SELEÇÃO DE EXPERIMENTOS
DE FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: UMA INVESTIGAÇÃO
A PARTIR DA FALA DOS PROFESSORES
(Selection of Physics experiments in high school: An investigation
from the teachers' speech)
Carlos Eduardo Laburú*
Depto. de Física, Universidade Estadual de Londrina
CEP 86051-970, Cx.P. 6001, Londrina, PR
laburu@uel.br
Resumo
A partir da fala de professores
de física, este trabalho investiga, primeiramente, as justificativas
dadas para a escolha de determinados experimentos e equipamentos em aulas,
no ensino médio. A idéia é compreender que motivos
estão por detrás dessa escolha e mostrar que existem padrões
de decisão comuns entre os entrevistados para essa seleção.
Num segundo momento, faz-se uma comparação dos resultados
encontrados com investigações que tratam dos objetivos do
laboratório didático na literatura em educação
científica.
Palavras-chave: física, ensino médio, experimentos,
seleção.
Abstract
Through the physics teachers'
speech this work investigates, firstly, the justifications given for the
choice of certain experiments and equipments in medium teaching classes.
The idea is to understand which reasons are from behind of that choice
and to show which patterns of common decision exist among the interviewees
for that selection. In a second moment it is made a comparison of the results
found with investigations that treat the objectives of the didactic laboratory
in the literature in scientific education.
Keywords: high school physics, experiments, selection.
Reflexões a respeito
do laboratório didático no ensino de física são
encontradas há um bom tempo, como, por exemplo, em Nedelsky (1958)
ou Michels (1962), sendo que nos anos setenta é possível
destacar o trabalho de Schwab pela adesão mais contundente ao laboratório
por autodescoberta (apud Trumper 2003: 646). Mas nos últimos vinte
e cinco anos, aproximadamente, é que se encontra uma crescente e
sistemática produção na literatura específica
em ensino de ciências, investigando o assunto nos seus mais diversos
pontos de vista. Os enfoques de investigação varrem um largo
espectro, indo do ensino fundamental ao universitário. Entre os
diversos estudos poderíamos citar aqueles com preocupação
centrada em conteúdos específicos do laboratório,
como a questão da medida, da determinação de constantes
físicas (Allie et al. 2001; Ryder & Leach 2000; Lubben &
Millar 1996; Coelho 1993; Séré et al. 1993; Cudmani et al.
1995; Sandoval 1990) ou das diversas abordagens didáticas que um
experimento pode fornecer (Séré et al. 2003; Laburú
2003). Outros enfatizam mais os procedimentos e o desenvolvimento de habilidades,
como o uso e manipulação acurada dos instrumentos e técnicas
laboratoriais, de organização e comunicação,
desenvoltura para questionar, pensar criticamente, resolver problemas,
procurando debater a relação processo versus conteúdo
(Trumper 2003: 646; Kirschener 1992; Hodson 1985; 1990; Solomon 1988; Nedelsky
1958). Alguns analisam os objetivos do laboratório, seu papel e
características ou ressaltam a estruturação didática,
as etapas do método científico, a importância da introdução
de experimentos fundamentais (Nedelsky 1958; Moreira 1980; Sandoval &
Cudmani 1992; Kirschener 1992; Gott & Mashiter 1994; Doran et al 1995;
Gil & Castro 1996; Welzel et al. 1998; Lianko 1999; Hirvonen &
Viiri 2002; Golin 2002; Séré et al. 2003). Há trabalhos
que centram mais a atenção na natureza epistemológica
e na relação desta com o ensino e aprendizagem (Arruda et
al. 2001; Cudmani & Sandoval 1992; Millar 1987, 1994; Matthews 1994;
Kirschner 1992; Duhem 1989; Solomon 1988; Martins 1982), que investigam
a questão da dinâmica de grupo de estudantes no trabalho de
laboratório por meio de referenciais psicanalíticos (Barolli
1998), ou que buscam métodos alternativos de avaliação
dos estudantes, mais apropriados às características pedagógicas
desenvolvidas em ambiente de laboratório (Hofstein & Lunetta
2004: 42 - 44). Há os que buscam identificar as dimensões
do interesse (Martinez & Haertel 1991), que analisam o benefício
de um experimento em termos dos resultados das atitudes dos alunos frente
a um estilo de instrução aberto e questionador, comparado
a um estilo expositivo (Berg et al. 2003). Inclui-se, ainda, os que buscam
as diferentes percepções dos alunos e professores a respeito
do propósito do laboratório (Tsai 2003; Sebastia 1987) e
que comparam o planejamento das atividades práticas com as razões
para esse planejamento (Richoux & Beaufils 2003). Para terminar, temos
os que, por meio de grandes projetos, mostram as práticas comuns
vinculadas a objetivos gerais dos diversos laboratórios do ensino
médio e universitário de vários países da Europa
(Séré 2002; Welzel et al. 1998), inclusive, apontando as
diferenciações e particularidades dos laboratórios
de física, química e biologia (Tiberghien et al. 2001) etc..
Apesar do grande número de estudos
realizados e do matiz de assuntos, uma pesquisa concentrada nos motivos
para a escolha de determinados experimentos pelos professores, parece não
estar presente na bibliografia. Hoje em dia é substancial o “showroom”
de experimentos e equipamentos didáticos com os quais se podem tomar
contato pelos periódicos, livros, “sites” e eventos da área
de ensino de ciências, como, também, por ocasião de
cursos de extensão, pela televisão ou por catálogos
comerciais e, ainda, mais raramente, em locais de exposições
permanentes, possíveis de serem visitados em alguns grandes centros.
Isto sem contar com o presumível contato obrigatório que
deveriam ter os futuros profissionais de cada área, durante os seus
cursos específicos de licenciatura.
Assim sendo, uma questão
de interesse a investigar é compreender as razões que levam
o educador científico em Física do ensino médio a
selecionar, para as suas aulas, determinados experimentos ou equipamentos,
quando ele tem alternativas para essa decisão. Então, preocupa-nos
identificar e conhecer que padrões de discurso mantêm os professores
de Física para essa seleção, já que esses padrões
devem estar em função do que eles tomam como importante,
quando priorizam uma determinada experiência. Por coerência,
encontrar-se-ão fora da atenção deste estudo aquelas
idéias óbvias que possivelmente vinculam a escolha de determinados
equipamentos ou experimentos à disponibilidade dos mesmos na escola,
ou por serem os únicos que o professor sabe manipular e conhece
ou, ainda, deve seguir algum manual por determinação burocrática
institucional, portanto, onde não há a possibilidade de opção.
Para complementar este trabalho,
faremos uma comparação dos resultados encontrados com estudos
em educação científica a respeito do laboratório
didático que tenham uma aproximação com as preocupações
aqui examinadas.
Esta pesquisa é um
estudo de tipo qualitativo que focalizou uma amostra de sujeitos com contorno
particular. A mostra constou de vinte e seis (26) licenciandos de final
de cursos (2002 e 2003) e de onze (11) licenciados em Física da
Universidade Estadual de Londrina (2001), que faziam especialização
na mesma instituição. Os investigados já haviam passado
por cursos de laboratórios de Física Básica nos dois
primeiros anos, por um laboratório de Física Moderna e um
curso anual de Instrumentação para o Ensino de Física,
no terceiro ano. A totalidade dos licenciados e um terço dos licenciandos
ministrava aulas no ensino básico e todos eles declararam que, na
medida do possível, utilizavam aulas experimentais; no entanto,
o restante dois terços dos licenciandos passou por estágio
obrigatório, onde tiveram que ministrar aulas teóricas e
práticas.
Os dados foram obtidos por
meio de um questionário escrito, entregue aos participantes, em
que se buscou captar as suas perspectivas e significados pessoais. Quando
pontos do questionário se mostraram ambíguos, foram feitas
entrevistas de esclarecimento.
O questionário consistiu
dos seguintes pares de perguntas:
1.1 - Selecione até cinco experimentos que você usaria
com seus alunos;
1.2
– Explique, em detalhes, a razão para a escolha desses experimentos;
2.1
- Selecione até cinco experimentos que dificilmente você usaria
com seus alunos;
2.2
- Explique em detalhes a razão para a escolha desses experimentos.
Como se vê, o segundo
conjunto de perguntas é a negativa do primeiro. A intenção
com o segundo par, foi cruzar e complementar as informações
do primeiro par. Esse segundo conjunto de perguntas auxiliou a esclarecer
as duas perguntas iniciais e até forneceu novos discursos, já
que, partindo da negação da resposta fornecida, podemos chegar
às razões do primeiro par.
O tratamento de dados foi
qualitativo e a preocupação central, como dito, encontra-se
nos tipos de falas apresentadas.
Na seção abaixo,
veremos que as falas dos sujeitos da amostra puderam ser dispostos num
conjunto de quatro categorias que revelam a escolha ou a prioridade dada
a um determinado equipamento ou experimento. Cada categoria foi construída
com o objetivo de indicar as idéias comuns dos participantes (representados
pela letra P), sendo diferenciadas pelo destaque das palavras-chaves, verbos
de ação ou sentenças curtas utilizadas, que sintetizam
as argumentações empregadas, procurando ser fiel com expressões
equivalentes empregadas ou com a intenção das mesmas. Como
se notará, muitos participantes forneceram em suas falas mais de
uma razão diferente para justificar a sua escolha, o que permitiu
a sua classificação em várias categorias. Para ser
classificado numa categoria, os participantes deveriam fornecer pelo menos
uma das razões especificadas por ela, mas também foi corriqueira
a apresentação de mais de uma razão dentro da mesma
categoria. Entre parênteses, destacam-se comentários do pesquisador,
com o objetivo de esclarecimento das palavras-chave ou sentenças.
Apesar da investigação
ser qualitativa, a opção em distribuir os participantes nas
categorias permite verificar a concentração de algumas respostas
fornecidas pelos investigados e, deste modo, o trabalho mostra uma tendência
da amostra pesquisada em priorizar certos critérios.
Resultados e Análise
Os resultados obtidos puderam
ser sintetizados e organizados nas seguintes categorias:
1. Categoria motivacional
P1, P3, P6, P10, P13, P14,
P15, P17, P18, P19, P20, P21, P22, P23, P25, P34, P35, P36, P37 – Porque
chama ou prende a atenção (em todas as etapas do experimento);
desperta a curiosidade ou a provoca por gerar conflito cognitivo; surpreende;
espanta; (faz- se) algo como um “passe de mágica” (aspas do próprio
P34); motiva; são legais; interessantes (num sentido geral ou por
mostrar o fenômeno); causa um impacto; impressiona visualmente; diverte
aprendendo; porque faz coisas que o aluno nem imagina; são curiosos;
porque é simples; aparentemente não parece ter relação
com algo (com nada), mas demonstra ser útil no cotidiano (por exemplo:
produzir um motor com um imã, fio e pilha); o que é motivante
do ponto de vista do professor é motivante para o aluno; visualiza
o fenômeno.
2. Categoria Funcional
P1, P2, P3, P4, P6, P10,
P11, P12, P13, P14, P15, P16, P17, P18; P19; P20, P22, P23, P24, P25, P26,
P27, P28, P29, P30; P31, P32, P34, P36, P37 – Porque se tem fácil
acesso aos materiais, são simples e práticos (no sentido
de darem pouco trabalho para o professor ou aluno, por serem convenientes
e funcionais na sua manipulação, operacionalização,
aplicação, preparação, transporte e construção,
não somente no ambiente extraclasse como, fundamentalmente, no ambiente
de sala de aula comum. Materiais mais complicados de fazer são admitidos
se forem trazidos prontos pelo professor);
– Porque as medidas são fáceis de se obter ou o experimento
é fácil de realizar, não sendo complexos; têm
fidedignidade com o que se quer observar (os resultados experimentais devem
ser os esperados, repetíveis e não ambíguos);
– Porque a coleta de dados é apropriada
ao tempo de aula;
– Porque é um experimento demonstrativo
rápido para iniciar uma aula;
– Porque são baratos (o equipamento
pode ser construído ou adquirido, sem custo ou por baixo custo);
– Não são demorados (devem
ser apropriados ao tempo da aula, mas se for fora da aula, isso pode não
ser tão relevante);
– Não devem ser perigosos ou causar
acidentes (principalmente os que mexem com fogo ou que necessitam de cuidados
a serem tomados); não sujam; não quebram.
3. Categoria Instrucional
P2, P3, P4, P6, P8, P9,
P14, P15, P16, P17, P18, P19, P20, P21, P22, P23, P24, P25, P26, P27, P28,
P29, P30, P31, P32, P33, P34, P36, P37 – Porque possibilita verificar,
ver ou demonstrar, de maneira simples, didática, os conceitos difíceis
de entender; porque é fácil de explicar, do aluno aceitar,
visualizar e compreender os princípios físicos; porque só
a teoria leva à “decoreba”; porque fica mais palpável, menos
abstrato, permitindo visualizar como as coisas acontecem, não ficando
somente na imaginação e não tendo como os alunos negar
(as coisas acontecem da forma como foi falada na teoria, p. ex., quando
se verifica a idéia antiintuitiva da imagem atrás do espelho);
porque promove o desenvolvimento (dos conceitos) e o aprendizado (inclusive)
duradouro;
– Porque permite fazer exercícios práticos (no lugar
dos livrescos);
– Porque possibilita a apresentação
dos fenômenos ou mostra muitos fenômenos, fornecendo muita
informação (num único experimento), ou tem múltiplas
funções (por exemplo: permite calcular, relacionar com o
cotidiano).
– Porque (o assunto) é atual e está
relacionado com o cotidiano, com processos tecnológicos.
– Porque ensina técnicas laboratoriais.
– Porque ressalta assuntos de importância
(do conteúdo).
4. Categoria epistemológica
P1, P5, P6, P7, P10, P16,
P17, P19, P20, P22, P24, P29, P30, P34, P36 - Porque demonstra, verifica,
mostra ou dá para observar na prática os conceitos, a teoria,
o formalismo matemático; prova, mostra o fenômeno (para o
aluno) e não fica só no abstrato; consegue-se ver na realidade
o que se aprende na teoria ou dos velhos exemplos dos livros; prova coisas
que são difíceis do aluno aceitar, logo convence o aluno
da teoria; só com a teoria passa-se uma impressão superficial,
forçando-se a acreditar nos fatos;
– Porque mostra ao aluno que em algumas situações não
podemos desprezar forças que na teoria desprezaríamos;
– Porque ajuda a esclarecer (superar) as
supertições; acaba com certos mitos.
A primeira categoria, denominada
de Motivacional, expressa a apreensão dos participantes com aspectos
diretamente relacionados à motivação intrínseca
(Guimarães 2001: 37) que a atividade prática pode gerar.
Logo, o foco de atenção está voltado diretamente para
o aluno. Nela, a importância em especificar interessantes propostas
experimentais que despertem a atenção é da maior relevância,
por conterem características curiosas, atraentes, envolventes, até
mesmo chocantes, que espicaçam o desvendamento do aluno e o entusiasmam.
No entender dos respondentes, ser interessante inclui, ademais, experimentos
associados à tecnologia e ao cotidiano; inquietações
que demonstram a necessidade de que a atividade prática vislumbre
alguma utilidade para o aluno, em oposição àquelas
meramente acadêmicas, desconexas do contexto do sujeito. A esse respeito,
é de se notar que Cardoso e Colinvaux (2000) dão sustentação
a essa conclusão. Isto pode ser visto na medida em que esses autores
apresentam evidências que os levam a deduzir que, além das
dificuldades cognitivas, a falta de articulação entre os
conceitos escolares e os fenômenos do cotidiano é responsável
pelos alunos desmotivados, quando do estudo da Química.
A categoria Funcional reúne
um conjunto de respostas que prioriza aspectos ligados à parte física
da atividade empírica, em que se leva em conta às características
e propriedades inerentes do material, como também a sua adequação
para real implementação em sala. Como conseqüência
desses aspectos, temos aqui a preocupação com a facilitação
da tarefa do professor ou do aluno, uma vez que a escolha de um experimento
visa facilitar o manejo dos equipamentos e da montagem do aparato. Aos
alunos, é vislumbrada a possibilidade da construção
ou montagem do equipamento, não sendo esquecido o fator segurança,
que não façam sujeira na manipulação experimental
ou que não se danifiquem com facilidade. Em relação
ao professor, há a preocupação de que ele invista
reduzido tempo e esforço na preparação da atividade
e que haja facilidade na obtenção dos materiais necessários,
no sentido da necessidade de reposição e de reparação,
com concomitante baixo dispêndio econômico. Por isso, materiais
mais complicados de montar são admitidos se estiverem disponibilizados.
A atividade experimental é vista, ainda, como precisando ser adequada
ao tempo de aula. Em razão disso, a apreensão com a coleta
e análise de dados é realçada, por ser, geralmente,
consumidora de elevado tempo. É apreciável a valorização
dos experimentos que não apresentem resultados duvidosos, geradores
de respostas diferentes daquela que o professor quer apontar. Dessa forma,
existe uma procura por experimentos em que a obtenção dos
dados é facilitada e tenha qualidade, no sentido de sua reprodutibilidade
e não ambigüidade. Como solução para o dispêndio
de tempo e equipamentos mais demorados de elaborar, tem-se a valorização
das demonstrações rápidas. Em Richoux & Beaufils
(2003) são citados alguns pontos semelhantes a estes em professores
de física, quando do planejamento das atividades práticas
de seus estudantes de ensino médio, na França. Richoux e
Beaufils denominam de “restrições institucionais” para a
razão dada pelos professores para o encaminhamento de atividades
práticas. Dentro dessas restrições, os professores
levam em conta o programa, a gestão dos materiais (qualidade, número
etc.), aulas disponíveis e horários (duração,
alternâncias) (op. cit., p. 104b). Ainda, dentro da questão
do tempo, vale lembrar que Hodson (1994) afirma que, mediante um gerenciamento
conveniente do experimento, é possível simplificá-lo,
eliminando diversos passos menos importantes e empregando aparatos e técnicas
mais simples. Ele lembra que se gasta às vezes muito esforço
na montagem de complexos equipamentos, sendo possível simplificar,
inclusive, as interferências matemáticas, com recalibrações
de certos aparelhos e uso de programas computacionais, para, conforme Trumper
(2003: 658), reduzir enfadonhas coletas e tratamentos de dados. Assim,
experimentos que fossem descartados à primeira vista, por esse pretexto,
poderiam ser repensados para se adaptarem ao tempo disponível.
A terceira categoria, convencionada
por Instrucional, procura aglutinar as indicações que tratam
fundamentalmente do ensino e da aprendizagem. Dentro do horizonte Instrucional
encontra-se a inerente exigência de que a prática experimental
deva facilitar a explicação, a apresentação
dos conceitos e modelos ou, como lembram, entre outros, Sandoval &
Cudmani (1992) e Kirschner (1992), sirva para “ilustrar” a teoria, com
o intuito de torná-la clara e simplificada para o aluno. Das respostas
se infere, igualmente, uma intenção com a qualidade da aprendizagem,
pois se imagina que a atividade experimental escolhida melhora a aceitação
das idéias e a compreensão, não ficando na simples
“decoreba” ou só “na imaginação”, como afirmam textualmente,
respectivamente, os participantes P26 e P34. É possível destacar,
ainda, uma convicção de que certos experimentos têm
uma potencialidade maior de efetivamente ensinar, quando, por exemplo,
se vê o participante P37 dizendo com ênfase que “o aluno não
tem como negar” se vir o experimento, ou que certos experimentos impulsionam
o desenvolvimento e a aprendizagem de forma rápida e duradoura dos
conceitos. Além disso, a agenda da categoria Instrucional visa considerações
de ordem curricular, ao localizar a necessidade de estar presente certas
técnicas e procedimentos laboratoriais, ao dispor de experimentos
que destacam conteúdos mais importantes, que apresentem os fenômenos
que são estudados ou os assuntos atuais e do cotidiano. Inquietações
a respeito de o experimento possibilitar trabalhar com várias informações
e permitir lidar com vários outros pontos (cotidiano, calcular,
técnicas importantes etc.), fazem parte de uma outra preocupação
desta categoria. Também notamos o destaque dado à escolha
de experimentos que possibilitem resolver problemas ou exercícios
propostos nos livros de uma forma empírica. Em síntese, equipamentos
ou experimentos que agregam vários conteúdos, habilidades
e, ainda, por exemplo, trabalhe com a tecnologia, cotidiano, entre outros
aspectos, têm escolha preferencial do que aqueles que dão
uma opção única.
A quarta categoria, Epistemológica,
procura contemplar um padrão de características nas respostas
dos participantes que tende a dar um apelo forte para a construção
do conhecimento, ou, mais especificamente, para a capacidade da formulação
teórica em tratar a realidade. A ênfase epistemológica
aponta para uma disposição em realizar atividades experimentais
que estabeleçam uma relação entre empírico
versus construção teórica e de demonstrar as implicações
das teorias e leis. Devido à própria natureza do conhecimento
da disciplina ensinada, no caso a Física, existe um sentimento de
que o experimento elaborado estabeleça relação da
teoria com o fato ou do modelo com a evidência. Só que o sentido
de relação encontrado é do fato ou da evidência
ser a demonstração ou prova das idéias e teorias propostas
ou que as afirmações destas últimas possam ser transformadas
em observação ou “visualização”. Por conseguinte,
temos um tipo de enfoque que se desvia do motivacional, do funcional e
do instrucional, passando a se aproximar ou se situar no contexto da confirmação
ou da verdade, do conhecimento provado. No que se refere à postura
epistemológica dos professores, é fato corriqueiro na literatura
que a grande maioria dos professores transmite em sua prática experimental
diária, uma concepção indutivista ou empirista da
ciência (Arruda et al. 2001; Hodson 1994; Millar 1987; Kirschener
1992: 274), mantendo, para o conhecimento científico, um pensamento
justificacionista (Lakatos & Musgrave 1979: 113), legitimando, para
o conhecimento físico, as corriqueiras palavras expressas: verificar,
mostrar, provar, demonstrar ou observar.
Dois pontos sobre a construção
das categorias devem ser observados. O primeiro trata da separação
das categorias, uma conveniência mais de horizonte analítico
do que de uma convicção consciente dos entrevistados. Ou
seja, poderíamos afirmar que as categorias Motivacional e Epistemológica
têm, fundamentalmente, preocupações de mesma origem
instrucional, como tem a terceira categoria. Por ser próprio à
profissão de professor existir um empenho para que os alunos aprendam,
uma ênfase por despertar a motivação do aluno ou por
articular a essência do conhecimento são manifestações
que têm, por detrás, uma intenção com o aprender
e o ensinar. Portanto, aparentemente separadas, essas três categorias,
no fundo, estão imbricadas, diferentemente da categoria Funcional,
cujo intento principal é voltar-se para questões de ordem
pragmática, de implementação.
O segundo ponto a comentar
trata da dificuldade existente, muitas vezes, em interpretar a linguagem
utilizada de modo a classificá-la numa categoria. Isto se deve às
diferentes designações dadas às palavras usadas, onde
muitas delas ultrapassam a categoria especificada e avançam sobre
outras, dependendo do sentido em que são empregadas. Séré
(2002: 626) já dá indicações nessa direção,
ao alertar que diferentes designações outorgadas ao conhecimento
teórico no laboratório, tais como, verificar, estabelecer,
descobrir e utilizar não deveriam ser consideradas similares e mereceriam
um aprofundamento das pesquisas. Assim, por exemplo, provar, verificar,
demonstrar ou mostrar um fenômeno são palavras que podem transcender
a conotação epistemológica e apelar para o motivacional,
quando se quer indiretamente dizer que se vai estimular o interesse do
aluno, quando se demonstra, verifica etc. algo. Por sua vez, o propósito
Instrucional surge no momento em que há uma preocupação
curricular, como a apresentação do fenômeno correspondente
à matéria a ser ensinada, ou quando se entende que o material
é auxiliador do processo de aprendizagem, por conseguir demonstrar
ou provar, sendo, agora, sinônimas de mostrar, visualizar ou ilustrar
aquilo que o professor falou, facilitando o ensino e a aprendizagem. Isto
fica claro quando P27 responde às perguntas formuladas da seguinte
forma: (porque determinado experimento) “Comprova a teoria de forma
clara e sem muita complicação”. O significado do verbo
comprovar, na sentença, pode ter uma conotação primeiramente
instrucional, pois características como clareza e sem complicação
têm, por detrás do seu sentido, uma preocupação
didática, ou seja, compreendendo facilitar a explicação
do professor ou do aluno aceitar, visualizar e compreender, de forma mais
concreta, os conceitos difíceis de entender, conforme a terceira
categoria.
A sentença “os
experimentos são bons (fidedignos) e se aproximam da teoria”,
de P28, compõe dois apelos, segundo podemos interpretar. Um primeiro
funcional, na medida em que a escolha de um experimento ou equipamento
se deve a sua qualidade, representada pela fidedignidade do material. Um
segundo, de recorrência epistemológica, na medida em que há
uma preocupação da relação teoria e prática.
Semelhantemente, as palavras
cotidiano, tecnologia ou simples podem ser interpretadas na primeira categoria,
quando se está a imaginar que estas características do equipamento
ou experimento aumentam o interesse do aluno. Porém, os dois primeiros
termos podem estar a fazer alusão a uma imposição
curricular da categoria Instrucional, enquanto o último termo é
capaz de vir a ter uma implicação, tanto instrucional como
funcional, conforme se almeja, respectivamente, facilitar a aprendizagem
ou simplesmente ficar no âmbito de se possuir um instrumento prático
para trabalhar. A respeito disto, acrescentemos, ainda, que a importância
dada à simplicidade instrumental ou experimental, na sua referência
particularmente instrucional, encontra-se presente na compreensão
muito comum, dos participantes que a destacaram, de não se ultrapassar
um nível de sofisticação experimental que transcenda
a sua apropriação pelo estudante. Há, conseqüentemente,
um entendimento, identificado durante as entrevistas, de que o desafio
para o aluno deva se situar na aprendizagem da teoria, e menos no entendimento
do equipamento ou do experimento. O nível de dificuldades destes
não deve ser obstáculo para aprender a teoria. Logo, é
possível inferir que equipamentos simples, por serem simples de
entender, são preferíveis aos sofisticados ou às caixas-pretas.
A questão do significado
das palavras se estende até mesmo à literatura. Notamos que
o sentido de habilidade (“skill”) corresponde significados diferentes nos
trabalhos (ver, p.ex., Trumper 2003; Doran et al. 1995, Hodson 1994; Kirschner
1992). Um significado é “
de arte da experimentação”
(Trumper 2003: 647-649), que se refere a procedimentos ou destrezas experimentais
como, p.ex., à manipulação ou operacionalização
de instrumentos, experiência em processos laboratoriais, técnicas
e planejamento experimental. Outro sentido é o de “
aptidão
analítica” (ibid.) ou de processos, que preferimos denominar
de habilidade cognitiva. Em relação ao conceito de processo,
Millar e Driver (1987: 37, 39) já advertem as várias denotações
do mesmo na educação científica: processo como receituário
de um ideal de método científico e processo como expressão
de mecanismos formais de raciocínio, envolvidos na aprendizagem
da ciência. Neste segundo sentido, encontram-se aquelas qualidades
cognitivas capazes de reunir informações científicas,
organizar ou impor uma ordem intelectual sobre os dados, de forma a reconhecer
regularidades, interpretar, elaborar e testar hipóteses, extrair
conclusões e fazer inferências de dados e observações,
indagar questões científicas, assegurando as repostas via
experimento, desenvolver o pensamento lógico e crítico
[i],
reconhecer o papel dos experimentos e observações de laboratório
no desenvolvimento de teorias
[ii],
usar logicamente procedimentos e estratégias, saber construir tabelas,
saber transpor o raciocínio concreto e a linguagem verbal para uma
linguagem e um raciocínio matemático mais abstrato e vice-versa
etc.
Um último sentido
encontrado, que definimos como habilidade de atitudes, envolve a aptidão
para desenvolver aprendizagem colaborativa (Trumper 2003: 649), trabalhar
em cooperação, participar da distribuição e
conjugação de tarefas, compartilhar resultados com outras
equipes, respeitar e comparar as idéias opostas às da pessoa
etc..
Diferenciadas as habilidades
em procedimental, cognitiva e de atitudes, vemos que os nossos resultados
só contemplam o primeiro tipo de habilidade, sendo que as outras
duas preocupações inexistem em nossa amostra
[iii].
Outra observação que é necessário esclarecer
é a nossa opção de situar as habilidades procedimentais
na categoria Instrucional, decisão que estenderíamos para
as outras duas habilidades se houvessem sido explicitadas pela amostra.
No primeiro caso, quando se encontram em foco decisões da esfera
das habilidades procedimentais, entendemos como evidente que tais decisões
são de conteúdo ou curriculares, como técnicas de
medição, leitura e operacionalização de aparelhos,
assim como saber realizar procedimentos práticos em geral e ter
destrezas para realizá-los. Agora, ao admitirmos que habilidades
cognitivas e de atitudes possibilitam esta mesma classificação,
estamos nos respaldando em pressupostos de ensino-aprendizagem contemporâneo.
Estes reconhecem a superioridade do trabalho cooperativo no laboratório
em prover uma oportunidade de endossar e encorajar pensamentos de alto
nível e processos de raciocínio, devido à interação
social (Trumper 2003: 653). A imbricação existente entre
essas duas habilidades é defendida por essa concepção
contemporânea, dada a enorme potencialidade de construção
de novos procedimentos e a possibilidade de considerar e mudar pontos de
vista diferentes, contraditórios, através de mecanismos de
conflito sócio-cognitivos (Laborde 1996: 39). Assim, por ocasião
da interação coletiva se é capaz de garantir a ocorrência
da conscientização mútua das diferenças e das
oposições entre ações individuais pela reflexão
e pela consideração e utilização do ponto de
vista expresso pelo parceiro. Apoiando-se na cooperação,
os aprendizes passam da organização das suas ações
em comum para a solução prática de problemas. Por
conseguinte, as formas coletivas de organização da atividade
da aprendizagem contribuem para a aquisição do conteúdo
teórico dos conceitos físicos (Rubtsov 1996a: 195). Enfim,
o desenvolvimento cognitivo não pode ser concebido fora do campo
social, em que ações próprias se misturam com interações
sociais, num jogo recíproco e interdependente (Garnier 1996: 77,
Rubtsov 1996: 136, 137).
Voltando para os nossos
dados, a tabela I mostra a distribuição dos trinta e sete
participantes nas categorias. Nela, assim como na tabela que a ela se segue,
deve-se estar atento de que um mesmo indivíduo fornece várias
respostas que transitam em várias categorias, o que não permite
a normalização das porcentagens. Vemos que, para a amostra
aqui estudada, houve uma consideração equivalente ao par
de aspectos funcional e instrucional e ao par motivacional e epistemológico.
Não obstante, a amostra apresenta uma importância relativa
maior do primeiro par comparado ao segundo. Ou seja, os aspectos associados
ao material e a sua funcionalidade e razões de ensino e aprendizagem
são os mais citados pelos participantes. Mas, como dissemos, as
categorias não são isoláveis e mais da metade (58%)
dos participantes tiveram suas respostas classificadas em pelo menos três
categorias e somente um quinto deles atribuem razões que varrem
uma única categoria. A tabela, portanto, fornece somente uma indicação
maior da preferência dos sujeitos pesquisados em eleger pontos dos
experimentos e equipamentos associados à segunda e terceira categorias.
Tabela I. Porcentagem
de escolha de experimentos de Física por categoria
Categorias
|
%
|
1.
Motivacional
2.
Funcional
3.
Instrucional
4.
Epistemológica
|
51
81
78
51
|
Na literatura recente encontramos
trabalhos que, partindo de outras perspectivas de pesquisa, podem ser comparados
com esses resultados. Em especial, primeiramente, centramo-nos em quatro
trabalhos que tiveram como meta examinar as intenções ou
propósitos, importância ou objetivos do laboratório
na educação científica[iv].
O primeiro, que envolveu vários países europeus[v],
relata que os principais objetivos formulados para os laboratórios
investigados foram: (a) Ligar teoria e prática; (b) Aprender habilidades
(técnicas) experimentais; (c) Fomentar a motivação,
o desenvolvimento pessoal e a competência social; (e) Avaliar o conhecimento
aprendido (Welzel et al. 1998). De acordo com Welzel et al., apesar de
haver uma relativa importância atribuída às habilidades
e pouca à motivação, é no estabelecimento da
relação entre teoria e prática que está posta
a principal meta do ensino de laboratório (ibid., p.1). Ainda que
não tenhamos obtido uma referência direta, no que se refere
a avaliar conhecimentos ou a expressar competência social, que seria,
no primeiro caso, adequadamente classificado na nossa categoria Instrucional
e, no caso da competência social, como acabamos de discutir, é
possível situá-la na componente referente à habilidade
de atitudes dessa mesma categoria, a motivação em Welzel
et al. (1998) foi, em coerência com o que obtivemos, relativamente
pouco valorizada, como o foi, e agora, diferentemente dos autores, a referência
à teoria e prática. Talvez, a diferença aqui se deva
ao que comentamos em relação ao significado das palavras
provar, demonstrar etc., que mereceria um trabalho em separado, com uma
análise mais refinada, que fizesse uma distinção mais
profunda a esse respeito, em ambos os trabalhos.
Um segundo estudo, realizado por
Séré (2002), afirma que clássicas categorias
conceituais, epistemológicas e procedimentais continuam oportunizando
uma análise atual dos numerosos objetivos de laboratórios
didáticos (p. 626). Se considerarmos a primeira e última
dessas clássicas categorias como capazes de serem representadas
pela nossa categoria Instrucional, vemos que os nossos achados e interpretações
estão em concordância com elas, apesar da limitação
das categorias da autora, para o nosso interesse.
O terceiro trabalho, de
Hirvonen & Viiri (2002), entre outras coisas, traz relatos de licenciandos
de segundo ao quarto ano de física, sobre as suas participações
em um curso experimental de física escolar com equipamento padrão
[vi].
Desses relatos, eles investigaram a contribuição do curso
e seus benefícios. A compreensão dos ganhos e benefícios
mais enfatizados pelos licenciandos foi interpretada por Hirvonen &
Viiri (ibid.) através dos objetivos dos trabalhos práticos,
estando descritos na tabela II. Por ela, vemos que os objetivos 1 e 4 correspondem
à nossa categoria Instrucional, sendo o último objetivo característico
da componente cognitiva da categoria. Analogamente, os objetivos 2 e 3
estão em conformidade com as nossas categorias Epistemológica
e Motivacional, respectivamente. Para efeitos ainda de comparação
dos trabalhos, imaginemos a reunião dos objetivos 1 e 4. Tal procedimento
nos permite avaliar que a porcentagem desse possível agrupamento
de objetivos (1 + 4) provavelmente ultrapasse o valor dos 60%. Logo, este
objetivo supera, em termos percentuais, os objetivos 2 ou 3, mostrando
uma coerência com os nossos achados. Outra coincidência curiosa
que vale notar são os valores muito próximos dos objetivos
2 (48%) e 3 (45%), na tabela II. Isso contrasta com os resultados também
semelhantes de 51% obtidos para as categorias Motivacional e Epistemológica
da tabela I. Aqui permite refletir se isto é uma mera coincidência,
envolvendo ambas as pesquisas, argumento que poderia ser sustentável
devido às diferenças metodológicas, ou talvez possa
estar existindo uma tendência, onde uma importância relativa
equivalente está sendo dada a essas categorias e aos seus paralelos
objetivos.
Tabela II. Ganhos mais comuns enfatizados nos relatos de
licenciandos que experimentaram um trabalho prático (extraído
de Hirvonen & Viiri 2002: 314).
Objetivos
|
%
|
1.
Aprende-se, entende-se e lembra-se melhor fazendo trabalhos práticos.
2.
O trabalho prático relaciona a física com a natureza e o
mundo real, concretizando a teoria.
3.
O trabalho prático fomenta a motivação e aumenta o
interesse dos licenciandos, que beneficia futuras aprendizagens.
4.
O trabalho prático cria pensamentos, reflexões e discussões.
|
60
48
45
35
|
Num estudo junto a professores
e alunos do secundário, um quarto trabalho (Lynch e Ndyetabura 1983)
reforça a maior inclinação instrucional. Em levantamento
feito entre dez objetivos a respeito do trabalho prático, quatro
escolhas, no sentido de “fazer a teoria mais compreensível”,
mereceram alta atenção dos participantes.
As conclusões anteriores do trabalho de Welzel
et al. (1998) não nos permitem, no entanto, apontar uma decisão
segura para essa questão, pois, por um lado, a prioridade epistemológica
é ali destacada - se “ligar teoria e prática” tiver essa
conotação, como dissemos -, mas a atribuição
motivacional, pelo contrário, apresenta pouca relevância.
Entretanto, esse e o terceiro trabalho, juntamente com o nosso parecem
mostrar a relativa menor importância que se dá à motivação.
Ainda com referência
à literatura, é interessante verificar que os recentes trabalhos
mencionados voltam-se aos mesmos objetivos do laboratório, que estudos
mais antigos já destacavam. Em 1973 Shulman e Tamir (apud White
1996: 762) diziam que nos anos sessenta – e mais recentemente temos Tumper
(2003: 646) fazendo as mesmas observações para a década
de setenta -, os objetivos e o desenvolvimento do laboratório era
suportado pelas seguintes orientações:
a) Habilidades (acurado
uso e manipulação de instrumentos, habilidade de indagar,
ordenação, comunicação, pensamento crítico
e resolução de problemas); b) Conceitos (concreta representação
dos conceitos, aplicação dos conceitos aprendidos num alto
nível e descoberta de novos conceitos); c) Natureza da ciência
(entender a natureza da ciência e seu desenvolvimento e reconhecer
como os cientistas trabalham; d) Atitudes (curiosidade, abertura, realidade,
objetividade, acurácia e cooperação num time de trabalho).
Por aí vemos que
se considerarmos a nossa classificação expandida, que inclui
a componente habilidade no seu sentido geral na categoria Instrucional,
conseguimos englobar todos os itens apontados de ambos os trabalhos.
Um ponto a se compreender
são as convergências que apareceram entre as nossas categorias
e a bibliografia mencionada, uma vez que a natureza dos aspectos tratados
é distinta. Nesta pesquisa o enfoque está no experimento
ou equipamento, enquanto nas pesquisas citadas está no papel, objetivo
ou propósito do laboratório didático. Acreditamos
que as convergências são devidas à aproximação
existente entre os aspectos, haja vista que o domínio dos motivos
para a escolha de determinados experimentos mantém correspondência
com o conjunto dos objetivos de um laboratório. Em outras palavras,
ao se optar por um experimento ou uma atividade experimental particular,
muitos dos fins para tal preferência devem encontrar ressonância
no âmbito mais ampliado das finalidades do laboratório didático.
Conceitualmente, objetivos, propósitos, papéis ou função
do laboratório didático são questões de ordem
maior e, assim, muitas primazias dadas a certas atividades experimentais
se obrigam a constar dessas esferas de preocupação. Poderíamos
citar, a título de exemplo, a questão da competência
social, já mencionada por Welzel et al. (1998), ou a defesa por
uma variabilidade metodológica (Laburú et al. 2003), oportunizada
pelas atividades práticas, ou, como vimos, a questão das
habilidades cognitivas que são horizontes de preocupação
que transcendem uma ação experimental particular ou equipamento
mais apropriado. Em suma, o que um professor toma como importante para
a atividade de laboratório deveria se refletir, em parte, nas suas
opções e ações em termos experimentais e de
equipamento.
Assim, excluindo-se a categoria
Funcional, as restantes três categorias, apesar de terem sido criadas
tendo em vista uma outra finalidade, refletem, igualmente, os objetivos
individuais do laboratório encontrados na literatura. De certa forma,
poderíamos dizer que essas três categorias elaboradas têm
potencial de generalização, podendo ser empregadas, inclusive,
como uma primeira tentativa de aglutinar os vários objetivos, propósitos
ou papéis relativos ao laboratório didático, expandindo
ou fornecendo outra leitura à primeira tentativa das categorias
clássicas de Séré (2002).
Não obstante a existência
de correspondências entre o nosso e os demais trabalhos, as razões
para a escolha de um experimento ou equipamento têm especificidades
não contempladas pelos objetivos. Primeiramente, vemos que não
há equivalência relacionada com a categoria Funcional. Deparamo-nos,
neste caso, com particularidades próprias em nossas categorias,
certamente impostas pela característica contextual da amostra, como
a questão dos experimentos e equipamentos simples, não caixas-pretas,
de baixo custo, de fácil aquisição, com a possibilidade
de construção do equipamento pelo aluno e pelo próprio
professor. Outros aspectos destacáveis, que possivelmente extrapolam
a particular amostra estudada, dizem respeito aos experimentos repetíveis,
cujos dados não sejam ambíguos, uma preocupação
já tocada por Millar (1987: 113) num contexto de reflexão
diferente do aqui discutido que, por conseqüência, leva à
escolha de experiências com erro relativo pequeno, sendo evitadas
as que assim não se conformam (Tarciso Borges 2003: 300) e, além
disso, sendo buscadas as que têm facilidade na obtenção
das medidas e resultados. Acrescentemos, ainda, o destaque dado a experimentos
que apresentem uma concentração de conceitos e de idéias
importantes e outros mais inequívocos, como o tempo adequado para
a realização da prática, que estaria vinculado a uma
restrição institucional, como nos lembra Richoux & Beaufils
(2003).
Um último comentário
que gostaríamos de fazer, diz respeito à observação
de Axt (1991) de que certos experimentos são considerados universalmente
apropriados para a abordagem de certos tópicos
[vii],
como, da mesma forma, diversas modalidades de experimentos possuem historicamente
as mesmas características, sendo encontrados nos mais variados livros
didáticos atuais e antigos, de diferentes origens, sugerindo uma
prática didática comum (opus cit.: 2). Quanto à observação
de que os experimentos possuem as mesmas características históricas
não há o que divergir, já que os conteúdos
ensinados são também históricos e estes se amoldam
àqueles, e ambos são subjacentes de uma visão de aprender
ciência como cultura. Agora, quanto à universalização
de certos experimentos e da prática didática comum, acreditamos
que ela se deva mais ao limitado conhecimento profissional dos professores,
que se prendem aos livros escolares e à reprodução
de práticas didáticas a que estiveram submetidos em sua formação.
Nesse sentido, as pesquisas em educação científica
procuram dar alternativas a esse estado de coisas, mas, o que deve ser
notado, é que os nossos resultados mostram que a adequação
ou não, de um experimento ou equipamento, envolve fatores que excedem
os contemplados pelos experimentos tradicionais.
Conclusão
Como já adiantamos,
muitos das falas dos licenciados e licenciandos obtidos neste estudo podem
estar a retratar as particularidades da amostra, que, por sua vez, devem
refletir o curso de formação por que passaram. Portanto,
seria de interesse verificar o quanto é passível de generalização
as conclusões encontradas para outras amostras com perfis diferentes,
e observar se outras peculiaridades não locais existem, merecendo
uma nova categoria complementar ou reformulação das existentes.
Sem desconsiderar tais especificidades, a comparação dos
nossos resultados com os de outros países parece indicar alguns
padrões compartilhados, logo, com força de generalização,
a respeito da escolha de certos experimentos e equipamentos e que mantêm
um vínculo simultaneamente com o objetivo mais geral das atividades
práticas. Dessa forma, pudemos fazer um paralelismo desses objetivos
com as categorias encontradas, já que vários objetivos tomam
forma concreta através da opção de experimentos ou
equipamentos que melhor se acomodam a eles.
Em continuidade a este estudo,
caberia uma análise estatística mais aprofundada das percentagens
das categorias ou mesmo dos seus elementos, para dirimir as dúvidas
suscitadas na seção anterior. No caso, particularmente, de
uma investigação a propósito dos elementos individuais,
a atenção estaria voltada à observação
dos interesses mais prioritários buscados num experimento ou equipamento.
Diga-se de passagem, faz-se necessário, numa investigação
desse tipo, buscar uma acuidade maior na descriminação do
sentido de algumas palavras, como apontamos.
A importância de uma
pesquisa, com as características desenvolvidas aqui, não
se resume a preencher uma lacuna na literatura científica, o que
por si só já seria válido. Contudo, imaginamos que
seu mérito maior esteja em trazer para o plano da consciência
as decisões, muitas vezes, inconscientes, logo, imaturas e incontroladas,
dos profissionais em educação científica, quando optam
por certos experimentos e não por outros.
Com isso, a contribuição
que estas reflexões pretendeu dar à compreensão de
um dos multifacetados aspectos do laboratório didático, procura
ir ao encontro de uma melhoria pedagógica neste tipo de atividade.
A princípio, esta melhoria somente deve alcançar um mínimo
de sucesso, se consideradas também as necessidades de seus usuários,
que são os professores e alunos, consideração que,
por parte dos professores, este estudo pretendeu relevar. Por fim, poderíamos
mencionar, como um possível e complementar produto deste trabalho,
servir de heurística para projetistas que desenvolvem equipamentos
e experimentos didáticos na área.
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