O DESENVOLVIMENTO
DO CONHECIMENTO.
É muito importante, neste ponto, destacar o processo
de desenvolvimento do conhecimento. Os estudantes não podem ficar com a idéia
de que Aristóteles, cujo pensamento prevaleceu por dois mil anos, “estava
errado”, e que Galileu “descobriu a pólvora”. A obra aristotélica é um
monumento de lógica, e foi argumentando logicamente - e ,nesse sentido, aristotelicamente - que Galileu impôs sua revolução científica. Um
teste simples (Silveira et al.,1986, 1992) pode ser aplicado aos estudantes,
evidenciando o fato de muitos deles ainda terem um conceito pré-galileano do
movimento, no sentido de não conceberem, intuitivamente, o movimento sem ação
externa. [1]
O conhecimento da maneira como ele se apresenta hoje,
certamente já passou por várias discussões e reformulações. Todo conhecimento
adquirido precisa ser construído e essa construção parte de um conhecimento
prévio que formará a base para um novo saber mais aprofundado .
As idéias de Aristóteles sobre o movimento, que
prevaleceram por mais de dois mil anos, como sendo o conhecimento “verdadeiro”
sobre o movimento, ainda estão presente
no dia-a-dia do estudante, que possui a idéia de que, para ter movimento terá
que ter uma força. Faz-se necessário, ao se discutir ou introduzir as leis de
Newton[2]
uma discussão sobre as linhas de pensamento de Aristóteles e Galileu. Os
estudantes, praticamente na sua totalidade, com base em observações diárias,
(um objeto só sai do lugar, se alguém o tirar; se o motor do carro falhar, em
seguida o carro pára) relacionam o movimento com o pensamento de Aristóteles
(um corpo só está em movimento quando uma força resultante age sobre ele, na
direção e sentido do movimento). Para que o estudante possa construir um novo pensamento
sobre o movimento, se faz necessário uma aprendizagem significativa.[3]
Para que haja uma aprendizagem significativa sobre o
movimento, as idéias de Aristóteles não podem ser desprezadas na construção das
novas concepções sobre o movimento, que são apresentadas por Galileu. No
instante em que o estudante conseguir “desaprender”, ou perceber a linha de
pensamento de Aristóteles sobre o movimento, que se encontra muito enraizada
ainda hoje, e desenvolver as idéias de Galileu, a aprendizagem terá sido
efetiva e dificilmente será esquecida. Verifica-se que ao analisar livros de
ensino médio, que muitos professores adotam, esta concepção aristotélica nem
sempre aparece e o estudante começa o seu estudo sobre as leis de Newton, com
apenas uma previ menção das idéias de Galileu e parte-se diretamente ao estudo
das concepções de Newton, sobre o movimento. Parece-me que é importante
“perder” um tempo maior nas discussões filosóficas sobre o movimento, para
então estudar o movimento propriamente dito.
Assim como no estudo do movimento, o estudante trás para
a sala aula outras concepções contextualmente errôneas[4]
(Moreira 1990), que necessitam serem analisadas e a partir da concepção que o
estudante possui, construir o conhecimento científico, como sendo o “verdadeiro”.
A física, sendo uma disciplina, que está presente no dia-a-dia do estudante,
necessita que a teoria trazida por ele, seja discutida e partindo dessa
discussão formular ou não um novo conhecimento. O professor de física não pode,
deixar de levar em conta o conhecimento que o estudante possui a respeito de
determinado assunto, mesmo que o estudante não esteja falando na linguagem da
física[5].
O papel, do professor será o de
estimular a discussão sobre concepções do estudante e as concepções cientificamente
aceitas na disciplina, no caso a física.
O estudante trazer concepções
contextualmente errôneas de casa ou do meio
social em que vive é natural, tanto que as idéias de Aristóteles
perduraram por mais de dois mil anos, no entanto, o estudante adquirir essas
concepções contextualmete errôneas na sala de aula, não se pode admitir. O
professor de física não pode falhar neste sentido , pois cabe ao professor ser
uma referência, para a aprendizagem efetiva de conceitos em física. No seu
papel de professor de física, a parte
conceitual deverá ser tratada e aprofundada, para então aprofundar a parte de
equações e resolução de exercícios. Cabe ainda ao professor, resgatar a física
presente no fenômeno ou conteúdo que está sendo tratando, sua missão de ensinar
física não é fácil, e jamais pode pecar com conceitos e ensiná-los de forma
errônea.
O objetivo do texto, sobre o desenvolvimento do
conhecimento, foi o de trazer para análise, a nível de questionamento, o quão o
professor de física as vezes se distancia de sua responsabilidade de ensinar. O
conhecimento do passado, não pode ser tratado como algo que não tem valor,
assim como o conhecimento do estudante. O professor de física não pode deixar,
que um livro didático, “apenas um, de um
autor só” dite o que o estudante deva aprender e da forma como este conhecimento deva ser adquirido ou
modificado. O conhecimento se desenvolve de uma interação entre o professor e o
estudante, sendo o professor um questionador e um estimulador das práticas e
formas de aprendizagem.
[1] Parágrafo extraído do artigo “Comentários sobre o Curso Introdutório de Física na Universidade” (Scientia v. 8 n.1,1997 p. 85-90) do professor Paulo Machado Mors – Mestre em Física e Doutor em Ciências pela UFRGS.
[2] Primeira lei de Newton fala sobre a Inércia, a segunda lei de Newton fala da força e aceleração e a terceira lei de Newton fala das forças de ação e reação.
[3] Segundo (Morreira 1999) a aprendizagem é dita significativa quando uma nova informação adquire significado para o aprendiz. Na aprendizagem significativa há uma interação entre o novo conhecimento e o já existente, na qual ambos se modificam.
[4] Concepções contextualmente errôneas são concepções não aceitas cientificamente como sendo verdadeiras , que são espontâneas ou que não foram formalmente ensinadas na escola
[5] O estudante que se expressa na linguagem da física, conhece a teoria da física envolvida e escreve seus resultados de acordo com a mesma.