seria, portanto, uma ideologia de segundo
grau.
Para Fourez (1995), em geral
é de uma maneira inconsciente que as pessoas veiculam ideologias.
Muitas vezes, “as representações ideológicas por nós
veiculadas existem independentemente de nossas intenções”.
Seria importante uma “análise precisa a fim de discernir o que são
os conteúdos ideológicos de nossos discursos” para, então,
“decidir se queremos ou não propagar as ideologias veiculadas por
nossos discursos” (p.189). Tomando-se por base que todos nós temos
uma representação de mundo, influenciada por nossos critérios
e nosso meio social, não sendo, portanto, neutra, seria impossível
a nossa não veiculação de alguma ideologia, pelo menos
de primeiro grau. No ensino de Ciências é indispensável
uma reflexão desse tipo, pois se lida diretamente com a transmissão
de toda uma visão necessariamente ideológica de mundo.
6. Assuntos controvertidos no ensino de Ciências: resultados
de uma pesquisa sobre atitudes de professores e implicações
para o desenvolvimento moral dos alunos
Moralidade e ensino de Ciências
constituíram o foco de uma pesquisa realizada por Razera (2000),
com professores de Biologia de escolas públicas e particulares jurisdicionados
na região da Diretoria de Ensino de Bauru, no Estado de São
Paulo. Nesse estudo investigativo foram inseridas, analisadas e discutidas
algumas possibilidades de relações éticas em sala
de aula, mais especificamente nas atitudes inerentes ao tratamento de assuntos
ou temas científicos polêmicos e suas respectivas conseqüências
para o desenvolvimento moral dos estudantes. Com a escolha recaindo sobre
a controvérsia “evolucionismo versus criacionismo”, a investigação
convergiu para os seguintes questionamentos: “Que atitudes e implicações
para o desenvolvimento moral dos alunos estariam configuradas nas representações
dos professores de Biologia sobre o ensino de evolução dos
seres vivos, diante de questões éticas geradas pelas controvérsias
do tema?” Atitudes múltiplas ou unívocas? Tomando-se por
base as teorias de Piaget e Kohlberg, no plano didático-pedagógico
as atitudes dos professores estariam próximas ou distantes da perspectiva
ética de favorecimento ao desenvolvimento moral dos alunos?
Nas entrevistas realizadas, os professores foram submetidos a diferentes
situações simuladas de controvérsias entre evolucionismo
e criacionismo. A investigação centrou-se nos discursos desses
professores, que foram sistematizados e trabalhados com recursos da técnica
de Análise de Asserção Avaliativa, de Bardin (1977),
e elementos básicos de semântica de discurso de Fiorin (1996).
No aspecto geral, os resultados
da pesquisa mostraram elementos sintáticos de atitudes benéficas
à autonomia moral (RAZERA; NARDI, 2001, 2003). Mesmo quando os alunos
foram virtualmente colocados em plano de oposição aos professores
e à ciência, os discursos denotaram desaprovação
a fatores que pudessem inibir ou perturbar o processo de desenvolvimento
moral: "O professor deve expor seu ponto de vista, já que defende
o evolucionismo; mas deve respeitar a opinião do seu aluno" (TKO,
23 anos de magistério); "Eu vejo esse professor como autoritário,
achando que ele é dono da verdade, que o que ele aceita tem que
ser aceito pelos alunos; Eu não concordo com isso" (ECF, 28 anos
de magistério); "Qualquer atitude impensada do professor, [ou] um
conceito incorreto, pode ter conseqüência para a estruturação
psicológica do aluno" (ALS, 9 anos de magistério).
Todavia, elementos sintáticos
nos enunciados dos professores demonstraram ausência de determinadas
percepções éticas subjacentes ao tema discutido e
existência de falhas na formação docente, contribuindo,
nesse caso, negativamente no processo de desenvolvimento moral dos alunos:
"Respeitaria a sua opinião, mas o faria ver seu erro" (TKO, 23 anos
de magistério, grifo dos autores); "Primeiro, eu respeitaria as
suas idéias [do aluno], depois, faria o possível para ele
compreender a teoria com nossos [da ciência] argumentos e explicações.
Aconselharia a adaptar-se aos conceitos atuais" (JCF, 24 anos de magistério,
grifo dos autores).
Em diferentes momentos de confrontos
simulados, com possibilidades para detectar uma opção entre
evolucionismo e criacionismo, o estudo revela que o posicionamento inicial
dos professores revelou tendências ao evolucionismo, assim como também
mostra a existência de professores de Ciências nitidamente
ligados a idéias do criacionismo. As tendências para uma ou
outra teoria não se mostraram construídas somente com conhecimentos
adquiridos por meio de uma educação formal em ciência,
mas mostra também a marca advinda da crença religiosa: "Os
seres vivos sofrem evolução ao longo dos tempos. Eu, particularmente,
acredito que Deus existe, sendo o criacionismo a origem das espécies.
Num segundo momento, essas espécies sofreram evolução
e se modificaram" (AAV, 4 anos de magistério); "Deus criou o mundo
e os seres vivos para evoluírem gradativamente" (JCF, 24 anos de
magistério).
Houve clara similitude entre
o posicionamento dos professores com o que eles próprios indicaram
em relação à expectativa de posicionamento de seus
alunos diante do tema polêmico. O professor que se posicionou na
categoria eufórica[5]
do evolucionismo também posicionou o que ele acreditava do aluno
na mesma categoria, ou seja, os professores posicionaram os alunos compartilhando
as categorias de suas idéias. O fato repetiu-se em outros casos
analisados, dando créditos de que esses professores e seus respectivos
alunos teriam um ponto de partida semelhante nas controvérsias,
o que pode representar um trabalho inconsciente de sala de aula, influenciado
por essas perspectivas que o professor tem dos alunos: "A maioria dos meus
alunos é criacionista" (ECF, 28 anos de magistério); "A maioria
[dos alunos] acredita na evolução dos seres vivos" (JCF,
24 anos de magistério).
Independente do posicionamento
dos professores na defesa de uma ou de outra teoria, não foram detectadas
representações que identificassem atitudes de total heteronomia
que pudessem causar grandes prejuízos ao desenvolvimento moral dos
alunos. Em geral, os discursos trouxeram elementos sintáticos do
campo da ética, como respeito, justiça, liberdade, igualdade
e benevolência que, transferidos à prática docente,
atuariam em benefício da autonomia moral dos alunos. Por outro lado,
a análise de unidades de significação nos discursos
dos professores também revelou que traços de indesejáveis
ideologias são veiculados, mesmo que de forma inconsciente, aos
alunos: "Eu apresento a minha maneira de pensar, que é o criacionismo"
(ECF, 28 anos de magistério); "Os livros, hoje em dia, eu não
acho certo.; são unilaterais, defendem somente o evolucionismo"
(ECF, 28 anos de magistério).
Ainda em simulações
de oposição nas controvérsias, houve maiores prestígios
de favorecimento às idéias dos alunos, mesmo que essas idéias
apresentassem total divergência com as do professor. Em situações
semelhantes, mas agora envolvendo apenas professores, as cobranças
que ocorreram aos docentes de outros componentes curriculares foram menores
do que as que ocorreram aos de Ciências e Biologia. Professores de
outros componentes curriculares foram representados com menores obrigações
éticas em circunstâncias de controvérsias nos assuntos
científicos. Cobranças éticas foram maiores sobre
as atitudes dos professores de Ciências e Biologia, talvez por causa
da especificidade e da vinculação do conteúdo com
a ciência: "Acharia o professor ignorante em Biologia e também
que ele não é obrigado a saber outra matéria diferente
da sua" (CLT, 35 anos de magistério); "Não se admite um professor
de Biologia ignorante nesse assunto [sobre evolução]" (CLT,
35 anos de magistério).
O desprezo e/ou a ausência
de fatores ligados à moralidade não foram observados nas
atitudes dos professores. Pareceu, porém, que a moralidade nas representações
estava mais ligada à sensibilidade humana do que a um conhecimento
sistematizado acerca dos processos de construção e desenvolvimento
moral. Mesmo com a presença dessa sensibilidade nos discursos, ainda
foram observadas atitudes ligadas a linhas educacionais tradicionais do
passado e distantes de uma preocupação com a ética
na sala de aula. Nos discursos apresentados, o papel do professor, por
exemplo, não se mostrou bem definido para as exigências atuais
sugeridas pelas próprias representações deles, pois
quando pareciam pender ao delineamento de um novo desenho voltado para
um processo de co-participação ou colaboração
na aprendizagem, ainda resvalavam em idéias de processos pedagógicos
pouco ou nada favoráveis ao desenvolvimento cognitivo e moral: "É
um entrave para mim a posição que certos alunos carregam,
trazida da própria sociedade, como religião, noção
da família, sexo, cultura" (LLM, 5 anos de magistério).
Assim como os textos utilizados na entrevista apresentaram aspectos
predominantemente religiosos, também o conjunto de representações
dos professores mostrou a mesma tendência, ou seja, as atitudes representadas
apareceram circunscritas aos aspectos provocantes dos textos (religião).
Outros contextos - histórico, social, econômico, cultural
etc. - implicitamente presentes nas polêmicas não foram utilizados
nas argumentações, o que nos permitiu pensar que, na realidade
de sala de aula, tais aspectos também podem permanecer ausentes.
A limitação das discussões aos enfoques da ciência
e da religião, observada não somente nos textos e nas representações
dos professores, mas também em diferentes trabalhos sobre o tema,
traz prejuízos à disseminação de importantes
informações que poderiam subsidiar debates de maior amplitude,
envolvendo, por exemplo, as ideologias subjacentes nas manifestações
políticas de tais polêmicas.
7. Considerações finais: compromissos e expectativas para
um ensino de Ciências permeado pela ética do desenvolvimento
moral
Não há como duvidar
que questões de ética e de responsabilidade social inevitavelmente
fazem parte da educação em ciência, deixando professores
expostos constantemente ao tratamento de valores globais diversos (FRAZER;
KORNHAUSER, 1986).
Por isso, o ensino de Ciências
deve ser projetado para um processo no qual todo o campo de ação
do desenvolvimento pedagógico entre alunos, professores, conteúdos,
metodologias etc. apresente tendências éticas nas suas relações.
Ainda torna-se necessário,
por exemplo, que as “verdades científicas”, ou ideologias de segundo
grau, deixem de ser impostas aos alunos, mesmo que elas possam parecer
brandas ou irrelevantes. E não apenas isso: discursos e gestos ou
atitudes dos adultos perante as crianças devem sempre estar em consonância.
Situações de rígida ou incisiva interferência
do professor em discussões geradas por conteúdos polêmicos
de aula não devem ser aceitas quando expressam sentido contrário
à autonomia dos alunos, pois a escolha entre as diferentes opções
deve fazer parte do aprendizado das crianças.
O papel do professor deve ampliar-se
para além dos aspectos cognitivos, dirigindo-se a metodologias ou
estratégias que requerem conhecimentos mais específicos e
formais sobre a ética e a moral. E “formação ética
exige pesquisa assídua” (DEMO, 2005, p.91). Para tanto, os projetos
pedagógicos dos cursos de licenciatura deveriam ser repensados e
reestruturados com a finalidade dessa garantia, ou seja, que o futuro professor
possa, já na sua formação inicial discutir temas polêmicos
ou controvertidos e metodologias de ensino que contemplem as possibilidades
de contribuir para a formação ética e moral do estudante.
Diante da complexa, mas importante e privilegiada missão a ser
desempenhada pelo professor em todo esse processo, justifica-se a grande
preocupação de Piaget (1996), entre outros, com a formação
intelectual e moral do corpo docente, na qual a boa preparação
universitária é de extrema importância para a formação
técnica e psicológica dos docentes.
Diante dessa perspectiva, espera-se
do ensino de Ciências se prestar ao estímulo do desenvolvimento
moral dos alunos e não apenas do cognitivo, ainda mais porque essa
disciplina trabalha com muitas possibilidades de conteúdos polêmicos,
ou seja, um terreno fértil para discussões que envolvem questões
que podem propiciar a construção da ética e da moral
no aluno.
Para finalizar, vale ressaltar
que se a escola não estiver preocupada com o núcleo central
dessas discussões, deveria rever esse posicionamento. Se o professor
não estiver consciente de que também é responsável
pelo desenvolvimento moral de seus alunos, pode ser indício de falhas
na sua formação. E se a universidade, responsável
pelo ensino, pesquisa e extensão, incluindo a formação
do professor, também não se preocupar, algo deve ser feito
com muita urgência para quebrar esse círculo vicioso.
O levantamento realizado mostra
a necessidade de um número maior de investigações
sobre temas como aqueles abordados na pesquisa citada neste artigo. Além
de preencher lacunas existentes, tais pesquisas contribuirão para
dar mais consistência aos rumos tomados pelo ensino de Ciências,
notadamente nos dias atuais com as inserções e discussões
crescentes de temas polêmicos em praticamente todas as áreas
do conhecimento.
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[1] Este aplicativo foi utilizado porque os artigos da RBPEC na internet são disponibilizados em extensão PDF. (volta para o texto)
[2] RAFAEL, A. Educação em valores no ensino das Ciências da Natureza. Dissertação de Mestrado, Universidade de Aveiro, Portugal, 1994. (volta para o texto)
[3] Informações verbais de dados ainda não publicados (tese em andamento). (volta para o texto)
[4] Piaget e Kohlberg utilizam os mesmos conceitos de Kant para autonomia e heteronomia moral, ou seja, referem-se à forma de obediência e não às normas ou regras. Assim, heteronomia moral é a obediência motivada por controle externo, por interesse, enquanto autonomia moral é a obediência motivada por controle interno, na escolha de um princípio aceito como válido. (volta para o texto)
[5] De acordo com Fiorin (1996, p.20),
"cada um dos elementos da categoria semântica de base de um texto
recebe a qualificação semântica /euforia/ versus /disforia/.
O termo ao qual é aplicada a marca /euforia/ é considerado
um valor positivo; aquele a que foi dada a qualificação /disforia/
é visto como um valor negativo”. Euforia e disforia “não
são valores determinados pelo sistema axiológico do leitor,
mas aparecem inscritos no texto”. (volta para o texto)
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