IMPLICAÇÕES DAS TEORIAS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE FÍSICA

Alberto Antonio Mees

 

Resumo

Este trabalho foi proposto na disciplina de Teorias de Aprendizagem e Ensino do professor Marco Antonio Moreira, no Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física do Instituto de Física da UFRGS –RS. Nele apresento de forma resumida, com base no livro "Teorias de Aprendizagem" do professor Moreira, as seguintes teorias: Teoria comportamentalista de Skinner; teorias construtivistas de Vygotsky, kelly, Ausubel e Novak; teoria humanista de Rogers. Em cada teoria, coloco as minhas reflexões e interpretações, que a meu ver, seriam mais importantes. A ênfase maior dada ao construtivismo, se dá ao fato de achar que esta teoria desempenha um papel relevante nos dias atuais. O objetivo não é direcionar o trabalho para o construtivismo, mas discutir, com a experiência de professor de Física, algumas possíveis implicações das teorias de aprendizagem nos métodos de ensino de Física.

 

I - INTRODUÇÃO

A qualidade do ensino de Física ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica , política e cultural do País, estão diretamente ligados na melhoria da qualidade e formação profissional e valorização do trabalho pedagógico do ensino de Física.

A formação do professor de Física deve ser contínua e permanente, valorizando a experiência e o conhecimento que os professores de Física tem a partir de sua prática pedagógica. Para que exista uma formação continuada, professores e alunos devem estar interagindo. O aluno deve estar disposto a querer aprender. O mesmo raciocínio se aplica ao professor, sendo este o construtor da aprendizagem em relação às teorias de aprendizagem. A partir destas idéias básicas, pretendemos no decorrer deste artigo, refletir sobre as várias teorias de aprendizagem e suas implicações para o ensino de Física.

A pessoa humana foi feita a se adaptar ao meio e cada pessoa realiza esta integralização, da sua maneira, e também de uma forma que não necessite realizar grandes mudanças ou novas estruturas para desempenhar suas atividades. Temos medo do novo e nos acomodamos nas velhas estruturas, que a princípio não nos incomodam e que também não nos comprometam com algo que possa ser mais criativo provocando uma mudança interior. Não acredito, que uma teoria, por si só, seja capaz de causar no professor uma mudança no seu pensamento e na sua forma de trabalhar com os alunos. Muito menos ainda, se esta teoria for trazida de uma forma vertical e que o professor tenha que seguir os princípios da mesma, só por que a orientação pedagógica da escola simpatiza com esta teoria.

O presente artigo, tem por objetivo apresentar algumas teorias de aprendizagem e possíveis implicações no ensino de Física. Não quero falar de todas as teorias, no entanto, algumas serão apresentadas de forma resumida e também sob a visão do autor ou da bibliografia consultada, para realizar este trabalho. Indico, para uma leitura mais aprofundada sobre teorias da aprendizagem, o livro do Prof. Marco Antonio Moreira, que no presente artigo vamos citar como Moreira 1999. Certamente já ouvimos falar ou estudamos as teorias de Piaget, que é considerado como sendo o autor mais conhecido do construtivismo. Não quer dizer que ele seja o autor mais importante do construtivismo, pois temos outros autores, como: Vygostky (1896 – 1934) , George kelly, David Ausubel. Nas décadas de sessenta e setenta o enfoque comportamentalista foi dominante e um autor que ainda hoje está muito presente nas nossas práticas educativas foi Skinner (1904 – 1990) com sua teoria do estimula (E) e resposta (R) , não importando como o conhecimento se processava na mente da pessoa. Já uma outra linha, em que o ensino é centrado no aluno ou seja as "escolas aberta" de Carl Rogers, o aluno é visto como um todo e livre para fazer escolhas, sendo esta teoria, portanto, uma teoria humanista.

Ao me propor para fazer uma discussão, mesmo que superficial, sobre as teorias de aprendizagem, não quero indicar uma teoria, que seja a melhor , ou que deva ser seguido, mesmo que do meu ponto de vista, demonstre um interesse maior por uma linha de pensamento. Cada professor tem uma realidade diferente, em relação aos alunos, qual o objetivo que o seu curso ou a sua escola estão propondo e, sob este ponto de vista, uma teoria que eu não concorde, pode ser muito útil para a finalidade proposta.

 

 

II - TEORIAS DE APRENDIZAGEM

Resumidamente e com o apoio do livro sobre Teorias de Aprendizagem (Moreira 1999) , relaciono alguns autores de teorias que certamente marcaram e ainda estão marcando os processos de aprendizagem de forma formal nas escolas do último século ou das últimas décadas.

1 – TEORIA BEAVIORISTA DE SKINNER.

B. F. Skinner (1904 – 1990), deve grande influência nos procedimentos e materiais usados em sala de aula, no ensino de qualquer disciplina, nas décadas de sessenta e setenta. Segundo Moreira 1999 "Skinner nasceu em Susquehanna, Pennsylvania; graduou-se em inglês no Hamilton college, em Nova Iorque, e fez mestrado e doutorado em psicologia em Harvard, onde, posteriormente, foi professor durante mais de 40 anos".

Para Skinner interessa apenas o comportamento observável, não se preocupando com os processos intermediários entre o estímulo (E) e a resposta (R). A recompensa ou reforço positivo, após a realização de uma tarefa desencadeia um outro estímulo, provocando uma cadeia de estímulos e respostas. "De acordo com a teoria do reforço as recompensas e punições desempenham um papel importante na vida diária. As pessoas tendem a se comportar do modo a obter recompensas e a evitar punições". (Moreira, 1999, p. 51.)

Na teoria de Skinner, um reforçador positivo, tende a aumentar a freqüência da resposta e um desempenho maior, e um reforço negativo tende a diminuir ou evitar tal resposta. Numa situação de sala de aula, temos a tendência de reforçar positivamente o aluno que vai bem e, ele por sua vez, se esforçará mais para continuar com o conceito que tem. Ao passo que o aluno que apresenta dificuldades, tende a receber reforços negativos, tanto por parte do professor, que não liga muito para ele, como por parte dos colegas.

1.1 Processo instrucional segundo a abordagem Skinneriana

O reforço positivo, as características e as contingências de reforço têm papel fundamental na aprendizagem. Segundo Skinner a aprendizagem ocorre devido ao reforço e, quanto maior ou melhor forem as contingências de reforço, maior será a capacidade de aprendizagem. Nessa perspectiva, o papel do professor é arranjar e proporcionar as contingências de reforço. Esse reforço, precisa ser dado logo após o aluno apresentar a resposta e antes da próxima resposta a ser aprendida.

1.1.1 Instrução Programada

Segundo (Moreira, 1999. p. 59.) a instrução programada apresenta os seguintes princípios:

Na instrução programada, verificamos que existem os passos determinados para o professor organizar a sua aula e o aluno, só poderá dar a resposta que se enquadra nos textos apresentados pelo professor.

 

1.1.2 Método Keller

O método Keller é baseado na instrução programada e na teoria do reforço positivo. Podemos dizer que ele surgiu, para respeitar a individualidade e o tempo de cada um, para adquirir a aprendizagem. O aluno terá uma série de etapas a serem vencidas e poderá, dentro do seu ritmo, avançar rapidamente ou não. A condição para avançar à próxima etapa, é ter atingido um rendimento de 100% na etapa anterior, que lhe é apresentada em forma de texto dirigido ou roteiros com descrição nos mínimos detalhes do que fazer.

Quando o aluno se sente apto a realizar a prova ou teste, ele se apresenta ao professor ou monitor, para a realização do mesmo. Após o teste, o professor ou o monitor, na presença do aluno, efetua a correção. Se o aluno é aprovado, ganha o roteiro seguinte e vai para casa ou biblioteca estudar. Podemos afirmar que o método Keller, é um estudo personalizado, onde o papel do professor é elaborar os roteiros e as provas ou testes.

1.1.3 Objetivos operacionais

Nos lembramos ainda dos planos de aula ou planos anuais, onde se tinha a necessidade de colocar, os objetivos bem definidos e com clareza , para que no final do ano o aluno tenha alcançado os mesmos. O objetivo necessariamente começava com verbo do tipo: Calcular a velocidade média...., Construir gráficos dos movimentos ..... . Para Skinner, os objetivos deverão ser claros e também deverão ser alcançados, para que o aluno possa progredir em seu estudos.

 

2 – TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOSTKY.

"L.S. Vygotsky ( 1896 – 1934) formou-se em direito, pela Universidade de Moscou em 1917, mas especializou-se , e foi professor, em literatura e psicologia. Mais tarde, interessou-se pela medicina fez o curso de medicina no Instituto Médico de Moscou. Morreu de tuberculose em 1934, aos 38 anos." (Moreira, 1999. p.110.)

Vygotsky enfoca a interação social, realizando experimentos, para tentar explicar como se processava o conhecimento, e afirma que entre o estímulo (E) e a resposta (R), havia um elo intermediário, um signo, formando a memória mediada, que é diferente da memória natural, que surge da influência direta dos estímulos externos sobre os seres humanos.

 

2.1 Instrumentos e Signos

É na interação social que a pessoa consegue um desenvolvimento cognitivo e a conversão de relações sociais, em funções mentais superiores, é mediada pelos instrumentos e signos.

2.1.1 Tipos de signos

"Um signo é algo que significa alguma coisa. Existem três tipos de signos:

Para uma criança aprender o que é uma laranja, alguém (interação social), deve pegar uma laranja e mostrar para essa criança. Após várias vezes ter visto o objeto laranja, a criança vai relacionar esse "signo laranja" com o que lhe foi apresentado e já não precisará mais do objeto real, para saber o que é uma laranja. Convém explicar, que quem inventou os signos foi o homem, para se relacionar ou se comunicar em sociedade. Para uma pessoa que não conhece a língua portuguesa, certamente o signo "laranja", não estará associado com a fruta laranja, como nós a conhecemos.

A linguagem falada, se usa de signos (nomes ou palavras) para denominar os mais variados objetos existente. Cada disciplina, possui os seu signos, que podem não ser, compartilhados pela grande maioria das pessoas. Como exemplo, podemos citar o significado de peso (falando cientificamente o peso é uma força) e na linguagem popular esta associado com a massa da pessoa.

Para Vygotsky a interação social é importante, pois uma pessoa sozinha não aprende a falar e também não aprende a se comunicar nas variadas linguagens existentes. A Física tem a sua linguagem, a química já tem outra linguagem ou signos. Em algum momento na vida da pessoa, alguém precisa informar o significado das coisas, para que se possa internalizar os mesmos e se comunicar nessa linguagem. Na teoria da interação social de Vygotsky, o professor deverá exercer esse papel, de interação, para que os alunos possam aprender a linguagem da física ou de outra disciplinas.

 

2.2 Zona de desenvolvimento proximal

Quando dominamos um assunto, somos capazes de resolver problemas ou versar sobre o assunto, independentemente, isto é, sem a ajuda de alguém. Ao passo que sobre um assunto, que não nos sentimos seguro, necessitamos da interação com alguém, para entendê-lo e ser capaz de dominar o mesmo.

O conhecimento que já está enraizado (aceito ou não cientificamente), pode ser chamado de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo, e o conhecimento que necessita de aprendizagem, se localiza na zona de desenvolvimento proximal. É na zona de desenvolvimento proximal, que acontecem as interações, para a construção do conhecimento ou da aprendizagem. Sendo, portanto, dinâmica e em constante mudança.

Para que haja a construção do conhecimento, o professor deverá ser capaz de se comunicar, dentro da zona de conhecimento proximal do aluno, para que este, possa formular seus novos conceitos, a partir dos conceitos já adquiridos, de alguma forma, anteriormente ao tempo em que está acontecendo a interação professor aluno.

 

3 – CONSTRUTOS PESSOAIS DE KELLY

"George Kelly, norte-americano nascido em 1905, fez graduação em Matemática e Física, mestrado em Sociologia Educacional e doutorado em Psicologia. Durante a maior parte de sua carreira foi professor de Psicologia na Ohio State Univerity". (Moreira. 1999. p.123.)

No nosso dia-a-dia já temos esquematizado o que vai acontecer em cada momento. Pode ser que haja algumas variações, mas o fato de levantarmos, tomar café, ir ao trabalho , almoçar ..... , já está determinado e isso nos deixa tranqüilo, pois sabemos ou prevemos na nossa mente que é isso que vai ocorrer. Kelly fala do "homem cientista" que busca prever e controlar eventos. O universo para Kelly é real e o homem está gradualmente compreendendo-o . Cada um procura representar o universo, ou parte dele, da sua maneira, construindo os seus construtos. Os construtos, não são fixos ou acabados, eles estão em constante mudança, a medida que novos construtos forem construidos ou velhos construtos modificados.

Segundo a teoria de Kelly, o professor já construiu o seus construtos dos conteúdos que vai trabalhar com os alunos. Os alunos, por sua vez, terão que construir os seus construtos, sobre estes conteúdos e certamente o farão de uma maneira diferente da feita pelo professor, e também cada aluno individualmente, contruirá um construto diferente.

O que Kelly chama de construtos, poderíamos definir de como imaginamos, de como damos significado para tal fato ou fenômeno. Se ensinamos o conceito de força, certamente teremos na cabeça de cada aluno, uma idéia de força, que pode estar relacionada com o conceito cientificamente aceito na Física ou não. No final da aula, sobre força, cada aluno, terá construído, da sua maneira, um conceito de força, isto é, terá o seu construto de força. Este construto de força estará perto do aceito pela Física, se o professor conseguiu interagir (Vygotsky) com o aluno. Mas o construto de força adquirido na primeira aula, pode a cada momento se modificado.

 

4 – A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICANTE DE ROGERS

"Rogers nasceu em Chicago em 1902. Em 1924, graduo-se em História pela Universidade de Chicago e, em 1931, doutorou-se em Psicologia Educacional no Teachers’s College da Universidade de Columbia, em Nova Iorque." (Moreira, 1999. p. 139.)

Rogers se situa numa abordagem humanística, que considera o aluno como pessoa e como um todo (pensamento, sentimento e corpo físico). O aluno é livre para tomar decisões sobre o que deseja aprender, da forma e do tempo que necessita para tal. O professor, na teoria de Rogers, deve ser um facilitador e um incentivador na aprendizagem do aluno. Assim como o aluno, o professor também é uma pessoa com sentimentos e problemas. A autenticidade do professor, é um requisito importante na escola de Rogers, isto é , o professor não pode apresentar um comportamento em sala de aula e outro fora da sala.

Um dos princípios de aprendizagem de Rogers, é que os seres humanos têm uma potencialidade natural para aprender. Se olharmos para as crianças em idade pré-escolar, verificamos que a vontade que demonstram em aprender coisas novas é muito grande, e que o desempenho e a vontade de ir para a escola, representa um momento de alegria e realização.

Toda mudança na organização do nosso meio ou daquilo que consideramos como sendo a verdade, traz-nos um desconforto e temos a tendência natural da resistência ao novo. No mundo de hoje, onde as mudanças acontecem a toda hora, a pessoa que consegue assimilar com uma rapidez maior as novas concepções, certamente terá uma facilidade maior na interação com o meio em que vive. Pela concepção de Rogers, o aluno precisa aprender a aprender, pois as mudanças ocorrem a toda hora, e aquilo que ele possa ter aprendido na escola não terá validade por muito tempo.

A escola baseada nas teorias de Rogers, oferecem grande resistência, em sua implantação, por parte dos pais e alunos. Numa escola rogeriana, não existe um currículo pré-determinado e o aluno, a princípio fica desnorteado quanto ao conteúdo ou assunto que queira trabalhar. Incomoda, por que não é o professor que determina o que se aprende e sim o aluno ou a turma que decidem quanto ao projeto de aprendizagem. Numa escola rogeriana, o aluno toma decisões, determina quando, como e o que vai aprender. A responsabilidade pela aprendizagem, não recai no professor e sim no próprio aluno.

5 – A TEORIA DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL

"Ausubel é professor Emérito da Universidade de Columbia, em Nova Iorque. É médico-psiquiatra de formação, mas dedicou sua carreira acadêmica à psicologia educacioanl. Ao aposentar-se, há vários anos, voltou à psiquiatria." (Moreira, 1999. p. 151)

Dentre os três tipos de aprendizagem: cognitiva, afetiva e psicomotor, Ausubel se ocupa primordialmente da cognitiva, ou seja, como a informação é armazenada ou processada na mente do ser. A sua teoria se baseia no conhecimento prévio, aquilo que o aluno já sabe ou trás na bagagem de conhecimentos adquiridos, anteriormente à data em que o ensino aprendizagem está acontecendo. Sua teoria é construtivista e o papel da interação professor aluno, sem dúvida é importante, para que, a partir dos subsunçores que o aluno possui, construir novos subsunçores ou modificar os velhos. A aprendizagem é dinâmica, pois ela é uma interação entre aluno e professor, a partir do conhecimento prévio que o aluno têm.

 

5.1 – Aprendizagem significativa

A aprendizagem é significativa quando, a partir do conhecimento prévio que o aluno trás, conseguir modificar o mesmo e, construir o conhecimento novo, incorporando-o a sua estrutura cognitiva.

Para que se consiga a aprendizagem significativa, uma condição básica é que o aluno tenha uma disposição para aprender e que o material de ensino (aula, textos, lâminas, ...) sejam potencialmente significativos. Quando falo em potencialmente significativos, quero dizer que não é qualquer aula que trás um ambiente para a aprendizagem significativa. Por outro lado, por mais atraente que seja o material didático, se o aluno não quiser aprender, não aprenderá.

 

5.2 – Papel do professor na facilitação da aprendizagem significativa.

O professor desempenha um papel importante segundo a abordagem ausebeliana e, suas principais funções são:

Em resumo, usando as palavras do Ausubel, escritas por Moreira: "...o fator, isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe; descubra isso e ensine-o de acordo" (Ausubel, 1968, p. 78 ,80).

 

6 – TEORIA DE EDUCAÇÃO DE NOVAK.

"Joseph D. Novak, professor da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, é co-autor da segunda edição do livro básico sobre teoria de aprendizagem significativa de David P. Ausubel". (Moreira 1999, p. 167)

Depois que Ausubel se aposentou, Novak está levando adiante a teoria de aprendizagem significativa. Para Novak, a educação é um conjunto de experiências (cognitivas, afetivas e psicomotoras, sendo que Ausubel valorizava mais o cognitivo) que fazem com a pessoa cresça e se desenvolva como um todo. Para Novak os seres humanos fazem três coisas: pensam, sentem e atuam. Logo uma teoria de educação para ele, precisa levar em conta a pessoa como um todo e não apenas o desenvolvimento cognitivo.

Os lugares (elementos), onde se desenvolve a educação para Novak são: aprendiz, professor, matéria de ensino (conhecimento), contexto e avaliação. A avaliação entra nos elementos de Novak, pois constantemente o processo de ensino precisa ser avaliado. Nesta avaliação entram todos os elementos inclusive o professor, para ver como está a sua prática e, se o seu material didático, está sendo potencialmente significativo.

No evento educativo (interação professor, aluno, conhecimento de uma maneira formal), implica uma ação para trocar significados e sentimentos entre professor e aluno. Essa troca de significados implica numa aprendizagem significativa por parte do aluno (supondo que o professor já tenha realizado isto antes), onde o professor apresenta significados aceitos ou compartilhados por uma comunidade de usuários, ou aceitos cientificamente e, o aluno constroi o seu significado, devolvendo-o para o professor, até que os dois estejam falando a mesma linguagem. O professor interage com o aluno (não só cognitivamente) e com ele troca signifcados.

 

 

III - O ENSINO DE FÍSICA NO DIA-A-DIA.

A Física, como disciplina do ensino médio, vem acompanhada da "fama" de ser uma disciplina, em que, a grande maioria dos alunos apresenta dificuldades. O que acontece, é que o ensino de Física, está voltado muito para a matemática ou fora do contexto do aluno. O fenômeno físico e os conceitos recebem uma atenção muito pequena. Como professores de Física, sentimos um desconforto ou insegurança, quanto aos conteúdos que realmente são relevantes de se trabalhar, pois sabemos que na grande maioria das escolas o número de horas é reduzido.

A formação do professor, é outro ponto importante para ser considerada no contexto da discussão. Para saber, qual é o conteúdo mais importante, precisamos ter um conhecimento, ou uma boa formação, ou seja, o professor precisa ter um conhecimento aprofundado na Física, que lhe permite distinguir entre um outro conteúdo e outro. Percebemos que vários colegas nossos não tem formação específica em Física e certamente não terão a visão para determinar os conteúdos mais significantes.

A educação em massa, com um grande número de alunos por sala de aula, certamente dificulta a interação professor aluno. As turmas são heterogêneas e o ambiente de aprendizagem (lugar – sala de aula) fica prejudicado com as conversas que não são pertinentes ao assunto trabalhado naquele momento. As aulas de Física, não estão sendo atraentes o suficiente, para manter a atenção do aluno e levar a uma conjugação, onde se possa crescer no conhecimento em Física.

As considerações sobre o dia-a-dia do professor e sua realidade na sala de aula, tem como objetivo, situar o leitor no contexto social ou na realidade das nossa escolas, em relação ao que está acontecendo com as aulas de Física. Posso afirmar, que este quadro se repete em outras disciplinas e o espaço para aprendizagem, de maneira formal na escola, está sendo alvo de discussões, novas alternativas e possíveis métodos de ensino.

 

 

IV - IMPLICAÇÕES DA TEORIAS NO ENSINO DE FÍSICA

Partindo do exposto no item anterior, verificamos que a missão de professor, exige um desempenho cada vez maior, para conseguir alcançar o indento da aprendizagem. Como ser humanos, temos uma tendência natural a nos acomodar numa situação, que nos é favorável, ou que não exija uma mudança brusca em nossas vidas.

A grande maioria dos professores, assim como eu, que hoje estão atuando nas escolas, tiveram uma formação mecânica onde o conteúdo nos era transmitido e, como alunos, éramos meros receptores e devolvedores de conteúdos aprendidos mecanicamente. Com o passar do tempo e com a experiência de sala de aula e por estudos, este conteúdo, não digo na sua totalidade, passou de uma aprendizagem mecânica para aprendizagem mais significativa e, é natural que, após trabalhar o mesmo conteúdo por vários anos conseguimos realmente entendê-lo. A aprendizagem mecânica, que ainda continua presente na sala de aula, não posso chamá-la de uma aprendizagem significativa. No entanto ela serviu, no meu caso, para passar nas provas e alcançar a graduação em Física. Certamente hoje ela está desempenhando papéis similares, pois a cultura da nota e do vestibular continua fortemente enraizada. Numa outra perspectiva, ainda se usa bastante a aprendizagem mecânica nas escolas, para manter a turma "atenta" e a ameaça da nota ou reprovação, "vai cair na prova"... "se tu não estudares, não vais passar"... Essa insegurança do professor ou sua incapacidade de "domínio de turma", acarreta num reforço da aprendizagem mecânica e, numa maior "segurança do professor".

Parece que é um vício ou mal de professor, reclamar e achar tudo muito difícil. Para poder mudar nossa maneira de dar aula, inserindo as teorias de aprendizagem na prática de sala de aula, precisamos conhecê-las, ou seja, temos que estudá-las. Para isso a leitura é imprescindível. A rotina diária, é a justificativa para não ler e também para não conhecer. Pois, o que não conhecemos, não pode nos inquietar.

As várias teorias de ensino, não estão presentes, na vida de educadores da grande maioria dos professores e as aulas geralmente são parecidas com as aulas recebidas nos cursos de formação. Como foi colocado no início, o professor não valoriza a parte pedagógica do ensino e quando pára para discutir o assunto, o faz de forma mecânica.

 

 

COMO INTRODUZIR AS TEORIAS NOS MÉTODOS DE ENSINO?

As mudanças, nos processos ou métodos de ensino não podem ser implantadas, como se fossem um decreto. A partir de hoje vai valer isto; ou a partir de hoje vamos seguir essa linha de pensamento teórico. A realidade escolar, nos tem mostrado que, toda mudança gera uma resistência muito grande, maior por parte dos professores do que por parte dos alunos.

Quando estudantes, recebíamos as orientações para fazer isto ou aquilo. Parece que está enraizado em nós, esta dependência de orientação e a necessidade de ter as regras claras e os passos que devemos seguir. Por isso um livro que apresenta "receitas prontas" ou dicas de como devemos organizar nos material didático para uma aula, consegue vender uma tiragem elevada. Não existem "receitas prontas" quando se trata de uma situação de ensino aprendizagem. O que existe é uma variedade de experiências individuais, que se adaptam bem a uma turma ou a uma escola e quando, levadas a uma outra realidade escolar, não "funcionam".

Precisamos ter a coragem de começar, tirando o medo do novo. As mudanças não precisam, nem devem ser radicais. A experimentação e a avaliação constante de uma prática, dirão se esta prática é válida ou não. A seguir, sugiro em forma de itens, algumas discussões que podem ser realizadas e que certamente, não implicam em seguir uma linha de pensamento.

 

 

 

 

 

V - CONCLUSÃO

Como o objetivo proposto foi apresentar algumas teorias existentes e possíveis implicações no ensino de Física, considero que o presente artigo está sendo útil para professores de Física que, assim com eu, estão preocupados com as suas práticas diárias e angustiados por não conseguirem atingir, com os seus alunos, os propósitos da disciplina que lecionam.

Convém lembrar, que uma teoria de aprendizagem, não é um método de ensino.. O que pode acontecer é uma mal interpretação das idéias dos autores e na sua aplicação em forma de um método de ensino, não dar os resultados esperados. Sabemos que no momento atual, o construtivismo está sendo bastante estudado, discutido e com várias propostas de ensino. No entanto, como existem vários autores que defendem o construtivismo, outros tentam mostrar o lado negativo do construtivismo ou são completamente contra.

Como já foi mencionado no presente artigo, tudo depende da sua utilização ou finalidade. Num curso de pré vestibular, o método mecânico de Skinner, dá uma resposta imediata. Se for uma turma pequena, onde a diversidade de interesses for grande, a proposta de Rogers pode ser uma opção. Num ensino de massa, com salas lotadas, o professor necessita de autoridade, não de autoritarismo para dar a sua aula. As propostas construtivistas, no meu ver, devem ser usadas para que a aprendizagem em Física, traga um valor social agregado.

Aquilo que foi aprendido significativamente, não quer dizer que, professor ou aluno não esqueçam. Tudo se esquece após um certo tempo e, mais ainda, se não trabalhamos no dia-a-dia com o que foi aprendido. Não podemos medir a aprendizagem significativa dos alunos, através da memória ou lembrança. Nesse sentido a prova, muitas vezes não consegue medir se o aluno aprendeu ou não. É questionável também a troca ou a formulação de uma questão completamente diferente da trabalhada em aula, assim como também é questionável a maneira ou forma com formulamos as questões de uma prova. A linguagem tem várias interpretações e pode ser que não consigamos transmitir aquilo que realmente queríamos transmitir. Acontece que em nossa mente, temos um pensamento e cada aluno formará um pensamento diferente daquilo que originalmente tínhamos em mente.

Não podemos ensinar Física, como um conhecimento absoluto. Com a evolução da ciência e tecnologia, o que foi verdade anos atrás, hoje pode não ser. As coisas não são o que são, elas são o que imaginamos que elas sejam e daqui a pouco, o que imaginávamos que fosse assim , será imaginado diferente. Nada é fixo e imutável. Estamos num mundo dinâmico e para isso o livro didático, está sempre atrasado, pois não consegue acompanhar a evolução da ciência.

Muita coisa bonita está sendo feita em relação ao ensino de Física e muitos professores estão realizando trabalhos excelentes. Não podemos ver apenas o lado negativo ou as coisas que não tão certo. Precisamos "reforçar" o que de positivo é feito no ensino de Física. As teorias de aprendizagem, podem nos ajudar a ter uma aula mais atrativa e onde o aluno e o professor se sintam bem. Pois se o ambiente favorece a interação, a aprendizagem sem dúvida será facilitada. Nas várias teorias de aprendizagem existente, vamos aproveitar o que elas podem nos ajudar em nossa metodologia de ensino, que será diferente para cada turma e também de um professor para outro professor. Para finalizar, gostaria de colocar um pensamento, que me surgiu à mente agora: "O ideal é uma meta a ser atingida. Se não conseguirmos atingir esta meta, vamos tentar chegar o mais perto possível".

 

VI – BIBLIOGRAFIA

MOREIRA Marco Antonio, Teorias de Aprendizagem (1999). Editora Pedagógica e Universitária Ltda (E.P.U.), São Paulo, Brasil. 195 p.

OSTERMANN Fernanda e MOREIRA Marco A, A Física na Formação de Professores do Ensino Fundamental (1999). Editora da Universidade – UFRGS, Porto Alegre, Brasil. 151 p.

MATHEWS Michel, Construtivismo e o Ensino de Ciências: Uma Avaliação, Cad. Cat. Ens. Fís., v. 17, n. 3: p. 270-294, dez. 2000.

LABURÚ Carlos E. e BATISTA Irinéa L. Controvérsias Construitivistas , Depto. de Física – UEL, Cad. Cat. Ens. Fís., v. 18, n. 2: p. 152-181, ago. 2001.

MOREIRA, M. A e OSTERMANN, F, Teorias construtivistas. Textos de apoio ao professor de Física nº 10, 1999. Grupo de Ensino instituto de Física, UFRGS.