Aglomerados Estelares:

Quando estrelas se formam, elas o fazem a partir de grandes nuvens de gás molecular. Isso significa que elas se formam em grupos ou aglomerados de estrelas, já que as nuvens moleculares possuem centenas de massas solares de gás. Após o gás remanescente da formação estelar ser aquecido e ejetado, as estrelas se aglomeram em função da gravidade. Ao interagirem gravitacionalmente, estrelas trocam energia mecânica umas com as outras e algumas podem eventualmente ter energia suficiente para escapar do proto-aglomerado. As restantes se manterão ligadas ao sistema, compartilhando do mesmo campo gravitacional , e nele orbitando indefinidamente.


 


Quando um aglomerado é jovem, suas estrelas mais luminosas são de tipo espectral O, B e A. Aglomerados jovens na Galáxia são chamados de aglomerados abertos, pois suas estrelas se distribuem de maneira dispersa e irregular. Aglomerados abertos contêm entre 100 e 1000 estrelas componentes. Um exemplo é o par de aglomerados abaixo.  


 

E o aglomerado "Caixa de Jóias":


 

Na época em que se formou a Galáxia, aglomerados muito grandes, chamados de aglomerados globulares, foram formados a partir de nuvens moleculares gigantes. Aglomerados globulares contêm cerca de 10000 membros ou mais, são compactos e têm forma esférica (daí o nome). Suas estrelas figuram entre as mais velhas da Galáxia. Um exemplo é M13 (o objeto de número 13 do catálogo Messier), mostrado abaixo:
 



Diagramas HR de aglomerados:

Como todas as estrelas de um aglomerado se formam ao mesmo tempo, todas têm a mesma idade. Um aglomerado muito jovem terá um diagrama HR contendo estrelas T-Tauri evoluindo para a seqüência principal. À medida em que passa o tempo, as estrelas de maior massa, no topo da seqüência principal, evoluem e se tornam supergigantes vermelhas. Dessa forma, quanto mais velho o aglomerado, menor a extensão da parte superior da seqüência principal. Além disso, maior será o número de estrelas gigantes e supergigantes vermelhas na parte superior direita do diagrama HR.

Este efeito de mudança de um diagrama HR com a idade do aglomerado é um instrumento poderoso para os modelos de evolução estelar. Com o auxílio de um computador, podemos acompanhar as mudanças sofridas por estrelas de várias massas ao longo do tempo, tais como previstas por um modelo evolutivo. Um diagrama HR teórico pode então ser construído para diferentes idades. As observações dos diagramas dos aglomerados podem então ser confrontadas com as previsões do modelo, permitindo assim testar a validade deste último e, em última análise, de nossa compreensão de como estrelas evoluem e dos processos físicos em seus interiores que causam esta evolução.

Como obter um diagrama HR de um aglomerado? Faz-se necessário obter medidas fotométricas (magnitudes aparentes e cores) para um número grande de suas estrelas componentes. Cada estrela pode ser graficada de acordo com sua magnitude e cor, sendo a primeira uma medida da luminosidade (lembre-se que todas as estrelas do aglomerado estão à mesma distância de nós) e a segunda relacionada com a temperatura. Abaixo, mostramos um diagrama HR, construído dessa forma, para o aglomerado globular M13.
 



 


Note que a seqüência principal de M13 só existe até estrelas de massa intermediária ou baixa, estando o topo da seqüência próximo à posição de estrelas com pouco mais do que 1 massa solar (B-V ~ 0.4). Todas as estrelas mais azuis do que o ponto de "turn-off" já exauriram seu hidrogênio nuclear e evoluíram para o ramo de gigantes ou supergigantes vermelhas. Dessa forma, vemos um ramo de gigantes vermelhas muito bem desenvolvido, assim como, um ramo horizontal, para onde evoluem as estrelas ao saírem do ramo de gigantes (ver as seções sobre evolução estelar).

Se graficarmos juntos diagramas HR de vários aglomerados diferentes obteremos o seguinte:
 



 


A compreensão da variação no tempo de vida das estrelas da seqüência principal é um assunto para a Física Nuclear. Conhecidas as posições do "turn-off" para vários aglomerados, podemos estimar suas idades. As idades dos aglomerados e das estrelas em geral, juntamente com sua posição no interior da nossa Galáxia, por seu turno, permite-nos entender melhor como esta última se formou. Ao fazermos isso, concluímos que os aglomerados mais velhos são os globulares e que estes estão distribuídos em um halo aproximadamente esférico em torno do centro da Galáxia. Já os aglomerados abertos, que são mais jovens, se encontram no plano do disco, ao longo dos braços espirais.


Estrelas variáveis:

Os astrônomos notaram que havia uma lacuna nos diagramas HR de aglomerados velhos. As poucas estrelas que se situam nesta lacuna, variam de brilho com o tempo. Devido a esta aparente instabilidade das estrelas situadas na lacuna, esta última passou a ser chamada de faixa de instabilidade. As estrelas na faixa de instabilidade são denominadas estrelas variáveis.

Os dois tipos mais famosos de variáveis são as Cefeidas e as RR Lyrae. Ambos os tipos obedecem a uma relação entre o período de variação de seu fluxo e a sua luminosidade média. Esta relação período-luminosidade significa que a um valor de período de oscilação corresponde um valor de luminosidade e vice-versa. Determinando-se o período de uma Cefeida ou RR Lyrae, podemos então inferir sua luminosidade (ou magnitude absoluta). Esta, associada a uma medida de fluxo (magnitude aparente), nos permite determinar a distância à estrela. Medidas feitas para estrelas variáveis em galáxias próximas nos permitem determinar as distâncias a estas galáxias. Estas estrelas variáveis são, portanto,  ótimos indicadores de distância. Abaixo vemos um diagrama HR contendo a seqüência principal, o ramo de gigantes e a faixa de instabilidade, dentro da qual vemos as posições das Cefeidas e das RR Lyrae.
 


As Cefeidas são muito luminosas, com luminosidades médias da ordem de 1,000 a 100,000 vezes a luminosidade do Sol. Seus períodos de variação são da ordem de alguns dias. As RR Lyrae são menos luminosas do que as Cefeidas, mas ainda assim umas 100 vezes mais luminosas do que o Sol.

O mecanismo responsável pela variação de brilho destas estrelas é a pulsação. Em estrelas normais, a pressão interna contrabalança a gravidade. Já estrelas situadas na faixa de instabilidade sofrem mudanças abruptas na sua taxa de produção de energia. Semelhante ao empurrão em um balanço, estas mudanças tiram a estrela de seu equilíbrio. Se a pressão interna é maior do que a pressão gravitacional, a estrela se expande, o que leva a um decréscimo na pressão até que esta se iguale à gravitacional. Mas o material em expansão continua a se mover um pouco além do ponto de equilíbrio devido à sua inércia. Assim, o peso das regiões internas agora excede a pressão interna do gás, levando à contração da estrela, terminando um ciclo de pulsação.

Este ciclo de pulsação é mostrado abaixo, juntamente com as variações de tamanho e temperatura da estrela variável e sua curva de luz resultante. Note que a luminosidade da estrela é máxima quando seu raio é mínimo e sua temperatura máxima (cor azul). Isso porque a Lei de Stefan-Boltzmann nos mostra que a dependência da luminosidade com a temperatura é maior do que com o raio. Apenas para lembrar, a Lei de Stefan-Boltzmann nos diz que:.
 

L = 4pR2 sT4

Assim, L depende da 4a potência de T e da 2a potência de R.

 


 


Naturalmente, como uma bola quicando, a pulsação de uma variável eventualmente cessa por perda de energia. Contudo, uma camada de hélio ionizado funciona como uma válvula de armazenamento de energia. Quando a estrela contrai, o hélio se ioniza e armazena energia. O hélio ionizado aumenta a opacidade do interior da estrela à radiação, o que leva à acumulação de calor e posterior expansão. Na figura abaixo mostramos este processo: a energia do material em contração de um ciclo anterior é usada para ionizar átomos de He. Com isso aumenta a opacidade, o que faz com que acumule-se mais energia térmica para eventualmente levar a um novo ciclo de expansão.