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Depoimento de Patsy James Viccaro

Local: Biblioteca do Instituto de Física da UFRGS
Data: 28 de abril de 2009
Presentes: Carlos Alberto dos Santos, João Batista Marimon da Cunha, Moacir Indio da Costa JR. e Victoria Elnecave Herscovitz.
Transcrição: Carlos Alberto dos Santos
Revisão: Jim Viccaro

Eu me formei na Carnegie Mellon University e meu orientador era Fernando de Souza Barros. Naquela época, década de sessenta, tinha muito brasileiro saindo para o exterior. Eu tinha feito muitas amizades com brasileiros, e um dia falei para o Fernando: quero passar uns dois ou três anos no Brasil. Ele disse: tá bom, vou dar um jeito de mandar para Porto Alegre, que está longe da bagunça do centro do país.

Cheguei aqui em janeiro de 1971. Saí de Nova York com uma tempestade de neve, das brabas! Cheguei no Rio de Janeiro, com um tempo maravilhoso. Encontrei aqui Moa, Maria Helena Preiss, Werner Mundt e Irineu. Irineu ficou sendo meu guia. Era uma pessoa especial. Antes teve o Sonnino. O laboratório era lá embaixo, no térreo do Instituto de Física, junto com os computadores HP, lembram, com aquelas fitas de papel, passava três dias para rodar um programa.

A fita de papel mencionada era gerada na máquina teletipo, exibida à esquerda, na parte inferior da foto. O analisador multicanal com lateral azul foi projetado pelo engenheiro Miguel Fachin e inteiramente construído no IF (Nota do editor).

Tinha um espectrômetro da Alemanha Oriental, muito ruim. Começamos a pensar em fazer um espectrômetro melhor. O programa do Instituto de Física naquela época era mais teórico, mas queriam começar um programa experimental. O John Rogers estava aqui, na correlação angular e nos contrataram para montar um programa experimental em Mössbauer. Um grande sucesso no Instituto de Física foi conseguir hélio líquido. Os primeiros experimentos em temperatura de hélio líquido foram com espectroscopia Mössbauer.

Mas, uma coisa que ainda lembro hoje em dia é que por uma razão ou outra aquelas pessoas eram muito fortes em eletrônica e computação. Montamos, com a colaboração do Miguel Fachin e seus colegas da eletrônica, um espectrônico baseado em computador PDP 8. Naquela época isso era muito avançado mesmo em nível internacional. Foi aí que resolvemos ampliar o espaço do laboratório. Tiramos os computadores de lá, colocamos um criostato de hélio de Harwell, que comprei de um colega, muito bom, que fabricava em casa. O criostato chegou aqui com o tubo central todo torto, mas o Joel conseguiu desentortar e o usamos por muito tempo. Aprendemos muito com o processo de recuperação do hélio, uma coisa que não é feita nos Estados Unidos. Lá o hélio é usado e jogado na atmosfera, ainda hoje. Lá a gente compra um butijão de cem litros e dura três dias. Aqui nós aprendemos a fazer tudo. João e Luci ficaram especialistas em recuperar hélio.

Para mim foi uma parte da minha vida que aprendi muito aqui. Esse estágio aqui no Brasil foi muito importante para minha atividade profissional quando retornei aos Estados Unidos. Essa coisa de desenvolver tudo que era necessário foi importante porque no meu retorno não tínhamos muitos recursos e tivemos que desenvolver os equipamentos básicos. Outra coisa muito importante também foi que aqui comecei a dar aulas. Dava os cursos de mecânica quântica, que eu gostava muito.

Depois eu vi outros desenvolvimentos aqui. O implantador de íons, uma coisa admirável. Quando colegas norte-americanos mencionavam que eu estava no fim do mundo, isolado de tudo, eu diziam: vocês estão enganados. Aquele é um dos melhores lugares que eu conheço, com muita gente competente.

Primeiro implantador instalado no IF, com 400 KeV. Veja uma foto do Tandetron de 3 MeV.

Em 1976 eu consegui uma licença da UFRGS e voltei para os Estados Unidos e fiquei seis meses em Pittsburgh. Depois fui para o Argone National Laboratory e trabalhei no grupo Mössbauer, com Gopal Shenoy e Bobby Dunlap por dois anos. Mas foi bom, porque cada vez que eu voltava para o Brasil, eu voltava cheio de coisas pro laboratório. Até um detector para experimentos Mössbauer de retroespalhamento, que eu tinha construído lá, eu trouxe. Também um forno para obter espectros em alta temperatura.

Forno para medidas Mössbauer em alta temperatura.

Naquela época era muito difícil importar equipamentos, então as pessoas tinham que aprender a resolver seus problemas de infraestrutura com o que tinha à disposição, e aqui aprendemos muito. Foi isso que permitiu a criação de uma base tecnológica aqui.
Eu acho que para criar uma geração de físicos experimentais tem que fazer o que foi feito aqui. Eu acho que o Instituto foi um grande sucesso. Eu digo para Milena, eu não poderia ser o que eu hoje sou lá nos Estados Unidos, se não fosse o estágio aqui.

Eu tive muito pouco contato com o Maris. O John tinha mais contato com ele, mas eu conversava muito com o John. Para mim, a pessoa central era o Gerhard, mas tinha o Fernando, que é uma pessoa que eu tenho grande admiração. Então, o John sempre me falava que os teóricos queriam que o Instituto fosse muito mais do que uma instituição dedicada apenas à teoria.

Outra coisa que me impressionou aqui foi a qualidade do suporte técnico e administrativo. Sheila, Luiza, Zuleika, Ivone. Tudo gente muito dedicada e competente. Quando começamos o projeto lá no Síncrotron, eu lutei para conseguir uma biblioteca dentro do Síncrotron, e contei a história da Zuleika, o trabalho que ela fazia para a gente.

Zuleika Berto, organizando periódicos correntes, na Biblioteca do IF no Campus Centro (1984).

Também me chamou a atenção o fato de ter pouca briga. No nosso grupo experimental quase não tinha. Aliás, nesse sentido o estágio aqui não me preparou para meu futuro nos Estados Unidos. Tenho muita dificuldade em lidar com as inúmeras brigas lá no nosso laboratório.


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