CONSTRUÇÃO DE UM COMPASSO CELESTE

(Adequado para alunos com conhecimento de geometria e trigonometria básicas)

Este texto explica como podemos construir um instrumento para medir ângulos entre dois objetos no céu. Tal instrumento, que denominaremos de compasso celeste, pode ser usado para estudar o movimento no céu de astros como a Lua, os planetas, eventuais cometas, etc.

A idéia é simples: dadas as direções de dois objetos no céu, queremos medir o ângulo entre elas  com vértice em nós. Isso pode ser feito com um cabo de vassoura (de comprimento conhecido) a uma de cujas extremidades amarramos uma régua flexível. A régua tem que ser flexível o suficiente para que assuma a forma aproximada de um arco de círculo. Em geral isso pode ser feito amarrando um fio de nylon às duas extremidades da régua (pode-se fazer um furo em cada uma das duas extremidades da régua e fazer um nó em cada furo) e fazendo-o passar pela extremidade do cabo de vassoura oposta à própria régua.

O conjunto no final tem que ter a forma de um arco circular (a régua) com raio dado pelo cabo de vassoura. O centro da régua tem que estar suficientemente preso a uma das extremidades do cabo para que não resvale na hora de se fazer uma medida. Além disso, para podermos medir ângulos dentro de um domínio razoavelmente grande, é importante que a régua tenha uns 50 cm, pelo menos.

A figura abaixo mostra um compasso celeste construído tal como descrito acima.

Como efetivamente medir ângulos com este compasso feito em casa?

Como conhecemos o comprimento L do cabo de vassoura (podemos medi-lo com uma fita métrica), medida a distância S sobre a régua entre duas direções quaisquer no céu, o ângulo ß entre elas (chamado de distância angular) será

ß (em radianos) = S / L

A medida da distância S sobre a régua tem que ser feita colocando-se a extremidade do cabo de vassoura oposta à régua entre nossos dois olhos (sobre o nariz, por exemplo, segurando com firmeza para que não escorregue) e apontando o cabo na direção que é bissetriz das duas direções cuja distância angular desejamos medir. Podemos então ler a distância em cm sobre a régua entre as duas direções (ou entre uma delas e o centro da régua, suposto coincidir com a extremidade do cabo de vassoura, S/2): esse é o valor de S.

Consideremos um caso típico: um cabo com L = 1,2 m = 120 cm e uma régua de plástico flexível a ele presa com S = 50 cm.

O maior valor de ß que poderemos medir será então:

ß = 5 / 12 radianos = 0,42 radiano

Para converter para graus temos que lembrar que 180° = pi = 3,1416 radianos. Logo:

ß = 0,42 radiano = 24°

Uma régua de 60 cm já nos permite medir ângulos de até 30°.

A Lua, por exemplo, move-se uns 13° por dia com relação às estrelas. Assim, podemos medir sua distância angular a uma estrela que esteja mais ou menos na direção em que ela se move por uns 3 ou 4 dias, o suficiente para estimar sua velocidade angular no céu. Seu período pode então ser determinado com uma regra de 3, pois ele é o tempo necessário para que a Lua percorra 360° no céu.

Conhecida a velocidade angular da Lua e sua distância à Terra (que pode ser tirada de um livro), podemos estimar sua velocidade orbital e sua aceleração, o que por seu turno pode nos permitir determinar a massa da Terra. Para isso, contudo, precisamos de algum conhecimento sobre o movimento circular uniforme causado pela força da gravidade, algo em geral discutido na disciplina de Física, no Ensino Médio.

O movimento dos planetas no céu é em geral muito mais lento do que o da Lua, sendo possível acompanhá-lo e constatar a variação de sua velocidade angular por dias ou mesmo meses.

Detalhe do compasso astronômico, mostrando a extremidade do cabo de vassoura coincidindo com o centro da
régua arqueada e dois marcadores de alumínio (feitos com latas de refrigerante) para facilitar o apontamento.